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Começou a jogar com apenas seis anos na escola de futebol Gondofute. Destacou-se nos relvados e na escola, pois nunca tirou uma negativa, e, depois de não ter convencido Benfica e FC Porto, acabou o ensino secundário já às portas da equipa A do Paços de Ferreira. Perito em ligar o ‘descomplicómetro’ em campo, era uma referência no Liverpool e na Seleção Nacional. Diogo Jota e o irmão morreram esta quinta-feira.
A SÁBADO publicou este perfil do futebolista Diogo Jota a 12 de novembro de 2020, a propósito da sua mudança para Liverpool. Diogo Jota morreu esta madrugada, juntamente com o irmão, num acidente de carro em Espanha.
Liverpool
Os primeiros pontapés na bola não aconteceram num pelado ou num relvado, mas sim no pátio de casa, em Gondomar. Foi aí que os pais, Joaquim Silva e Isabel Silva, começaram a perceber que o pequeno Diogo José, Jota no mundo do futebol, poderia vir a ser um caso sério. "O problema era a quantidade de vasos que ele partia", conta à SÁBADO a mãe do avançado que se tem destacado no Liverpool e na Seleção Nacional com exibições de encher o olho e golos.
Nascido na Maternidade Júlio Dinis, em Massarelos, Porto, Diogo Jota cresceu em Gondomar. A escola de futebol Gondofute foi o primeiro passo de um caminho que o levou até Anfield. "Foi ele que quis ir para o futebol. Queríamos que ele fizesse desporto, até para o crescimento físico e mental, e assim foi. Passei muitas horas ao frio, à chuva e ao vento a vê-lo nos treinos e nos jogos. E com um salário fabril não era fácil comprar tantas chuteiras", lembra o pai.
Tudo o que Diogo Jota alcançou foi com a ajuda da família mas também fruto de uma personalidade vincada, até porque, como nos diz a mãe, "ele sabe o que quer e quando tem um objetivo vai à luta". Os pais trabalhavam numa fábrica de componentes automóveis e chegaram a abrir uma loja de gomas, mas nem sempre foi fácil. "Conseguimos conciliar o nosso trabalho com os miúdos porque eu trabalhava à noite e, por isso, ganhava mais, e o pai trabalhava só de manhã e conseguia acompanhá-los", diz-nos Isabel. O outro miúdo, diga-se, é André, o irmão de Diogo Jota que, agora com 20 anos, representa os sub-23 do Boavista na Liga Revelação: "Não se davam muito bem quando eram pequenos. O André começava a cantar assim que acordava e o Diogo não gostava. Têm feitios diferentes e até chegaram a lutar por causa da PlayStation."
Exemplar nas quatro linhas e na escola
No Gondomar, Diogo Jota começou desde muito cedo a destacar-se dos restantes miúdos. "Tinha uns 6 anos quando apareceu e havia pormenores que saltavam à vista, como a forma como corria ou como controlava a bola", diz-nos José Carlos Pimentel, o primeiro treinador de Diogo Jota. Joaquim Silva, pai do avançado, não esquece e fez questão de lhe oferecer uma camisola do Wolverhampton. "Dizem que os filhos são o retrato dos pais e os pais do Diogo são pessoas de bem e humildes. O Diogo sempre gostou mais de ouvir do que de falar, era muito responsável. É um orgulho vê-lo no patamar em que está hoje", conta à SÁBADO o responsável pela criação da Gondofute.
A forte personalidade e a maturidade que sempre apresentou são características apontadas a Diogo Jota por quem o conhece. Bom aluno, até porque, garante a mãe, "não precisava de estudar e nunca tirou negativas", foram poucas as vezes em que os pais tiveram de se preocupar com o comportamento do jovem talento. A mãe lembra-se apenas de um momento na escola: "Fui chamada pela diretora porque o Diogo pegou-se à pancada com um colega. Um dizia que a bola tinha saído da linha e o outro dizia que não." Aliás, em Paços de Ferreira, para onde se mudou já como júnior, também só há recordação de um raspanete. "Sempre foi exemplar e a única queixa que tive foi por ele ter atirado umas laranjas para umas ovelhas que estavam no campo, atrás da residência do clube onde ele morava", recorda José Adelino Pinto, diretor da formação do Paços de Ferreira, que já estava no cargo quando o clube resgatou Diogo Jota ao Gondomar. Mas já lá vamos.
