Colesterol. 10,5% dos doentes de alto risco são intolerantes a medicamento mais usado
Estudo realizado em Portugal revelou ainda que 20% dos doentes de alto e muito alto risco cardiovascular não estão a tomar medicação.
"Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o colesterol não vem apenas dos alimentos que ingerimos, mas é maioritariamente produzido pelo nosso organismo ao nível das células do fígado. Justifica porque muitas pessoas têm predisposição para ter níveis muito elevados de colesterol, apesar de poderem ter uma dieta equilibrada", relata à SÁBADO Cristina Gavina, diretora do Serviço de Cardiologia da ULS Matosinhos e investigadora principal do estudo PORTRAIT-DYS, que analisou cerca de 137 mil registos de doentes no norte de Portugal.
Uma recente conclusão deste estudo revelou que 10,5% da população de maior risco cardiovascular é intolerante às estatinas, os fármacos mais usados para controlar os níveis de colesterol. Trata-se de pessoas com elevado risco de doença cardiovascular ou que já sofreram da patologia.
É um valor "em linha com o valor reportado nos ensaios clínicos", de 9%. Mas em Portugal, 70% das pessoas tem os níveis de colesterol acima do recomendado. Segundo o Infarmed, são comercializadas seis estatinas: Atorvastatina, Fluvastatina, Pitavastatina, Pravastatina, Rosuvastatina e Sinvastatina. Esta última é a mais usada em Portugal, que numa análise de 2012 a sete países (Espanha, Itália, Portugal, Inglaterra, Dinamarca, Países Baixos e Alemanha) se destacou pelo baixo uso de Atorvastatina e Sinvastatina, mas maior consumo de Rosuvastatina.
"As estatinas são um grupo de medicamentos que tem como função inibir um dos passos da produção do colesterol no fígado, que é, aliás, o sítio mais importante na regulação do colesterol porque não só o produz como o consegue remover da circulação", sublinha Cristina Gavina.
Raramente, as estatinas podem ser tóxicas para o fígado, "só quando usadas em doses altas ou associadas a outros medicamentos que também afetam o fígado", explica a médica e investigadora.
A intolerância ao fármaco é sentida muitas vezes através de dores musculares, porque a enzima que as estatinas inibem estão presentes não só no fígado, "mas também nas células que constituem os músculos que usamos de forma voluntária, no sistema musculoesquelético".
Perante as queixas dos pacientes, os médicos costumam parar a estatina e trocar para outra. Contudo, "as pessoas interrompem frequentemente as estatinas por lhes atribuírem a causa de dores osteoarticulares, muitas vezes por doença degenerativa das articulações, recusando-se a tomar a medicação por medo de agravamento das queixas".
Com 10,5% da população de maior risco a ser intolerante às estatinas em Portugal, qual é a alternativa? "Existem outros medicamentos orais capazes de reduzir o colesterol, embora de forma mais modesta, como a ezetimiba e o ácido bempedóico", afirma Cristina Gavina. Outra opção são injeções de "anticorpos monoclonais inibidores da PCSK-9 e o inclisiran, mas são de dispensa hospitalar e estão reservadas para grupos selecionados de doentes pelo seu elevado custo".
Outra subanálise do PORTRAIT-DYS, que investiga o controlo do "mau colesterol" em pessoas com maior risco cardiovascular, revelou ainda que muitos doentes de alto e muito alto risco cardiovascular nunca foram medicados para controlar o colesterol. "O número de pessoas sem medicação pode chegar aos 20%", alerta Cristina Gavina. "Pode ser explicado pela resistência de médicos e doentes em iniciar medicação para uma doença que frequentemente não tem sintomas até ocorrer um evento que pode ser um enfarte agudo do miocárdio ou um AVC, mas que também pode ser a morte."
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