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Israel vai ocupar Cidade de Gaza e faz aumentar preocupações com civis e reféns

Débora Calheiros Lourenço 08 de agosto de 2025 às 18:14

Telavive controla já cerca de 75% de Gaza e a Cidade de Gaza tem servido de refúgio para grande parte da população.

Israel anunciou esta sexta-feira que está a planear ocupar a Cidade de Gaza, a maior área urbana do enclave que tem sido amplamente devastado pelos ataques israelitas.  
Tanques de Israel posicionados perto da Cidade de Gaza durante o conflito AP Photo/Ohad Zwigenberg
A Cidade de Gaza é uma das poucas áreas onde os civis ainda não estão sob ordens de evacuação e onde, por isso, também se tem concentrado grande parte da população. É esperado que o novo plano de Israel leve ainda mais pessoas a abandonar as suas casas, em deslocamentos em massa, e piore o já muito difícil acesso às distribuições de alimentos.   O Conselho de Segurança israelita esteve reunido na quinta-feira e aprovou, na madrugada desta sexta-feira, um plano para ocupar a Cidade de Gaza. No entanto até ao momento foram avançados poucos detalhes sobre a operação e ainda não está claro quando vai começar. Antes disso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu partilhou que tinha planos mais abrangentes para controlar toda a Faixa de Gaza temporariamente até acabar com o Hamas. Porém parece que esse plano não vai avançar pelo menos, para já.   Atualmente Israel já controla cerca de 75% de Gaza, com a maior parte da população a concentrar-se na Cidade de Gaza, na cidade de Deir al-Balah ou nos campos de refugiados ao longo da costa.  Nas últimas semanas o número de aliados a pressionarem o governo de Netanyahu para pôr fim à guerra tem aumentado, com Inglaterra e França a admitirem o reconhecimento do Esatdo da Palestina, num sinal de que Telavive está cada vez mais isolado internacionalmente. E até dentro de Israel há sinais de mal-estar com as famílias dos cerca de vinte reféns que ainda estão vivos, membros da oposição e do setor de segurança, como o chefe do Estado-maior Militar Eyal Zamir, contra o novo plano por considerarem que há pouco a ganhar militarmente. A população israelita, além de preocupada com os reféns feitos pelo Hamas no 7 de Outubro de 2023, tem-se mostrado contra a presença de mais soldados no enclave porque têm existido também muitas mortes. Na semana passada, o Hamas divulgou vídeos de dois reféns desnutridos afirmando que estes estavam a passar pela mesma fome que o resto da população palestiniana, o que fez soar os alarmes em Israel. E a entrada na Cidade de Gaza pode representar um maior risco para os reféns porque se acredita que é em túneis naquela região que estão a ser mantidos e o grupo terrorista já afirmou que os pode matar caso as forças israelitas se aproximem. O líder das Forças de Defesa israelitas já alertou que um plano para controlar toda a Faixa de Gaza, como Netanyahu e os seus aliados defenderam, pode colocar os reféns em perigo e aumentar a pressão sobre o exército. Já o presidente do Fórum de Defesa e Segurança de Israel, Amir Avivi, estimou que para controlar a Cidade de Gaza vão ser precisos pelo menos três meses e cerca de 30 mil soldados.  Esta não vai ser a primeira vez que Israel ataca a Cidade de Gaza. Poucas semanas depois do ataque do Hamas ao sul de Israel, a capital do enclave foi bombardeada repetidamente e vários bairros e infraestruturas ficaram quase completamente destruídos. Antes da mais recente guerra entre Israel e o Hamas era a cidade mais populosa, sendo casa para cerca de 700 mil pessoas, mas centenas de milhares fugiram devido às ordens de evacuação de 2023. Muitos acabaram por regressar durante as tréguas do início deste ano, não sendo neste momento conhecido o número de pessoas que vive na cidade.  

Aumenta, mais uma vez, a pressão internacional 

Depois de Israel ter anunciado que vai ocupar a Cidade de Gaza, muitas foram as reações internacionais, algumas por parte de aliados históricos.   O Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita condenou o que considerou como “fome, práticas brutais e limpeza ética” de Israel contra os palestinianos e o primeiro-ministro do Paquistão condenou a “ocupação prolongada e ilegal do território palestiniano” por parte de Israel e defendeu que é impossível a paz enquanto a ocupação militar persistir.   Numa reação que pode ter mais impacto, Friedrich Merz disse que a Alemanha não autorizará mais nenhuma exportação de equipamento militar para Israel “até novo aviso”, uma vez que considera que existe o risco de este ser usado em Gaza. Ainda assim o chanceler alemão reiterou que Israel “tem o direito de se defender contra o terror do Hamas”, que não deve ter nenhum papel no futuro de Gaza. “A ação militar ainda mais dura do exército israelita na Faixa de Gaza, aprovada pelo Gabinete israelita ontem à noite, torna cada vez mais difícil para o governo alemão ver como os objetivos serão alcançados”, concluiu.   Já o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, pediu que Israel reconsiderasse a sua decisão uma vez que não acredita que a expansão da ofensiva ajude a garantir a libertação dos reféns: “A nossa mensagem é clara: uma solução diplomática é possível, mas ambas as partes devem afastar-se do caminho da destruição”, defendeu.   Também a ONU, a União Europeia, pela voz de Ursula von der Leyen, e Portugal condenaram a decisão de Netanyahu. O Governo português afirmou estar “profundamente preocupado” com a decisão que “põe em causa os esforços para o cessar-fogo e agrava a tragédia humanitária”. 

Mais um esforço para o cessar-fogo 

Os mediadores do Egito e do Qatar estão a trabalhar numa nova proposta de cessar-fogo que incluirá a libertação de todos os reféns, os vivos e os mortos, de uma só vez em troca do fim da guerra e da retirada das forças israelitas da Faixa de Gaza, afirmaram duas autoridades árabes à Associated Press.   A administração de Gaza ficaria ao encargo de um comité palestino-árabe que seria responsável por supervisionar os esforços de reconstrução até que fosse estabelecida uma administração palestiniana com uma força policial treinada pelos Estados Unidos e outra força aliada no Médio Oriente.  A ofensiva israelita já matou mais de 61 mil palestinianos, segundo os dados do Ministério da Saúde de Gaza que não esclarece quantos desses eram civis. O ministério faz parte do atual governo do Hamas, ainda assim a ONU tem considerado estes números como a estimativa mais confiável sobre as baixas causadas pela guerra. Já Israel contesta os dados, mas não fornece outros.   A 7 de outubro de 2023 militantes liderados pelo Hamas entraram em Israel e mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, outras 251 foram levadas para a Faixa de Gaza e feitas reféns. A maioria já foi libertada (entre corpos recuperados e reféns vivos) durante os acordos de tréguas feitos pelas duas partes, mas ainda se encontram dentro do enclave 50 pessoas, vinte das quais Israel acredita que estejam vivas.
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