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Rebeldes entram em Alepo. O que se sabe sobre os ataques?

Luana Augusto
Luana Augusto 30 de novembro de 2024 às 16:06
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Não se registava uma ofensiva contra o governo de Assad como esta desde 2016. Rebeldes sírios já a estariam a preparar há algum tempo.

A guerra civil de 13 anos na Síria voltou a ganhar destaque. Um grupo de rebeldes sírios lançou uma ofensiva surpresa na cidade de Alepo, uma das maiores do país, e invadiu "grandes partes" dos bairros desta localidade, segundo o exército. Este ataque marca assim um dos avanços mais significativos dos rebeldes nos últimos oito anos.

REUTERS/Mahmoud Hasano

Um cenário idêntico a este não se registava desde 2016, quando uma companhia aérea de aviões de guerra russos ajudou o presidente sírio, Bashar al-Assad, a retomar a cidade do noroeste. Na altura, a intervenção da Rússia, do Irão, do Hezbollah e outros grupos permitiu que Bashar al-Assad permanecesse no poder.

Mas porque é que os rebeldes e os seus aliados das fações apoiadas pela Turquia decidiram atacar esta cidade depois de vários anos de relativa calma?

Porquê atacar agora?

Na quarta-feira, os elementos da Hayat Tahrir al-Sham (HTS), uma aliança jihadista liderada pelo antigo braço sírio da Al-Qaeda e fações aliadas, atacaram áreas controladas pelo governo na província de Alepo, no norte, e na região noroeste de Idlib.

REUTERS/Mahmoud Hasano

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede no Reino Unido, confirmou que os rebeldes tomaram dezenas de cidades no norte e "assumiram o controlo da maior parte" de Alepo. A violência sentida nesta última semana matou pelo menos 311 pessoas, a maioria combatentes, e 28 civis, anunciou o Observatório. Este número acrescenta-se, assim, às 500 mil vidas que já se perderam no conflito.

Segundo Dareen Khalifa, investigadora do Internacional Crisis Group, estes rebeldes estariam a preparar esta ofensiva já há vários meses. Dareen Khalifa apontou a retoma dos ataques pelo alegado enfraquecimento do Irão - um dos maiores aliados da Síria.

"Eles enquadraram isto como um movimento defensivo contra a escalada do regime", disse Dareen Khalifa à Agence France-Presse. "Eles pensam que este é um momento em que os iranianos estão enfraquecidos, em que o regime está encurralado e em que a Turquia é encorajada face à Rússia".

Quem apoia o governo de Assad e quem apoia os rebeldes?

O Kremlin disse na sexta-feira que espera que a Síria "restaure a ordem" rapidamente na cidade de Alepo, enquanto Teerão disse acreditar que a ofensiva se trata de uma conspiração americano-israelita para destabilizar a região. Quanto à Turquia, o país exigiu o fim dos "ataques" na Síria, onde já se lançam ataques aéreos.

"Nos próximos dias, se [os rebeldes] conseguirem sustentar os seus ganhos, será um teste para saber se a Turquia irá ou não apostar tudo", afirmou Dareen Khalifa.

As forças turcas e as fações rebeldes apoiadas pela Turquia controlam atualmente várias áreas do norte da Síria. A Turquia tentou inicialmente derrubar o presidente sírio após a eclosão do conflito em 2011, mas quando as forças governamentais recuperaram o território, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, reverteu este rumo.

O Irão é atualmente um aliado próximo da Síria, assim como a Rússia. Prova disso foi a intervenção de Moscovo na guerra civil em 2015, virando assim a dinâmica do conflito a favor de Damasco.

Agora, passados oito anos, a Rússia está novamente a apoiar o governo de Damasco, ao combater os rebeldes que já controlam diferentes bairros da cidade de Alepo. Para travar esta ofensiva, a Rússia já lançou vários bombardeamentos contra a cidade.

O que é a HTS?

REUTERS/Mahmoud Hasano

A Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que lidera os ataques na Síria, é uma aliança jihadista que é considerada, pelos Estados Unidos e ONU, uma organização terrorista e há muito tempo que é alvo do governo sírio e das forças russas.

Em 2011, Abu Mohammed al-Golani emergiu como líder do braço sírio da Al-Qaeda, durante os primeiros meses de guerra na Síria. Abu Mohammed e o seu grupo assumiram desde o início a responsabilidade por vários atentados mortais, comprometeram-se a atacar as forças ocidentais, confiscaram propriedades das minorias religiosas e recorreram a polícia religiosa para reprimir as mulheres.

A HTS acabou por romper relações com a Al-Qaeda em 2016. A sua organização tornou-se depois o grupo rebelde mais poderoso do noroeste do país. Apesar de ter rompido laços com a Al-Qaeda, a aliança permitiu que alguns grupos armados continuassem a operar no seu território e a disparar contra as forças especiais dos EUA, pelo menos até 2022.

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