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Vitória de Guimarães: a melhor equipa portuguesa de sempre nas provas da UEFA?

Carlos Torres
Carlos Torres 11 de março de 2025 às 10:35
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Os minhotos somam 13 jogos seguidos sem perder nas provas europeias. Nunca uma equipa portuguesa tinha conseguido uma série tão longa na mesma época. Nem o FC Porto quando ganhou a Liga Europa, em 2011, em que fez 17 jogos e somou... duas derrotas.

E se o Vitória de Guimarães ganhar a Liga Conferência? Calma, ainda estamos muito longe dessa possibilidade: a equipa minhota conseguiu um bom resultado na primeira mão dos oitavos de final da prova,ao empatar (2-2) em Sevilha, frente ao Bétis, mas falta o jogo do tira-teimas, em Portugal, e a equipa espanhola não é propriamente uma pera doce. E, mesmo que os vitorianos consigam seguir em frente e chegar aos quartos de final, igualando a proeza da época 1986/87, então com o treinador Marinho Peres, depois ainda terão pela frente os belgas do Cercle Brugge ou os polacos do Jagiellonia (nos quartos de final), podendo apanhar nas meias-finais dois clubes com pergaminhos, como os gregos do Panathinaikos ou os italianos da Fiorentina, e depois, na final, um tubarão como o Chelsea (o mais cotado desta prova).

Ainda assim, com o empate em Sevilha, reagindo sempre bem aos golos do Bétis (primeiro fazendo o 1-1 apenas três minutos depois de sofrer, e a seguir demorando só 6 minutos para obter o 2-2), o Vitória de Guimarães já fez história nas provas da UEFA, uma vez que continua invicto, somando o 13º jogo sem perder nesta edição da Liga Conferência (são 10 vitórias e três empates).

Analisando o que fizeram as outras equipas portuguesas nas provas europeias, e olhando em especial para o comportamento dos três grandes, Benfica, Sporting e FC Porto, que andam nestas lides há 70 anos (os leões foram os primeiros a estrear-se, em setembro de 1955, com um empate, 3-3, frente ao Partizan de Belgrado, na Taça dos Campeões Europeus), a verdade é que o Vitória Guimarães vai numa senda nunca vista.

Benfica: 13 jogos sem perder mas em duas épocas

Se olharmos para o desempenho na mesma época, o clube que mais se aproximou deste recorde foi o Benfica, que em 2022/23 esteve 12 jogos consecutivos sem perder, tendo como treinador o alemão Roger Schmidt. A série começou a 2 de agosto de 2022, na vitória por 4-1 sobre os dinamarqueses do Midtjylland, para a Liga dos Campeões, seguindo até abril do ano seguinte, sendo que o Benfica nesse período jogou frente a equipas como Dínamo Kiev, Juventus ou Paris Saint-Germain, tendo sido apenas travado pelo Inter Milão, nos quartos de final da competição (derrota por 2-0 em casa e depois empate, 3-3, em Itália).

Como o Benfica tinha empatado (3-3) frente ao Liverpool no último jogo europeu da época anterior, isso revela que entre 2021/22 e 2022/23, os encarnados somaram 13 partidas consecutivas sem perder nas provas da UEFA, a sua melhor série de sempre, sendo de referir que nem nas épocas douradas dos anos 60, 70 e 80 (em que as águias venceram duas Taças dos Campeões Europeus e foram a mais seis finais europeias) isso aconteceu – o que se explica, em parte, porque havia muito menos jogos, pois o Benfica vencedor da Taça dos Campeões em 1961/62 só precisou de fazer sete jogos (e só esteve três consecutivos sem perder); e no ano anterior (1961) foram nove (e uma sequência de cinco imbatível).

Quer isto dizer que o recorde de partidas consecutivas sem perder nas provas da UEFA para equipas portuguesas é de 13 jogos, feito alcançado por Benfica e Vitória Guimarães, sendo que os minhotos o conseguiram na mesma época – e ainda podem estender esse número, basta não perderem frente ao Bétis na próxima quinta-feira, dia 13 de março.

FC Porto chegou aos 11 jogos

Já o FC Porto, o melhor que conseguiu foi estar 11 jogos consecutivos sem perder nas provas da UEFA: a primeira vez que isso aconteceu foi em 2003/04, época da conquista da Liga dos Campeões na Alemanha, com o triunfo por 3-0 sobre o Mónaco na final. Os dragões, com José Mourinho como treinador, fizeram 13 partidas na competição, sendo que foram derrotados frente ao Real Madrid na 2º jornada da fase de grupos (3-1) e depois nunca mais perderam.

