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ONU defende "pressão diplomática e económica" para travar violações humanitárias em Gaza

Lusa 05 de abril de 2024 às 21:16

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o diretor da Divisão de Coordenação do OCHA sugeriu aos Estados-membros que condicionem as exportações de armas ao cumprimento das regras de guerra e à cooperação no combate à impunidade.

O Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) defendeu esta sexta-feira que todos os Estados-membros "podem e devem" usar a sua influência, "através de pressão diplomática e económica", para travar violações do direito humanitário internacional em Gaza.

REUTERS/Denis Balibouse

Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação em Gaza, o diretor da Divisão de Coordenação do OCHA, Ramesh Rajasingham, sugeriu aos Estados-membros da ONU, além da pressão diplomática e económica, que condicionem as exportações de armas ao cumprimento das regras de guerra e à cooperação no combate à impunidade.

Referindo-se ao enorme impacto desta guerra junto do trabalho humanitário, com mais de 220 trabalhadores humanitários mortos e destes 179 funcionários da ONU, Rajasingham chamou atenção para o recente ataque à organização World Central Kitchen, que esta semana viu sete dos seus membros mortos num ataque israelita.

Esses trabalhadores, que foram descritos pela ONU como "corajosos e altruístas", acabaram mortos após terem descarregado mais de 100 toneladas de produtos essenciais para salvar vidas em Gaza, e apesar de terem informado o exército israelita sobre os seus movimentos.

"Infelizmente, não podemos dizer que este trágico ataque foi um incidente isolado neste conflito. (...) Faço eco das profundas preocupações do secretário-geral sobre as claras violações do direito humanitário internacional que estamos a testemunhar. As alegações de violações graves devem ser investigadas e os suspeitos processados", defendeu Rajasingham.

O representante do OCHA recordou que a inegável falta de proteção das missões humanitárias em Gaza levou algumas organizações a suspenderem as suas operações, resultando em mais "uma tragédia para o povo de Gaza", quando o enclave atravessa uma crise de insegurança alimentar sem precedentes.

"Acredita-se que pelo menos 31 pessoas, incluindo 28 crianças, morreram de fome nas últimas semanas", declarou.

De acordo com Rajasingham, a fome e a situação humanitária catastrófica em Gaza só poderá ser resolvida se todas as organizações humanitárias tiverem acesso seguro, rápido e desimpedido a todos os civis necessitados.

Na reunião de hoje do Conselho de Segurança, também a presidente da organização não-governamental (ONG) Save the Children EUA, Janti Soeripto, falou perante o corpo diplomático, apresentando detalhes do impacto desta guerra junto das crianças.

De acordo com Soeripto, 14 mil crianças foram violentamente mortas neste conflito, e milhares continuam desaparecidas, presumivelmente enterradas sob os escombros.

"Se eu me sentasse aqui e lesse o nome e a idade de cada criança israelita e palestiniana que morreu no dia 7 de outubro e depois dessa data, levaria mais de 18 horas. Mais crianças foram mortas neste conflito do que em todos os conflitos armados em todo o mundo nos últimos quatro anos", frisou a representante da ONG.

"As crianças não são adultos pequenos. Têm um estatuto especial em conflito, vulnerabilidades específicas e um conjunto adicional de direitos que lhes são concedidos e obrigações distintas que lhes são devidas. Elas devem ser protegidas", reforçou, num discurso momentaneamente interrompido por um sismo que sacudiu Nova Iorque na manhã de hoje e sentido da sede da ONU.

Fazendo uma descrição da viagem que fez a Gaza na semana passada, Janti Soeripto indicou que uma das situações que mais a impressionou foi a quantidade de crianças descalças, a correr desesperadamente sobre vidros, escombros e detritos, em busca de comida e água.

"Estavam visivelmente desnutridas. Trezentas e cinquenta mil crianças com menos de cinco anos correm o risco de morrer de fome enquanto aqui nos reunimos. O mundo observa esta fome provocada pelo homem", apontou.

Com todas as partes em conflito a "violar flagrantemente as regras da guerra e o direito humanitário internacional, com zero responsabilização, com as nações poderosas a recusarem-se a usar as ‘alavancas’ de influência à sua disposição", o "próximo conjunto de mortes em massa de crianças em Gaza não será por causa de balas e bombas, será por fome e desnutrição", se não houver uma mudança de rumo, frisou Soeripto.

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