Afonso Ferreira e Graça Sofia Nunes foram estudar o impacto das alterações climáticas no fitoplâncton e passarão quase um mês com 20 horas de luz por dia.
Desde 24 de janeiro, os dias dos investigadores Afonso Ferreira e Graça Sofia Nunes terminam com um filme, a jogar cartas ou "a fazer algo que nos ajude a descontrair e descansar após mais um dia". Seria algo normal, mas o que surpreende é o lugar onde o fazem: um navio polar em missão no noroeste da Antártida, para estudar os impactos das alterações climáticas no fitoplâncton.
Rodeados de água e gelo, os dois portugueses do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa são os únicos estrangeiros entre uma equipa de brasileiros a bordo do navio polar Almirante Maximiano, da Marinha do Brasil, o que se nota na dieta. "O ‘café da manhã’ é servido às 07h15. De seguida, iniciamos o nosso turno de trabalho das 07h30 às 19h30, contando com pausas para o almoço e jantar", conta Graça Sofia Nunes à SÁBADO. As refeições são "tipicamente brasileiras, arroz e feijão com proteína, o que não é nada mau, mas já dá para ter saudades da nossa culinária."
Todos os investigadores estão organizados por turnos "para garantir que o trabalho não fica por fazer". De momento, há 20 horas de luz por dia. Mas de "noite", "acabamos sempre por conviver com os restantes investigadores na ‘Praça das Armas’", relata a investigadora. "Alguns dos nossos colegas vão ainda regularmente ao ginásio."
Para chegar ao navio, os portugueses precisaram de apanhar dois voos comerciais, dois autocarros e um voo militar da Força Aérea Brasileira até ao Chile.
Estudar o fitoplâncton, das baleias às sardinhas
Esta investigação resulta de "uma parceria que já existe desde 2017 entre a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e a Universidade Federal do Rio Grande, no Brasil", explica Afonso Ferreira à SÁBADO, através da qual se "estuda a região da Península Antártica há cerca de 20 anos".
Insere-se no projeto ImpactANT, que visa "estudar como é que o ecossistema antártico está a alterar-se face às alterações climáticas", tendo em conta "o estudo de vários grupos biológicos, incluindo fitoplâncton, baleias e cetáceos e aves marinhas". O investigador salienta que obteve também "apoio financeiro do programa Polar Português, que todos os anos abre uma candidatura para pequenos projetos que decorram em regiões polares".
Para concorrer, Afonso Ferreira e Graça Sofia Nunes desenvolveram o projeto PHYTO-SHIFT, cujo "objetivo geral é estudar as comunidades de fitoplâncton na Antártida", e em particular perceber, "com o maior detalhe possível, a forma como o fitoplâncton está a responder às alterações climáticas". Nesta primeira fase, os investigadores pretendem "recolher imensa informação" para depois conseguirem "avaliar o uso de observações de satélite como ferramenta para estudar as comunidades de fitoplâncton antártico".
Arroz e feijão a bordo de um navio polar: a vida de dois portugueses na Antártida
Afonso Ferreira partilha que serão analisadas imagens do "novo satélite da NASA, o PACE, lançado em fevereiro de 2024" para "conseguir estudar e monitorizar as comunidades de fitoplâncton da Península Antártida através do espaço, algo que é extremamente difícil".
Mas porquê escolher a Antártida para estudar o fitoplâncton? Graça Sofia Nunes explica que "é um local com uma alta concentração de fitoplâncton devido à combinação de uma elevada disponibilidade de nutrientes, aliada à disponibilidade de luz solar durante o verão austral". "Tendo em conta que a Antártida é uma das regiões mais afetadas pelas alterações climáticas, é essencial perceber como é que o fitoplâncton está a responder a esta ameaça e quais os potenciais impactos dessa resposta para o resto do ecossistema", sublinha.
Afinal, continua Afonso Ferreira, o "fitoplâncton tem um papel essencial nos ecossistemas marinhos do planeta", "essenciais por transformar dióxido de carbono em oxigénio através da fotossíntese, permitindo que nós e os restantes animais possamos respirar adequadamente". É ainda "um alimento essencial para muitos organismos emblemáticos, inclusive a 'nossa' sardinha", o que significa que "qualquer alteração drástica no fitoplâncton pode ter consequências graves para o equilíbrio do ecossistema".
O projeto ImpactANT vai desenvolver-se entre 2025 e 2028 e conta com "quatro missões à Antártida, sempre com o apoio logístico da Marinha do Brasil no âmbito do Programa Antártico Brasileiro", refere Afonso Ferreira.
Os investigadores voltam a Portugal no dia 20 de fevereiro, mas ainda não tiveram muitas oportunidades para ir a terra. Afinal, "a investigação é exclusivamente realizada a bordo do navio". "Já tivemos a oportunidade de pisar em terras antárticas e visitar a Estação Antártica Comandante Ferraz, a base antártica do Brasil. Esta oportunidade permitiu-nos conhecer também a área ao redor da base brasileira e ver uma colónia de pinguins de perto", recorda Graça Sofia Nunes.
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