No Gondomar, Jota começou a mostrar que não era só mais um. "Ele tinha 11 anos quando o conheci e treinei-o até aos sub-19. Foi sempre muito maduro e desequilibrava com facilidade. Se um jogo estivesse complicado ele ligava o ‘descomplicómetro’ e fazia a diferença. O Paços de Ferreira entrou em cena mas sempre achei estranho o facto de ele nunca ter chamado a atenção dos grandes", conta-nos Rúben Carvalho, que hoje acumula o cargo de treinador do Gondomar B com o de responsável pela formação. Mas não se pense que os grandes andavam desatentos. "O Diogo fez captações no Benfica e no FC Porto. Fui com ele ao Seixal e não ficou. Depois esteve no FC Porto mas também não o quiseram. Até foi bom porque hoje em dia poderia ser apenas mais um e assim mostrou que não é preciso passar por um grande para ter sucesso", atesta Joaquim, orgulhoso pelo percurso do filho no Liverpool, onde até já roubou o lugar a Firmino num dos melhores trios atacantes do futebol mundial.
O dia em que Jota "partiu aquilo tudo"
Foi com naturalidade que Diogo Jota deixou o Gondomar. Paços de Ferreira fica a 40 quilómetros e o avançado optou por se mudar em definitivo. Passou a viver na residência do clube, juntamente com outros jovens, e depois de concluir o 12º ano tirou a carta de condução. O facto de ter uma maturidade acima da média foi uma ajuda para os responsáveis do Paços de Ferreira, que viam nele uma espécie de irmão mais velho dos restantes miúdos. E foram várias as ocasiões em que teve de levantar a voz para evitar que asneiras fossem cometidas. Para José Adelino Pinto, a ‘descoberta’ de Jota ainda hoje é uma história que conta com orgulho. "Ele era sub-17 e o Gondomar veio jogar a Paços de Ferreira na fase final do campeonato. O nosso coordenador técnico, Gil Andrade, aconselhou-me a ir vê-lo e a verdade é que, apesar de termos ganho, ele partiu aquilo tudo. Depois, quando fomos a Gondomar, disse ao presidente para ir e no dia a seguir a esse jogo fechámos o contrato", recorda o responsável pela formação do emblema pacense.
No Paços de Ferreira, Diogo Jota fez o percurso natural de um jovem com ambição de chegar ao topo e conseguiu-o pela mão de Paulo Fonseca. A 20 de fevereiro de 2015, entrou a 7 minutos do fim na receção ao V. Guimarães (2-2) e cumpriu a primeira de 68 presenças na 1ª Liga. "Parecia franzino mas era difícil batê-lo fisicamente. Sempre foi muito competitivo, autoconfiante, tinha uma certa arrogância em campo. Saltou-
me à vista nos primeiros treinos na equipa A o à-vontade dele e a agressividade com bola. Não era normal", conta-nos Filipe Anunciação, então adjunto de Paulo Fonseca.
As apostas no banco do FC Porto e Anfield rendida
Com a mesma naturalidade que o levou do Gondomar para Paços de Ferreira, Jota mudou-se para o Atlético de Madrid no verão de 2016. Com pouco tempo de trabalho na pré-época e com Diego Simeone fiel a um núcleo restrito de jogadores, o passo seguinte foi o empréstimo ao FC Porto, onde marcou nove golos em 38 jogos. João Carlos Teixeira, hoje no Feyenoord, cruzou-se com Jota no balneário dos dragões e recorda-se do impacto que o atacante teve. "Começávamos muitas vezes os jogos no banco e fazíamos apostas, quando o míster o chamava para entrar, sobre se ele ia marcar ou fazer uma assistência. Jogasse 10 minutos ou 90, tinha sempre, pelo menos, uma oportunidade de golo", conta-nos o médio, sublinhando "o bom humor" de Diogo Jota: "Começa por ser tímido mas quando ganha embalo é muito fácil lidar com ele."
Do FC Porto até ao Wolverhampton não demorou e as exibições na equipa comandada por Nuno Espírito Santo, primeiro no Championship (2ª divisão) e depois na Premier League, resultaram em 44 golos em 131 jogos oficiais. O Liverpool de Jürgen Klopp, treinador que já se mostrou rendido ao talento de Diogo Jota, avançou com perto de 50 milhões de euros e contratou-o no último verão, o que encheu ainda mais de orgulho família e amigos. "Antes levava um dos filhos ao treino da manhã e o outro ao treino da tarde. Hoje passamos as tardes a ver na televisão o André nos sub-23 do Boavista e o Diogo no Liverpool", diz o pai. Rúben Carvalho, responsável por ter puxado Jota dos sub-17 do Gondomar para os juniores, ainda hoje mantém contacto com ele e, recentemente, houve uma troca de mensagens engraçada após mais um dos muitos golos que tem feito. "Disse-lhe que tinha sido mais um dia normal e a resposta dele diz tudo: ‘Tenho de aproveitar porque está a correr bem.’" E está mesmo, pois são já 7 (?) golos em apenas 10 (?) jogos pelo Liverpool e a Seleção Nacional terá, assim, mais uma arma para atacar os importantes compromissos que aí vêm.
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O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A chave ainda funcionava perfeitamente. Entraram na cozinha onde tinham tomado milhares de pequenos-almoços, onde tinham discutido problemas dos filhos, onde tinham planeado férias que já pareciam de outras vidas.