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Cesarianas aumentaram no SNS. Quais os riscos?

Sofia Parissi
Sofia Parissi 06 de maio de 2025 às 07:00
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"Caracteristicamente, os riscos de infecções, de hemorragias e de lesões são superiores num ato cirúrgico", afirma Fernando Cirurgião, diretor do serviço de obstetrícia do Hospital de São Francisco Xavier.

Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados em abril e avançados pelo jornal Público,revelam que cerca de 63% dos partos realizados nos hospitais privados em 2023 foram feitos com recurso a cesariana, o que significa que seis em cada dez partos são realizados dessa forma. No caso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o valor desce para metade, mas ultrapassa os 30%. 

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Quais os riscos associados a esta prática? "Estamos a falar de situações raras, mas elas podem acontecer e estão descritas: lesões de órgãos internos, lesões de órgãos abdominais (porque estão na proximidade), lesões da bexiga, lesões dos intestinos, lesões da parede abdominal, e riscos também associados à parte vascular, à parte venosa", diz à SÁBADO Fernando Cirurgião, diretor do serviço de obstetrícia do Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa. Tudo isto, porque "é um procedimento cirúrgico e está associado a uma recuperação física que, tipicamente, será mais demorada".

"Não é que não haja os riscos com o parto vaginal em certos casos, mas, característicamente, os riscos de infecções, de hemorragias e de lesões são superiores num ato cirúrgico", alerta o especialista.

No entanto, no que diz respeito às cesarianas programadas, relembra que também existem casais e mães que desejam que o parto seja feito com recurso a essa cirurgia, por "sentirem mais segurança". O especialista refere que esta preferência pode estar associada ao facto de hoje existirem mais gravidezes tardias.

"Isto faz com que, com alguma naturalidade, venham a ser bebés únicos e que [os pais] queiram salvaguardar tudo de forma a que não haja qualquer enviesamento, não haja qualquer fator que possa aqui interferir". Em certos casos, "aquilo que idealizaram era ter tudo o mais controlado possível naquele momento".

Em 2017, Portugal estava entre os 10 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com uma taxa de cesarianas mais elevada. Nos últimos anos, registou-se um aumento na percentagem total de partos por cesariana, que agora se situa nos 38%. Em 2021, situava-se nos 37,5% e, ainda antes, em 2016, era de 33%, de acordo com dados da Direção Geral da Saúde (DGS) e da Entidade Reguladora da Saúde (ERS).  

Este valor situa-se acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) - até 15% - e pela Associação Europeia para a Medicina Perinatal, que em 2024 recomendou que a taxa não ultrapassasse os 20%.

Fernando Cirurgião acredita que a falta de vigilância das grávidas contribui para o aumento da taxa no setor público, o que também pode estar relacionado com o encerramento rotativo das maternidades. "Esses encerramentos fazem com que facilmente uma grávida que é vigiada numa determinada maternidade, em dado momento vá ter o seu bebé numa outra maternidade, sem que a história clínica dela a acompanhe". No entanto, salienta: "Também temos muitas grávidas migrantes e muitas grávidas que não têm qualquer vigilância prévia".

Como possível solução, aponta a necessidade de uma melhor gestão das equipas e acredita que essa "até será a principal causa". Neste momento, "temos equipas médicas que acabam por não ser equipas médicas coesas. O facto de existirem poucos colegas com maior experiência e maior antiguidade a constituir essas equipas, leva a que, com toda a naturalidade, [os médicos] optem por cesarianas, que é a forma mais simples, mais rápida".

Para reverter esta situação, acredita que as entidades devem tentar cativar e manter os quadros clínicos adequados, contrariando "a saída de médicos especialistas do SNS". E acrescenta: "Está tudo relacionado com a saída de muitos obstetras dos quadros hospitalares".

Os dados avançados pelo Público revelam uma ligeira redução do número de cesarianas no privado, que em 2020 era de 67%, e em 2023 passou para 63%. Nos hospitais públicos registou-se um aumento de 29,9% em 2020 para 32,5% em 2023.

Segundo as estatísticas do INE, os hospitais privados efetuaram 15.500 partos (18,2% do total de partos) em 2023, o que significa que a maioria dos partos continua a acontecer nos hospitais públicos. 

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