Desde logo, empataram em casa dos merengues (1-1), somando triunfos sobre equipas como Marselha (dois) Partizan de Belgrado, Manchester United, Lyon e Deportivo da Corunha, vencendo depois na final de Gelsenkirchen a equipa monegasca. No total, em 11 jogos, os dragões somaram sete vitórias e quatro empates.

Outra época com 11 jogos consecutivos sem perder na UEFA, por parte do FC Porto, aconteceu em 2014/15, era o treinador o espanhol Julen Lopetegui. Os portistas cumpriram 12 jogos na Liga dos Campeões, tendo apenas perdido no último, frente aos alemães do Bayern Munique (e sofreram uma derrota pesada, por 6-1, nos quartos de final da prova, depois de terem derrotado os bávaros no estádio do Dragão por 3-1 na primeira mão).

Nessa época, o FC Porto começou por eliminar os franceses do Lille no play-off, com duas vitórias, por 1-0 em França e 2-0 no Dragão, seguindo-se triunfos sobre Bate Borisov (2), Atlético Bilbau (2) e Basileia, registando-se ainda empates contra a equipa suíça e frente aos ucranianos do Shaktar Donetsk (2), surgindo depois o triunfo caseiro contra o colosso bávaro.

Sporting: nove jogos sem perder

Quanto ao Sporting, a sua melhor série invicta na Europa aconteceu em 2009/10, época em que, no total, a equipa fez 14 jogos europeus: foram nove jogos consecutivos sem perder, distribuídos pela Liga dos Campeões e pela Liga Europa, somando três vitórias e seis empates.

É curioso que o Sporting saiu da Liga dos Campeões ao cabo de quatro jogos, sem perder ou ganhar qualquer deles, afastado pela regra dos golos fora, que valiam a dobrar em caso de empate. Os leões começaram por empatar com Twente (0-0 fora e 1-1 em casa) e Fiorentina (2-2 em Alvalade, 1-1 em Florença), não conseguindo por isso atingir a fase de grupos e caindo para a Liga Europa. Já nessa prova, venceram o Heerenveen, o Hertha Berlim e o Ventspils, somando depois dois empates e alcançando assim a série de nove jogos sem perder, até sofrerem uma derrota (1-0) no campo do Hertha Berlim.  

Mais recentemente, o Sporting esteve sete jogos sem perder em 2023/24, quando a equipa de Ruben Amorim completou essa sequência na Liga Europa, em que chegou aos oitavos de final, sendo eliminada pela Atalanta. Os leões fizeram 10 jogos na prova, tendo começado por vencer os austríacos do Sturm Graz (2-1) na fase de grupos, perdendo a seguir frente à Atalanta em Alvalade.

O empate em casa do RKS Raków (1-1) iria iniciar a série invicta, seguindo-se nova vitória sobre a equipa polaca (em casa), um empate com a Atalanta (1-1, em Itália), novo triunfo sobre o Sturm Graz (3-0) e depois a eliminação dos suíços do Young Boys (uma vitória e um empate), surgindo então novo duelo com a Atalanta (empate em Alvalade e derrota por 2-1 fora de casa).

Antes disso, o melhor que o Sporting tinha conseguido eram duas séries de seis jogos sem perder nas provas da UEFA: a primeira aconteceu em 1963/64, quando conquistou a Taça das Taças (foram 12 jogos no total, sendo que três deles foram de desempate, numa altura em que não se recorria aos penáltis para resolver as eliminatórias).

A segunda foi em 2007/08, época em que os leões chegaram aos quartos de final da Taça UEFA, tendo realizado seis jogos nessa competição e mais seis na Liga dos Campeões. Mesmo não passando a fase de grupos, a primeira partida da série invicta aconteceu na Champions, a 12 de dezembro de 2007, com o triunfo (3-0) frente ao Dínamo Kiev. Seguiram-se, já na Liga Europa, dois triunfos sobre o Basileia, um empate e uma vitória sobre o Bolton e um empate contra o Glasgow Rangers (0-0, na Escócia), com os leões a serem eliminados em casa após perderem por 2-0 na segunda mão, a 10 de abril de 2008.

O facto de o Sporting ter uma série de invencibilidade mais reduzida do que os rivais explica-se, em parte, porque os leões têm menos jogos europeus. Mas só em parte, porque em duas das três ocasiões em que somou mais jogos europeus na sua história (foram 16 em 2011/12, 15 em 2004/05 e 14 em 2017/18) não ficou sequer perto dessa série-recorde de nove partidas consecutivas sem perder.

