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Ativista russo condenado a dois anos de prisão por criticar guerra na Ucrânia

Andreia Antunes
Andreia Antunes 27 de fevereiro de 2024 às 20:15
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Oleg Orlov foi condenado ao abrigo de leis aprovadas pouco após o início da invasão à Ucrânia, que preveem penas de prisão a todos os que fossem considerados culpados de desacreditar as forças armadas russas.

Oleg Orlov, ativista dos direitos humanos, foi condenado esta terça-feira pelo tribunal de Moscovo a dois anos e meio de prisão, após ter sido considerado culpado de "desacreditar as forças armadas russas", ao protestar contra a guerra na Ucrânia.

REUTERS/Tatyana Makeyeva

O ativista, líder do grupo dos direitos Memorial, uma das instituições galardoadas com o Nobel da Paz em 2022, foi acusado depois de ter participado em manifestações contra a guerra e de ter escrito um artigo intitulado como Eles queriam o fascismo. Conseguiram-no. Segundo a acusação, o ativista demonstrou "ódio político à Rússia".

"O veredicto mostrou que o meu artigo era exato e verdadeiro", disse Oleg Orlov após a sentença, enquanto era aplaudido pelos seus apoiantes no tribunal, incluindo representantes de embaixadas ocidentais.

Durante a audiência, na segunda-feira, dia 26, como forma de protesto, Oleg Orlov limitou-se a ler o livro O Processo de Franz Kafka – livro sobre o absurdo da vida e da injustiça -, ao qual se referiu como tendo "algumas coisas em comum" com a sua situação, um "absurdo e tirania disfarçados de adesão formal a alguns procedimentos pseudo-legais".

No seu discurso de encerramento do julgamento, lamentou o "estrangulamento da liberdade" no país, ao qual se referiu como uma "distopia", acrescentando que a Rússia se está a "afundar cada vez mais nas trevas".

"Sabemos a verdadeira razão pela qual estamos a ser detidos, julgados, presos, condenados e mortos", disse. "Estamos a ser punidos por nos atrevermos a criticar as autoridades. Na Rússia atual, isso é absolutamente proibido."

Dirigindo-se ao juiz e ao procurador, acrescentou: "Não vos ocorre o óbvio? Mais cedo ou mais tarde, a máquina da repressão pode vir a cair sobre aqueles que a lançaram e a fizeram avançar? Foi o que aconteceu muitas vezes ao longo da história."

O ativista foi condenado ao abrigo de leis aprovadas pouco após o início da invasão à Ucrânia, que preveem penas de prisão a todos os que fossem considerados culpado de desacreditar as forças armadas russas ou de divulgar informações falsas sobre as mesmas.

Oleg Orlov é um ativista dos direitos humanos. Fundou, em 1989, o Memorial, que tem vindo a defender a liberdade de expressão e documentado as violações dos direitos humanos desde a época do líder da União Soviética Josef Estaline até aos dias atuais. No entanto, o grupo foi designado como "agente estrangeiro", tendo sido proibido e dissolvido pelo governo russo em 2021.

O Memorial declarou em comunicado que "a sentença contra Oleg Orlov é uma tentativa de abafar a voz do movimento dos direitos humanos na Rússia e qualquer crítica ao Estado", acrescentando que vão continuar o seu trabalho.

Oleg Orlov foi inicialmente multado em 150 mil rublos (1.500 euros) por um tribunal distrital em 2023. No entanto, foi ordenado um novo julgamento após o mesmo ter recorrido da multa e os procuradores terem pedido uma pena de prisão.

Este ativista não é o primeiro crítico do governo russo a ver uma multa transformada em pena de prisão. No ano passado, o sociólogo Boris Kagarlitsky foi considerado culpado de "justificação pública do terrorismo" pelos comentários que fez sobre o ataque à ponte da Crimeia, em 2022, tendo sido condenado a uma pena de prisão de cinco anos.

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