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Mathias Pogba e o caso de extorsão ao irmão: "Fiz merda"

Carlos Torres
Carlos Torres 04 de dezembro de 2024 às 14:47
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Garante que não esteve envolvido no sequestro e tentativa de extorsão de €13 milhões ao irmão Paul Pogba, mas diz-se "100% arrependido" de ter publicado vídeos a ameaçá-lo e que prejudicaram a sua carreira. O julgamento deve chegar ao fim esta quarta-feira, dia 4, e o futebolista francês exige aos implicados (os seus amigos de infância) o pagamento de uma indemnização de 250 mil euros.

Mathias, o irmão mais velho do craque francês Paul Pogba (atualmente sem clube, suspenso por ter acusadodoping) foi ouvido na tarde de terça-feira, dia 3, no tribunal, a propósito das suspeitas de estar envolvido no sequestro e tentativa de extorsão ao futebolista – a 19 de março de 2022, dois encapuzados ameaçaram-no com uma arma e exigiram o pagamento de 13 milhões de euros.

REUTERS/Stephanie Lecocq

Em agosto de 2022, o irmão de Pogba colocou nas redes sociais um vídeo a ameaçar que iria fazer "revelações explosivas" sobre o jogador, na altura no Manchester United, acabando depois por referir que ele teria contratado um bruxo para fazer feitiçaria contra Mbappé, a principal estrela da seleção francesa.

Ao todo, Mathias colocou mais de 30 vídeos no Twitter, em que visava Paul Pogba, o seu staff e o seu estilo de vida. Num deles, diz: "Se estiveres a ver este vídeo, é porque o meu irmão arranjou maneira de me silenciar. Gravo este vídeo para que, aconteça o que acontecer, tudo seja revelado". Aliás, as palavras "vídeo de segurança guardado em local seguro" surgem nalgumas das gravações.

Mathias acusou o irmão, Paul Pogba, de ter abandonado vários membros da sua família, deixando-os na pobreza. Alegou ainda que ele se relacionava com criminosos e que contratou um feiticeiro (próximo do jogador Alou Diarra), pagando-lhe milhões de euros para que lançasse vários feitiços – nomeadamente para ajudar França a ganhar o Mundial 2018 e também para com essas mezinhas prejudicar jogadores rivais, sendo um deles Kylian Mbappé (num jogo da Champions entre o PSG e o Manchester United, na altura o clube de Pogba). Mathias disse ainda que alguns dos seus familiares "foram agredidos e baleados" por causa do irmão. 

Quando questionado sobre estes vídeos, Mathias Pogba declarou que não os fez "para obrigar Paul a pagar". "Eu tinha-lhe pedido ajuda, ele não me respondeu, não falava comigo. Deixou-me sozinho na selva e disse-me: 'Desenrasca-te'. E eu pensei: 'Ok, vou ter de falar'. Eu sou o seu irmão mais velho: sofri um choque emocional. Achei que ir para as redes sociais [com os vídeos] era a única forma de me fazer entender".

"Claro que hoje estou arrependido a 100%", continuou Mathias no tribunal, numa sessão onde o seu irmão Paul não marcou presença (está nos EUA). Questionado pelo juiz sobre os vídeos, reconheceu o seu carácter extremo. "Compreendi isso quando todas as minhas tias me ligaram a chorar. Fiz merda".

Mathias garante, ainda assim, que nada teve a ver com o sequestro e tentativa de extorsão ao irmão, em março de 2022, revelando que só soube do caso a 29 de julho, quando Roushdane e Machikour, dois amigos seus (e também de Paul) lhe deram conta do caso no ginásio.

"Contaram-me a história e disseram-me que também eram vítimas [dois encapuzados apontaram uma arma e exigiram dinheiro a Pogba quando esses dois amigos estavam com ele num apartamento]. Ouvi as versões de todos, e quero entender todas as versões", referiu, adiantando que a seguir viajou para Turim, para se encontrar com o irmão (que nesse verão se tinha transferido do Manchester United para a Juventus). "Tornou-se um caso urgente, tinha de falar com ele, mas pareceu-me normal".

