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BPI: Preço oferecido pelo CaixaBank é baixo, ações devem voltar a negociar em breve - analistas

18 de abril de 2016 às 14:02
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"O preço é bastante inferior àquele que foi oferecido no ano passado. Tomarem como exemplo o fecho de cotação dos últimos seis meses parece-me pouco justo", disse à Lusa o analista Pedro Santos

Os analistas consideram baixo o preço oferecido pelo CaixaBank para controlar o BPI, na OPA hoje anunciada, que só avança com desblindagem de estatutos, e esperam que as ações do banco voltem a negociar em breve.

"O preço é bastante inferior àquele que foi oferecido no ano passado. Tomarem como exemplo o fecho de cotação dos últimos seis meses parece-me pouco justo", disse à Lusa o analista Pedro Santos, do XTB, embora referindo que no último ano houve uma perda considerável de valor dos ativos do setor bancário na Europa.

Ainda assim, o analista diz acreditar numa revisão em alta do valor oferecido por ação, de 1,113 euros, o que avalia o BPI em 1.600 milhões de euros, abaixo dos 1.900 milhões de euros da Oferta Pública de Aquisição (OPA) que o banco espanhol lançou no ano passado. Na altura, ofereceu 1,329 euros por cada título, o que valorizava a instituição liderada por Fernando Ulrich em perto de 1.900 milhões de euros.

No mesmo sentido, o analista André Rodrigues, do Caixa - Banco de Investimento, refere que o valor proposto pelo banco catalão para assumir o controlo do BPI é "7,3% inferior à atual avaliação" que o Caixa BI atribui e também "6,5% inferior ao último preço de fecho das ações" (1,19 euros).

Para Albino Oliveira, da Fincor, este preço revela uma posição de força do CaixaBank e deixa a decisão sobre a OPA aos pequenos accionistas, "sobre se aceitam participar nestas condições".

Isto porque, como o CaixaBank (que detém 44,10% do BPI) coloca como condição de sucesso da OPA ter mais de 50% do capital do banco (50% mais uma ação), só precisa de comprar mais 5,9% do capital para a oferta ter êxito.

No entanto, antes disso há outra condição imposta pelo CaixaBank para a OPA ir avante: o fim da blindagem de estatutos. Actualmente, nenhum accionista do BPI pode votar com mais de 20% dos votos, pelo que apesar de o banco espanhol ter 44,10% do capital está limitado na sua acção, ficando assim numa situação semelhante à da angolana Santoro, segunda maior accionista do BPI, que tem 18,58% do banco.

No entanto, como lembram os analistas, mesmo que a desblindagem de estatutos não seja aprovada em assembleia-geral (uma vez que essa alteração exige a aprovação por um mínimo de 75% do capital), tal deverá acabar por acontecer através do diploma que o Governo aprovou na semana passada e que o Presidente da República já promulgou.

Este diploma torna os direitos económicos equivalente aos direitos de voto, o que "aumentaria (a confirmar-se) de forma significativa a probabilidade de sucesso desta oferta", segundo André Rodrigues.

Quanto às acções do BPI, que hoje continuam suspensas de negociação em bolsa pela sexta sessão consecutiva, os analistas acreditam que devem voltar a ser transaccionadas em breve.

Na semana passada, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) suspendeu os títulos enquanto aguardava mais detalhes sobre o princípio de acordo entre CaixaBank e Santoro, para reduzir a exposição do BPI em Angola (nomeadamente os 50,1% que detém no Banco Fomento Angola), que no domingo ficou sem efeito.

"Agora é preciso que a acção volte a transaccionar. Poderá estar para breve", antecipa Albino Oliveira, da Fincor.

Os analistas estimam que, quando os títulos do BPI voltarem a negociar na bolsa de Lisboa, o seu valor se aproxime do oferecido pelo CaixaBank (1,113 euros por acção).

A imprensa refere que a Santoro, de empresária Isabel dos Santos, 'rompeu' o acordo depois de o Banco de Portugal não ter dado a idoneidade aos novos órgãos sociais do BIC Portugal, banco em que é um dos accionistas de referência, nomeadamente a Jaime Pereira como presidente executivo. Já o registo de idoneidade de Isabel dos Santos e de Fernando Teles como administradores não executivos ainda estará em análise.

Quanto à solução para a exposição a Angola, os analistas apontam que -- caso a OPA tenha sucesso -- tal poderá passar pelo 'spin off' dos activos africanos, ou seja, a solução inicialmente pensada de criação de uma nova sociedade que agregue activos do banco em Angola ou a venda pelo BPI de parte da sua posição no BFA.

Lembram que a OPA obrigará à integração do BPI no Caixabank, diluindo o investimento do BFA num grupo de dimensão maior.

Editorial

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