Nessas duas ocasiões, o melhor que o Sporting conseguiu foi chegar aos cinco jogos sem perder: uma delas foi em 2004/05, na época em que os leões atingiram a final da Taça UEFA (disputada em Alvalade frente aos russos do CSKA Moscovo, que saíram vencedores de Lisboa). Os leões entraram com o pé direito na Taça UEFA, batendo o Rapid Viena a 16 de setembro de 2004, eliminando os austríacos e depois vencendo Panionis e Dínamo Tbilissi na fase de grupos, sendo de seguida derrotados em casa pelo Sochaux.

Seguiram-se cinco jogos sem perder (que incluíram dois triunfos sobre o Feyenoord), até que o Newcastle bateu os leões (1-0), na primeira mão dos quartos de final. O Sporting eliminou a seguir o Az Alkmaar (vitória por 2-1 em casa e derrota por 3-2 fora, numa altura em que os golos fora valiam a dobrar em caso de empate), chegando assim à final, perdida para os moscovitas do CSKA.

Quanto ao Benfica, além das já referidas duas épocas com 11 jogos consecutivos sem perder, tem ainda mais duas com 10 partidas invicto. A primeira aconteceu em 1982/83, em que realizou um total de 12 desafios na Taça UEFA, tendo chegado à final, jogada a duas mãos (e perdida para o Anderlecht). Os encarnados só perderam ao 11º jogo, contra os belgas, alcançando seis vitórias e dois empates, eliminando Bétis, Lokeren, Zurique, Roma e Universidade Craiova.

Já a segunda vez que isso aconteceu, foi em 2011/12, era treinador Jorge Jesus. O Benfica cumpriu 14 jogos na Champions, começando por disputar duas pré-eliminatórias (eliminou Twente e Trabzonspor), seguindo-se mais seis jogos de invencibilidade na fase de grupos (contra Manchester United, Basileia e Otelul Galati), acabando as águias por sofrerem o primeiro desaire em São Petersburgo, frente ao Zenit (3-2), nos oitavos de final da prova. Mas o Benfica ainda iria passar, sendo então eliminado pelo Chelsea (com duas derrotas).  

O Benfica conseguiu ainda completar uma série de sete partidas invicto nas provas da UEFA por três vezes, a última delas em 2010/11, quando a equipa alcançou as meias-finais da Liga Europa (eliminada pelo Sp. Braga). Afastados na fase de grupos da Liga dos Campeões, após perder (2-1) no estádio da Luz contra os alemães do Schalke 04, os encarnados registaram depois uma série de cinco vitórias e dois empates, frente a adversários como Estugarda, Paris Saint-Germain e PSV Eindhoven.

Já o FC Porto, a seguir às duas séries-recorde de 11 jogos consecutivos sem perder em provas europeias, os seus melhores registos de invencibilidade são as nove partidas em 2010/11 (ano em que venceu a Liga Europa frente ao Sp. Braga), as oito em 2000/01 e ainda seis séries por seis vezes, sendo uma delas quando foi campeão europeu pela primeira vez, em 1986/87.

Nessa época dourada, que acabou com os dragões a festejarem em Viena, com o calcanhar mágico de Madjer frente ao Bayern Munique, o FC Porto cumpriu um total de nove jogos na Taça dos Campeões Europeus e começou por golear os malteses do Rabat Ajax por 9-0, a 17 de setembro, jogando no estádio do Rio Ave. Os dragões acabaram por não terminar a prova invictos porque sofreram um desaire ao terceiro jogo, na 2ª eliminatória (1-0), frente ao Viktovice (na antiga Checoslováquia). Mas a seguir somaram cinco vitórias e um empate (1-1 no campo do Brondby, após o 1-0 caseiro).

Nas duas épocas com mais jogos europeus, há dois dados curiosos. Aquela em que o FC Porto mais jogou foi a de 2010/11, e que terminou com o triunfo na Liga Europa, era André Villas-Boas o treinador. No total, os dragões realizaram 17 jogos europeus, tendo de começar por ultrapassar um play-off de qualificação, batendo o Genk nos dois jogos (3-0 na Bélgica e 4-2 no Porto). Seguiram-se triunfos, já na fase de grupos, sobre Rapid Viena, CSKA Sofia e Besiktas, registando-se então um empate caseiro com os turcos e mais dois triunfos sobre austríacos e búlgaros.

Começou então a fase a eliminar, com o FC Porto a apanhar um dos adversários mais complicados nos dezasseis avos de final, o Sevilha: os dragões até foram vencer à Andaluzia (2-1), cumprindo assim as nove partidas consecutivas de invencibilidade, mas perderam depois 1-0 em casa, sendo salvos pela regra dos golos fora.