Durante a audiência, que durou cerca de quatro horas, Mathias disse mais de uma vez que na altura em que fez e colocou os vídeos ameaçadores nas redes sociais, o seu cérebro "estava desligado". E acusou um dos seus amigos, Roushdane, também envolvido no caso, de o ter manipulado. "Fui influenciado a fazer esses vídeos. Nesse momento vi os vídeos como um último recurso. Hoje vejo isso assim, hoje o meu cérebro está normal".

"Sou o sustento da minha família. Eles estão todos chocados com isto. E eu também estou perturbado, sinto-me triste e desorientado com todo este processo. Sinto-me isolado... sou o irmão que traiu. Estou deprimido, sozinho nesta escuridão", confessou Mathias Pogba, que lamentou: "Cometi um milhão de erros nesse mês".

Questionado sobre o que diria ao seu irmão se falasse agora com ele, Mathias respondeu: "Tantas coisas. Perguntava-lhe porque é que ele não me disse que o tinham ameaçado, mas sobretudo que temos de recordar e avançar para novas e belas aventuras"

Antes de Mathias, falou Boubacar, um dos amigos de infância de Paul Pogba, também suspeito de estar implicado no caso. "Era como um escravo", disse a certa altura, referindo-se aos anos em que trabalhou para a família Pogba, recebendo 2.600 euros por mês e tendo de estar sempre disponível. Boubacar adiantou que a sua alcunha era "O Mordomo" e que fazia todo o tipo de trabalhos, era o motorista, ia às compras, acompanhava a mãe de Paul, resolvia problemas que surgissem. "A mãe dele era como se fosse a minha mãe".

Descrevendo-se como alguém "reservado" e que gosta de "estar na sombra", Boubacar, de 35 anos, falou ainda dos dias em que esteve em prisão preventiva. "No início foi muito difícil", referiu, adiantando que no dia em que foi detido "houve um suicídio duas celas" a seguir à dele e nos dias seguintes outro suicídio na enfermaria, onde ele tinha estado.

Boubacar falou também da ligação dele a Paul Pogba, revelando que em 2012, numa altura em que ele ainda não era muito conhecido, decidiu acompanhá-lo para Turim, aquando da sua primeira passagem pela Juventus. "Ele ainda não ganhava milhões, mas deixei os meus pais e a minha namorada e fui com ele para Itália". "Ou seja", disse o seu advogado, "podemos dizer que se sacrificou por Paul Pogba?". Boubacar ficou em silêncio e perante a insistência emociou-se e exclamou: "Pare, vai-me fazer chorar aqui".

O julgamento deverá chegar ao fim esta quarta-feira, dia 4, e os implicados no caso, o irmão mais velho de Pogba e cinco amigos de infância do jogador, arriscam ter de pagar uma indemnização. A advogada do médio, campeão do Mundo pela França em 2018, avançou que "Paul Pogba solicita, a título de prejuízo moral, uma reparação de 50 mil euros, e uma condenação de todos" os intervenientes.

Carine Piccio adiantou que o jogador exige ainda 197.227 euros de uma compensação monetária, relacionada com um episódio insólito - é que três dos seus amigos de infância foram à loja da Adidas dos Campos Elíseos, em Paris, onde o jogador tem conta, e gastaram 57.227 mil euros em artigos (foi preciso alugar um camião para os transportar), que Pogba teve depois de pagar.

"Foi um golpe premeditado", apontou a advogada de Pogba. "O objetivo era conseguirem 13 milhões de euros. Ele [Pogba] sentiu que a sua vida estava em perigo e prometeu pagar [só iria pagar 100 mil euros]. E viveu com medo. Este caso causou-lhe um desequilíbrio emocional. Foi um episódio que lhe pesou e afetou a sua carreira e a sua imagem. Foi traído por pessoas próximas, que lhe diziam que ele era seu 'irmão'".

A advogada realçou que Paul Pogba "é uma vítima", fruto de uma relação de infância que prosseguiu na adolescência e depois quando ele se tornou uma estrela, com esses amigos a aproveitarem-se da sua fama e riqueza. "Ele não devia sentir-se responsável por eles. O sucesso dele não devia levar a esta maldade".

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