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As reações às tarifas de Trump. "É uma catástrofe para o mundo económico", garante Macron

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 03 de abril de 2025 às 10:39
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Ursula von der Leyen garante que a União Europeia vai ter um "plano forte" para retaliar contra as tarifas dos Estados Unidos, mas considera que o relacionamento entre os dois blocos deve "passar do confronto para a negociação".  

Depois de Donald Trump ter anunciado aimposição de "tarifas recíprocas" globais, e ter taxado os produtos provenientes da União Europeia em 20%, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que existe um "plano forte" para retaliar contra os Estados Unidos. No entanto, não deu pormenores sobre como é que a UE deve reagir à guerra comercial e partilhou que espera que o relacionamento entre os os dois blocos possa "passar do confronto para a negociação".  

AP Photo/Mark Schiefelbein

O chefe do comité de comércio internacional do Parlamento Europeu, Bernad Lange, já garantiu que a UE vai responder de "forma legítima, proporcional e decisiva" às tarifas comerciais. O parlamentar referiu que pode ser acionado o instrumento anti-coerção, que entrou em vigor em 2023 e possibilita que a UE imponha sanções comerciais contra governos estrangeiros que usam o comércio para tentar intimidar os estados-membros a mudar políticas internas, no entanto considerou que este seria o "último recurso".  

"Uma catástrofe para o mundo económico", garante Macron

Ainda assim, os estados-membros estão também a reagir individualmente e o presidente francês, Emmanuel Macron, já convocou uma reunião de emergência com os setores mais afetados pelas tarifas para a tarde desta quinta-feira.  

"Esta decisão é uma catástrofe para o mundo económico. É uma dificuldade imensa para a Europa. Penso que uma catástrofe para os Estados Unidos e para os cidadãos norte-americanos", defendeu Macron esta manhã. Também o primeiro-ministro francês considerou que as tarifas são "uma catástrofe" e que vão criar "uma enorme dificuldade para a Europa".  

"Fundamentalmente errada" para os alemães que podem perder quase um terço do valor das exportações automóveis 

O chanceler alemão, Olaf Scholz, considerou a decisão de Trump "fundamentalmente errada" e "um ataque a um sistema comercial que criou prosperidade em todo o mundo, o que é uma conquista americana". O alemão considera que "as decisões mal pensadas" vão ter impacto em todos os países, incluindo os Estados Unidos.  

O jornal económico alemão Handelsbatt publicou esta quinta-feira uma estimativa que refere que as tarifas norte-americanas sob as importações de automóveis, que neste caso sobem para 25%, podem custar à BMW, Mercedes e Volkswagen até 11 mil milhões de euros. Este valor é quase um terço do valor total das exportações totais de automóveis alemães para os EUA, de 36,8 mil milhões de euros.

A Federação Alemã de Empresas (BDI) denunciou as tarifas como um "ataque sem precedentes" ao comércio global. Em comunicado alertou que "a economia europeia não se deve tornar um brinquedo de interesses geopolíticos".  

"A justificativa para essa escalada protecionista é incompreensível, ameaça as nossas empresas voltadas para a exportação e coloca em risco a prosperidade, estabilidade, os empregos, a inovação e o investimento em todo o mundo. A União Europeia só pode agir como uma frente unida. Isso se aplica aos 27 estados-membros, bem como a todos os setores", pedem. 

Meloni vai "fazer tudo o que puder" para conseguir "um acordo com os EUA"

A primeira-ministra italiana cancelou toda a sua agenda para esta quinta-feira de a forma a conseguir concentrar-se na resposta às tarifas norte-americanas. Ainda no final do dia de ontem, Giorgia Meloni tinha prometido "fazer tudo o que puder para trabalhar em direção a um acordo com os Estados Unidos, com o objetivo de evitar uma guerra comercial que inevitavelmente enfraqueceria o Ocidente em favor de outros atores globais".  

Meloni é vista como uma peça-chave para na relação entre a União Europeia e a administração Trump, além de ter sido a única líder europeia a marcar presença na tomada de posse em janeiro é conhecida por manter uma relação próxima com o republicano e com Elon Musk, outra peça fundamental desta administração.  

Grécia posiciona-se "a favor do comércio livre" 

O ministro das Finanças grego, Kyriakos Pierrakakis, considerou que as tarifas são uma mudança do comércio mundial rumo ao protecionismo e um desvio da forma como a União Europeia vê o progresso económico e social. 

"Como país somos a favor do livre comércio. Esperamos que este capítulo dure o menos possível", referiu à Reuters.  

Reino Unido quer "cabeça fria e calma"

Não foi por já não ser parte da União Europeia que o Reino Unido conseguiu fugir às tarifas, no entanto as importações ficam sujeitas a uma taxa menor, de apenas 10%.

Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, já falou com os líderes empresariais e admitiu que "claramente haverá um impacto económico", no entanto garantiu que o governo vai reagir de "cabeça fria e calma".

Quanto à resposta britânica ainda "nada está fora de questão", mas qualquer decisão vai ser "guiada apenas pelo interesse nacional": "Este Governo fará tudo o que for necessário para defender o interesse nacional do Reino Unido, tudo o que for necessário para fornecer a base de segurança que os trabalhadores precisam para seguir com suas vidas".

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