Da quarta descida consecutiva do IRS à timidez no "imposto mais estúpido do mundo", passando por aumentos salariais - e pelo otimismo na economia. As linhas essenciais da proposta de Orçamento do Estado para 2026, apresentada pelo Governo.
Na proposta de Orçamento do Estado para 2026, o Governo explica onde e como pretende gastar mais de 142 mil milhões de euros financiados pelos impostos, taxas e contribuições cobradas aos contribuintes. O documento é globalmente "simpático" - ou seja, contém medidas de aumento de rendimentos -, embora a expressão das medidas novas seja muito curta. Confira abaixo as linhas essenciais.
Orçamento do Estado para 2026Miguel Baltazar/Jornal de Negócios
1.
IRS desce pelo quarto ano consecutivo
O OE/26 traz o sexto alívio nas taxas do IRS na última
década – e a quarta redução consecutiva se contarmos a partir de 2023. O
Governo vai baixar as taxas marginais entre o 2º e o 5º escalões (ou seja, para
rendimentos que resultam em matéria coletável entre 8.342 euros e 29.397 euros).
A cobrança de IRS funciona com taxas marginais, por patamares de rendimento, o
que significa que quem ganha mais também será beneficiado (porque é menos
taxado nas fatias inferiores do seu rendimento). Em cima disto, os escalões de
IRS serão atualizados em 3,51% (relevante para casos de aumentos de salários em
2026).
As simulações da consultora Deloitte sugerem efeitos benéficos
tendencialmente ligeiros no rendimento líquido de quem paga IRS (pouco mais de
metade das famílias ou pessoas declaram rendimentos suficientes para pagar este
imposto). Um solteiro com um salário mensal de 1.500 verá um alívio anual de 82
euros, que sobe para 204 euros se o rendimento anual for de 3.000 euros.
Para um casal sem filhos que declare 42 mil euros brutos
anuais, a descida das taxas pode resultar num alívio anual até 163 euros,
estima a Deloitte na sua simulação – se o mesmo casal ganhar 70 mil por ano, o
alívio é de 485 euros (o mesmo se tiver filhos dependentes). Se parecer pouco, e
é, pense no acumular de pequenas descidas ao longo dos últimos anos – o efeito
global não será assim tão pequeno.
2.
Não é pelo imposto que os combustíveis vão
aumentar (ou baixar)
O Governo tem andado a resistir à pressão da Comissão
Europeia para acabar com o apoio no Imposto sobre Produtos Petrolíferos, criado
para mitigar o aumento dos preços na sequência da invasão russa da Ucrânia em
2022 (Bruxelas argumenta que é um incentivo ao consumo e produção de
combustíveis fósseis). Agora, o ministro das Finanças, Miranda Sarmento, avança
que só retirará o apoio quando o preço da matéria-prima, o petróleo, baixar.
Alternativamente, o ministro indicou na apresentação da
proposta de Orçamento que a sua equipa está a pensar numa forma de compensar
por completo a retirada do apoio, para que esta tenha um efeito neutro. O
desconto atual no ISP – que tem vindo a ser gradualmente alterado – é de 13,2
cêntimos por litro na gasolina e 11,7 cêntimos no gasóleo.
3.
Zero contributo no “imposto mais estúpido
do mundo”
Foi António Guterres que chamou a SISA, o antepassado do
Imposto sobre a Transação de Imóveis (IMT), o “imposto mais estúpido do mundo”,
um termo que vários fiscalistas e alguns políticos têm repetido ao longo dos
anos. Nos anos anteriores, o Governo tem atualizado à taxa de inflação o limiar
do preço até ao qual quem compra casa não paga IMT – um alívio ténue tendo em
conta que os preços na habitação sobem bem acima da inflação. Este ano,
contudo, nem isso: o valor da isenção é atualizado em apenas 2%, abaixo da taxa
média de inflação prevista para 2026 (2,15%). Ficarão isentas de IMT as compras
de casa para habitação própria e permanente com um valor até 106.346 euros.
4.
Função Pública: salários protegidos da
inflação
A proposta do Governo inclui um aumento de 2,15% (ou, no
mínimo, de 56,58 euros) para os salários da Função Pública no próximo ano – a variação
é igual à taxa média de inflação previsto pelo Ministério das Finanças, ou
seja, a ideia é proteger os salários da erosão média da subida dos preços. Adicionalmente
haverá mais verbas, entre 116 milhões para o aumento do salário mínimo no Estado
(que sobe 6,4%, para 934,99 euros) e 262 milhões para acordos salariais sobre
carreiras especiais, além do dinheiro para progressões e promoções.
5.
Pensões: atualizações e uma promessa
difícil de cumprir
Nas pensões, a novidade até aqui é escassa: serão
atualizadas de acordo com a taxa de inflação (mais uns pós, consoante os casos)
como manda a lei (em novembro saber-se-á quais os valores do aumento). Haverá ainda
um reforço de 40 euros mensais no Complemento Solidário para Idosos. Este ano e
em 2024 houve margem orçamental para o Governo gastar mais de 400 milhões de
euros brutos em cada ano num suplemento extraordinário para os reformados com
pensões até 1.500 euros. Essa promessa mantém-se para 2026, caso haja margem – essa
margem, contudo, parece nesta altura difícil de encontrar (veja o bloco 7).
6.
Governo otimista sobre a economia e o emprego
O Orçamento começa por ser desenhado a partir das previsões
para a economia e o emprego – é daqui que nascem as previsões para a evolução
da receita fiscal e das contribuições para a Segurança Social. É com base
nessas previsões que o Ministério das Finanças percebe até onde deve ir na
despesa pública de modo a não ter um défice (Portugal tem conseguido registar
excedentes desde 2023 e tem baixado o nível da dívida pública; em 2026 deverá
ficar em 88% do PIB, o registo mais baixo desde 2009).
Para 2026, o Ministério das Finanças prevê um crescimento da
economia de 2,3%, o que está acima (em alguns casos apenas marginalmente acima)
das previsões de todas as instituições. O ritmo do crescimento da criação de
emprego deverá travar, mas a taxa de desemprego continuará na casa dos 6%. Há
vários riscos globais sobre este cenário, mas para já a previsão é de mais um
ano de crescimento moderado, sem tempestade.
7.
0,1%: a importância de ser excedente
O ministro Miranda Sarmento reafirmou o seu compromisso com o
equilíbrio das contas e um excedente pequeno – é mesmo pequeno, 0,1% do PIB. O
ministro tem instrumentos de salvaguarda, entre cativações e reservas
orçamentais. Outra possibilidade é a não execução como esperado dos
investimentos com verbas do PRR (que, numa das vertentes, têm uma contrapartida
nacional que entra no cálculo do saldo orçamental – o ministro afirma que não é
esse o plano).
Esta margem curta explica que as medidas adicionais neste
Orçamento sejam escassas – algumas das alterações elencadas acima resultam de
acordos feitos em anos anteriores – e que este seja um plano orçamental exigente
para quem afirma querer um excedente. Um défice ligeiro no final de 2026 não
seria uma tragédia por si só – mas não deixaria de ser um sinal negativo para
dentro e para fora, numa altura em que há uma economia a favor. A altura para
esse mau sinal seria também particularmente má, dado o aumento do nervosismo no
mercado de dívida soberana com os problema de França e a subida global do
endividamento público.
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