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“É uma piada” ou honra “o espírito de liberdade”? Reações ao Prémio Nobel da Paz

Jornal de Negócios 10 de outubro de 2025 às 12:53

A escolha de María Corina Machado para Nobel da Paz deste ano já gerou reações internacionais. Sem comentários de Donald Trump, a Casa Branca acusa o comité de escolha política.

O anúncio do Prémio Nobel da Paz de 2025, entregue a María Corina Machado, líder da oposição venezuelana, já gerou reações internacionais e expôs o peso da escolha do comité norueguês. A distinção reconhece “a incansável luta pela defesa dos direitos democráticos do povo da Venezuela e pela transição pacífica do país da ditadura para a democracia”, segundo o Comité Nobel.
María Corina Machado recebe Nobel da Paz, um reconhecimento à luta pela democracia na Venezuela
María Corina Machado, de 58 anos, vive em regime de clandestinidade devido às ameaças do governo de Nicolás Maduro. Impedida de concorrer às presidenciais de 2024, manteve-se no país e apoiou Edmundo González, que mais tarde seria forçado ao exílio. Num vídeo divulgado pela sua equipa, Machado afirmou estar “em choque” e declarou que o prémio pertence “a todo um movimento pela liberdade na Venezuela”. González saudou “o primeiro Nobel da Venezuela” como “um reconhecimento justo à luta de uma mulher e de um povo inteiro pela democracia”. Na Europa, as reações foram imediatas. No X, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, felicitou Machado pela “incansável luta pela justiça e pelos direitos humanos”, enquanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o prémio “honra não apenas a sua coragem, mas todas as vozes que se recusam a ser silenciadas”, acrescentando que “o espírito de liberdade não pode ser enjaulado”. No entanto, as atenções estão focadas mais a ocidente. Nos Estados Unidos, o anúncio foi recebido num contexto politicamente sensível. Embora o presidente Donald Trump não tenha ainda reagido oficialmente, o tema rapidamente ganhou espaço entre os seus apoiantes. No X, Steven Cheung, diretor de comunicação da Casa Branca, afirmou que o Comité Nobel “mostrou que põe a política acima da paz” e assegurou que o presidente “continuará a fazer acordos de paz, a encerrar guerras e a salvar vidas”, dado o seu “coração humanitário”.
Nas redes sociais associadas ao movimento Make America Great Again (MAGA), multiplicaram-se mensagens a questionar a escolha de Machado, com utilizadores a minimizar a importância da distinção e a sugerir que o prémio “deveria ter sido entregue a Trump” pelo seu papel nas negociações no Médio Oriente. Na conta do MAGA Voice no X, lê-se: “O prémio Nobel é uma piada. Qualquer pessoa com cérebro reconhece que Donald Trump deveria ter ganho. Trump poderia curar o cancro. É uma piada”, para além de se referirem a Machado como “uma pessoa aleatória que ninguém conhece”.
Questionado sobre as pressões públicas em torno do nome de Trump, o presidente do Comité Nobel, Jorgen Watne Frydnes, respondeu de forma direta: “A decisão foi tomada apenas com base no trabalho e na vontade de Alfred Nobel”. E acrescentou que “o comité sempre procurou honrar homens e mulheres que se opuseram à repressão e demonstraram que a resistência pacífica pode mudar o mundo”. , a deliberação final do comité foi concluída antes da assinatura do , mediado por Washington, o que reduz o peso de qualquer especulação sobre o papel da diplomacia americana na escolha deste ano. A Bloomberg descreveu o episódio como “um momento de desconforto político em Washington”, observando que o nome de Trump continua a pairar sobre o debate público em torno do Nobel da Paz. Entre os analistas, há consenso de que a atribuição do Nobel à líder venezuelana, embora possa ser politicamente desconfortável para alguns sectores da direita norte-americana, está em linha com as prioridades históricas da política externa dos Estados Unidos, nomeadamente o apoio à oposição democrática na Venezuela. Halvard Leira, investigador do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais, afirmou que “este é um prémio atribuído a uma causa que Washington tem apoiado fortemente há anos”, acrescentando que “seria difícil interpretá-lo como um gesto contra Trump”. O prémio concedido a Machado, a primeira venezuelana e a sexta latino-americana a receber o Nobel da Paz, foi igualmente saudado pelas Nações Unidas, que o descreveram como “um reconhecimento das aspirações do povo venezuelano por eleições livres e justas”. Em Caracas, a notícia gerou celebrações entre apoiantes da oposição, que viram na distinção um sinal de legitimidade internacional. Já em Washington, a ausência de uma reação direta de Trump não impediu que o tema se tornasse parte do debate político.
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