A IA "ainda não tem dores, ainda não tem amores, não tem nada disso, tudo coisas que são fundamentais para fazer das obras literárias, grandes obras".
O secretário-geral da União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa (UCCLA) acredita que a inteligência artificial só dominará a literatura quando sentir as dores e os amores dos "operários da língua", que são os escritores.
Escritores lusófonos reunidos na Praia para encontro sobre literatura e IANuno Miguel Coelho/MedialLivre
"A escrita é muito pelo lado da emotividade, da afetividade, da empatia, do desespero; às vezes, da alegria, outras vezes, esses conflitos interiores de sentimentos que só quem escreve sabe quanto se sofre quando se tem que escrever, quanto dói, quando se tem que escrever", afirmou.
Luís Campos Ferreira falava à agência Lusa a propósito do XIII Encontro de Escritores da Língua Portuguesa, que decorre na Praia, em Cabo Verde, entre quinta-feira e sábado, organizado pela UCCLA e a Câmara Municipal da capital cabo-verdiana.
"Independência, literatura, inteligência artificial" é o tema geral deste encontro que junta mais de 20 escritores lusófonos na Praia.
Sobre a inteligência artificial, um dos temas do encontro, Luís Campos Ferreira refere que esta "ainda não tem dores, ainda não tem amores, não tem nada disso, tudo coisas que são fundamentais para fazer das obras literárias, grandes obras".
"Não se deve virar costas, pelo contrário, devemos utilizar esses instrumentos, na medida em que eles nos são úteis para continuarmos a nossa tarefa" e "a língua portuguesa é uma das nossas principais causas, uma das nossas principais tarefas e missões", disse.
Sobre os 50 anos das independências, o secretário-geral da UCCLA defendeu que estes temas não devem ser vistos "como museus, em que é preciso ter muito cuidado da forma como se mexe nas peças para não partir nada e só observar e apreciar. Isso também, mas há mais do que isso".
"Acho que já há o distanciamento histórico, temporal e não só, e a maturidade suficiente para se olhar para todos estes momentos que nós vivemos com estes países, não só quando estávamos lá, como também os momentos de independência, de uma forma muito aberta, de uma forma muito sem contas históricas para ajustar, sem preconceitos".
E acrescentou: "Estes encontros de escritores permitem partilhar ideias, partilhar visões, partilhar opiniões, não só sobre arte, mas também sobre todas as outras áreas. Temos em comum muita coisa, mas a língua é fundamental. E ninguém melhor sabe cuidar da língua que os escritores. Ninguém. Eles são os principais cuidadores da língua", referiu.
Camões não podia faltar, até porque se assinala este ano o V centenário do seu nascimento, indo a UCCLA oferecer à cidade da Praia um busto do poeta que foi "o grande ajustador da língua portuguesa".
Vão participar no encontro, nomes como Israel Campos (Angola), Ozias Filho (Brasil), Adolfo Lopes, Arménio Vieira (à distância, com texto), Dina Salústio, Germano Almeida, Hélio Varela (por vídeo), Manuel Pereira Silva, Nardi Sousa, Paulo Veríssimo, Princezito e Sérgio Raimundo (Cabo Verde), Teresa Moure Pereiro (Galiza), Emílio Tavares Lima (Guiné-Bissau), Joaquim Ng Pereira (Macau/China), Sérgio Raimundo (Moçambique), Hélia Correia, Isabel Castro Henriques (vídeo), Manuel Alegre (texto), Ricardo Araújo Pereira (Portugal) e Alice Goretti Pina (São Tomé e Príncipe).
Participarão ainda o escritor Cláudio Silva, vencedor da edição deste ano do Prémio de Revelação Literária UCCLA -- Câmara Municipal de Lisboa: Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, e João de Sousa, da editora A Bela e o Monstro, responsável pela edição comentada de "Os Lusíadas".
"Todos eles têm um chão comum, que é esta língua com 260 milhões de pessoas, a língua mais falada no hemisfério sul", indicou Luís Campos Ferreira.
E concluiu: "Estes escritores são operários da língua, são cuidadores da língua, são médicos da língua; são aqueles que materializam a língua, a transformam em doces e em energia para as pessoas".
"IA só dominará a literatura quando sentir as dores dos escritores"
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Ventura pode ter tido a sua imagem em cartazes pelo país fora que não engana os eleitores. Os portugueses demonstraram distinguir bem os atos eleitorais.
Esquecemo-nos muitas vezes de que, para usarmos ferramentas de inteligência artificial, precisamos, na generalidade das situações e plataformas, de ser capazes de produzir um conjunto de instruções detalhadamente objetivas para conduzir o processo.