O FC Porto conseguiu então eliminar, com quatro vitórias consecutivas, duas equipas russas: CSKA Moscovo e Spartak Moscovo. Seguiu-se o Villareal, nas meias-finais, com os dragões a vencerem por 5-1 em casa mas a perderem (3-2) em Espanha, chegando então à final, contra o Sp. Braga, naquela que foi até hoje a única vez em que duas equipas portuguesas se defrontaram em jogos europeus (e o golo de Radamel Falcao fez a diferença para os portistas).  

Já em 2001/02, o FC Porto cumpriu 16 jogos europeus, mas o melhor que conseguiu foi uma série de quatro vitórias consecutivas, ficando-se pela segunda fase de grupos da Liga dos Campeões, com apenas seis vitórias, três empates e sete derrotas, sendo uma delas frente ao modesto Barry Town, uma equipa do País de Gales que, na pré-eliminatória, venceu por 3-1 na segunda mão, depois de ter sido goleado por 8-0 no estádio das Antas, num jogo em que Pena marcou por quatro vezes e Deco fez um hat-trick.

Este caso do Barry Town poderá servir de exemplo para ajudar a aplacar as críticas que muitas pessoas poderão já estar a fazer por se comparar a campanha do Vitória de Guimarães na Liga Conferência (onde escasseiam os "tubarões") com as dos três grandes nas duas principais provas da UEFA, a Champions e a Liga Europa. Afinal, na Liga dos Campeões o Benfica já enfrentou esta época colossos como Barcelona ou Bayern Munique, o Sporting jogou contra Manchester City, Arsenal ou Borussia Dortmund. E, na Liga Europa, FC Porto teve pela frente Manchester United, Lazio e Roma e Sp. Braga enfrentou também Lazio e Roma, além de Olympiacos ou Hoffenheim.

Guimarães em 2º lugar na fase de liga, atrás do Chelsea

Mas a verdade é que, primeiro, a realidade financeira do Vitória de Guimarães é diferente do dos três grandes, que por isso têm outros argumentos para enfrentar os colossos europeus. E, depois, já houve outras equipas portuguesas que chegaram à Liga Conferência e nunca tinham sequer alcançado a fase de grupos (isso aconteceu, por exemplo, com o Vit. Guimarães na época passada, em que foi eliminado nas qualificações pelos desconhecidos eslovenos do NK Celje, perdendo nos penáltis após a derrota caseira por 1-0 que anulou o triunfo fora de portas por 4-3 na primeira mão).

Uma vitória (ou empate) nas competições europeias tem sempre relevância, seja qual for a competição. Aliás, se formos a ver, a própria UEFA não faz distinção na atribuição de pontos pela vitória ou empate, que contam o mesmo para o ranking sejam obtidos na Champions, Liga Europa ou Liga Conferência.

Se é verdade que não há colossos europeus na edição deste ano na Liga Conferência (o Chelsea é o único "tubarão), também é verdade que ainda assim o Vitória de Guimarães acabou a fase de liga em 2º lugar (só atrás do Chelsea), entre 36 equipas participantes. E não defrontou só adversários de campeonatos irrelevantes, como o Floriana de Malta ou o já conhecido NK Celje (desta vez venceu por 3-1). Desde logo, nos oitavos de final tem pela frente o Bétis, que ainda há uma semana venceu o Real Madrid.

E já enfrentou a Fiorentina (empatou 1-1), atual 7ª classificada em Itália, à frente de Roma e Milan. E também equipas de campeonatos com alguma relevância na Europa, como os suíços de Zurique e do St. Gallen e os suecos do Djurgarden. Além do Astana, uma equipa do Cazaquistão mas que, fruto dos grandes investimentos financeiros que tem feito, ainda há poucos anos esteve na Liga dos Campeões (empatou 2-2 com o Benfica em 2016). 

Por isso, e mesmo que haja algum menosprezo, aos vitorianos já ninguém lhes tira este recorde, de serem a equipa portuguesa com mais jogos seguidos sem perder nas provas europeias na mesma época: são 13, mas esse número ainda pode subir e então os minhotos estabeleceriam um recorde absoluto (porque, relembre-se, o Benfica também conseguiu ficar 13 jogos invicto na UEFA, mas em duas épocas diferentes). Veremos o que acontece na próxima quinta-feira contra o Bétis, mas o treinador do Vitória de Guimarães, Luís Freire, já avisou os espanhóis: "Não fomos inferiores, e acredito que em casa vamos fazer-lhes a vida negra".

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