Sábado – Pense por si

"Não há lesados do BES", diz antigo administrador

Rui Silveira afirmou em tribunal que foram deixadas provisões pelo banco para que fossem reembolsados todos os clientes

Rui Silveira, o antigo administrador do Banco Espírito Santo (BES), disse esta segunda-feira em tribunal que "não há lesados do BES" porque foram deixadas provisões pelo banco para que fossem reembolsados todos os clientes.

Rui Silveira, eleito administrador com o pelouro jurídico em 2000, era o advogado que coordenava o Departamento Jurídico do BES e que assessorava o Conselho de Administração entre 1992 e 2000. O ex-administrador "depôs hoje como testemunha arrolada por Ricardo Salgado na contestação da contra-ordenação aplicada pelo Banco de Portugal (BdP) por comercialização de títulos de dívida da Espírito Santo Internacional (ESI) junto de clientes do banco".

O processo, que decorre desde Março em Santarém, no Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS), está a julgar os pedidos de impugnação às contra-ordenações aplicadas a Ricardo Salgado (quatro milhões de euros), o ex-presidente do BES, e a Amílcar Morais (600 mil euros), o ex-administrador, pelo BdP.

Rui Silveira disse que o BES "deixou 558,5 milhões de euros em provisões para reembolsar todos os clientes", tendo sido o próprio governador do BdP, em Julho de 2014, a dar uma "visão do trabalho extraordinário que o BES estava a fazer", em carta a Maria Luís Albuquerque, a então ministra das Finanças.

Este dinheiro para os reembolsos "transitou para o Novo Banco, que não pagou", afirmou, referindo que Salgado "era o almirante do grande porta-aviões que o BdP estava a afundar".

O antigo administrador disse que o processo foi feito de forma "séria", num clima "construtivo", garantindo que nada no BES foi feito sem conhecimento e autorização do governador do BdP.

Foi acordado, por exigência do Banco de Portugal, a saída do Conselho de Administração do BES de todos os membros da família Espírito Santo – ficando Ricardo Salgado como presidente do Conselho Consultivo.

Para Rui Silveira, o telefonema de Carlos Costa para Ricardo Salgado a vetar o nome de Amílcar Pires já com a convocatória da Assembleia-Geral "na rua" foi "uma loucura", provocando uma "sangria", com a fuga de 6,1 mil milhões de euros, cerca de metade dos quais depósitos e a queda das acções em 30%.

"O banco ficou acéfalo. Sabia-se que a família ia sair. Não se sabia quem ia suceder", declarou, sublinhando a "vergonha" que foi a forma como se "resolveu o assunto, rasgando uma convocatória e publicando outra no mesmo dia com os nomes de outras pessoas".

Quando foi escolhido Vítor Bento, "a floresta já estava a arder", disse, acusando o BdP de ter acrescentado "gasolina" ao impor provisões de 2.000 milhões de euros a 30 de Julho, "contra as normas internacionais".

O advogado frisou que Ricardo Salgado esteve "sempre disponível" para encontrar uma solução, "com o menor dos ruídos", que garantisse continuidade e não deixasse a instituição "órfã".

O julgamento dos pedidos de impugnação apresentados por Ricardo Salgado e Amílcar Pires junto do TCRS iniciou-se em 06 de Março e tem audiências agendadas até 14 de Julho, sendo previsível que a produção de prova testemunhal prossiga depois das férias judiciais, em Setembro.

As 10 lições de Zaluzhny (I)

O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.