Cidades escondidas, uma máscara ornamentada e um manuscrito com mais de dois milénios, sobre como aproveitar a vida, representam avanços significativos e oferecem novas respostas.
Em 1922, quando o arqueólogo britânico Howard Carter, e o seu mecenas, Lord Carnarvon, descobriram o túmulo do faraó Tutankhamon, a arqueologia atingia um novo pico. As quatro câmaras do túmulo, completamente preservado, estavam repletas de objetos como carruagens cobertas de ouro, vasos de alabastro elaboradamente esculpidos, móveis embutidos e uma vasta parafernália de objetos pessoais de Tutankhamon, permitindo à comunidade científica uma análise profunda da figura do faraó.
Stelios Misinas/Reuters
Dois séculos antes, quando as forças francesas, comandadas por Napoleão Bonaparte, invadiram o Egito, em 1798, Bonaparte levou consigo um corpo de cientistas e eruditos que viriam a ser fundamentais na descoberta e tradução da Pedra de Roseta, dando início à possibilidade de compreender e traduzir hieróglifos egípcios na modernidade.
Ambas as descobertas permitiram à humanidade estudar, compreender e avançar em novas direções no que ao passado diz respeito, mas a tecnologia era limitada e deixava sem resposta um outro conjunto de mistérios. Agora, a comunidade começa a debruçar-se sobre achados até então inacessíveis, aliando técnicas antigas a tecnologia de ponta, e 2024 foi profícuo em resultados, segundo a National Geographic.
Cidades escondidas sob o solo
TugunbulakD.R.
O uso da tecnologia Lidar (Light Detection and Ranging, ou Deteção e Medição por Luz), um equivalente do radar e sonar que analisa o terreno com milhares de pulsos de luz laser a cada segundo, tem-se revelado fundamental na arqueologia. Embora a tecnologia já exista há décadas - foi primeiro usada na década de 1960, ainda que de forma rudimentar -, a sua capacidade de detetar vastas estruturas por baixo de camadas de vegetação, e mapear mudanças de paisagem, revolucionou recentemente a arqueologia.
Com a possibilidade de digitalizar amplas áreas de terreno de uma só vez, a Lidar tem sido especialmente útil para observar as selvas na América Central e do Sul. As descobertas deste ano incluem povoações maias em Campeche, no sul do México; uma paisagem de jardins, estradas e rios na floresta amazónica do Equador; ruínas antigas na ilha de Tonga, no Pacífico; e as ruínas de duas cidades medievais ao longo do percurso da Rota da Seda, no Uzbequistão.
Ler pergaminhos queimados através da Inteligência Artificial
Pergaminho de HerculanoD.R.
Em 79 d.C, a cidade de Pompeia, no sopé do vulcão Vesúvio, em Itália, viria a ficar eternizada pela erupção do mesmo. Habitantes, edifícios e pertences ficariam conservados pela cinza vulcânica, transformando a cidade num dos locais de maior interesse arqueológico na Europa, mas não foi a única. Oplontis, Estábia e Herculano foram igualmente afetadas, e foi nesta última que foram encontrados, no século XVIII, um conjunto de pergaminhos queimados, até agora impossíveis de ler, pela fragilidade do material.
Foi através da inteligência artificial que, no início deste ano, os investigadores tiveram pela primeira vez a possibilidade de aceder a partes do pergaminho, um dos cerca de 1800 descobertos entre as ruínas da cidade, a 16 quilómetros de Pompeia. O processo incluiu a digitalização de um destes aglomerados, com recurso a raios-X, e revelou 15 colunas de texto e mais de 2.000 carateres sobre como desfrutar da vida.
As origens do altar de Stonehenge
StonehengeToby Melville/Reuters
Monumento do período neolítico, situado no sudoeste de Inglaterra, Stonehenge tem vindo a despertar curiosidade sobre a sua origem e propósito desde a Idade Média. Em agosto deste ano, com recurso a tecnologia, os investigadores descobriram que a pedra do altar, perto do centro da estrutura, era feita de arenito originário da Escócia, país vários quilómetros a norte.
A descoberta abre uma nova porta sobre a magnitude da construção; da viagem - de cerca de 750 quilómetros -, entre a zona de extração até à planície de Salisbury, à colocação da pedra, com mais de seis toneladas, provavelmente sem o auxílio de rodas.
Estudos anteriores já haviam mostrado que as pedras verticais no seu círculo principal são cortadas de arenito local, mas as pedras azuis, mais pequenas, no seu interior, foram trazidas do sudoeste do País de Gales, a mais de 160 quilómetros de distância. A comunidade científica acredita agora que o monumento terá começado como um cemitério mas foi expandido, ao longo de milhares de anos, para se tornar num monumento religioso.
Uma máscara de jade e outros artefactos fúnebres maias
Ornamentada, feita de pedaços de jade - pedra rija, de cor esverdeada - entrelaçados com conchas para formar os olhos e dentes. A máscara é uma das mais recentes descobertas ligadas à civilização que ocupava os territórios dos atuais México, Guatemala, El Salvador, Belize e Honduras antes da chegada dos espanhóis, e foi encontrada no túmulo de um rei Maia em Chochkitam, Guatemala.
Através da datação por carbono, os especialistas determinaram que terá origem no ano 350 d.C., e acreditam que representa uma entidade maia das tempestades. Frequentemente feitas por ocasião de enterros reais, os entalhes feitos por faca ou cinzel de vidro de obsidiana vulcânica também decoravam o túmulo.
No mesmo local foram também encontrados um esqueleto de raia - simbolizando o sexo masculino -, 13 conchas de ostra espinhosa, três vasos de cerâmica e três ossos humanos embutidos com figuras e hieróglifos; troféus de guerra, acreditam os especialistas.
Além desta, a National Geographic cita também o processo de análise genética a vítimas de sacrifícios, encontradas perto da cidade de Chichén Itzá, na Península do Iucatão, México, bem como um depósito de restos mortais humanos queimados noutro local da Guatemala, que pode ter sinalizado uma mudança política.
A mais antiga sela alguma vez descoberta
Encontrada no túmulo de uma mulher no cemitério de Yanghai, na orla do deserto de Taklamakan, no noroeste da China, estima-se que tenha 2700 anos. À National Geographic, Patrick Wertmann, da Universidade de Zurique, principal autor de um estudo sobre o artefacto, publicado na Archeological Research in Asia, diz tratar-se de "uma surpresa".
Até à descoberta de Yanghai, as selas mais antigas pertenciam à cultura Pazyryk, natural das montanhas Altai, na Rússia, perto da China, Cazaquistão e Mongólia. Embora as selas Pazyryk tenham sido indiretamente datadas do século V a.C., Wertmann considerou que os Pazyryk foram pioneiros no seu uso ainda antes disso.
Esta sela agora descoberta é feita de couro e recheada com palha e pelo de animais, artigos orgânicos com tendência à rápida deteriorização, travada apenas pelo ambiente seco do deserto. Os especialistas consideram-na "bem trabalhada", ainda que fosse um artigo barato e prático, utilizado pelos pastores da região.
Um túmulo no deserto, em Petra
PetraJehad Shelbak/Reuters
Cidade histórica, no sul da Jordânia, é famosa pela arquitetura esculpida diretamente na rocha e desde 1985 que ostenta o selo de Património Mundial da Unesco. Em 2024 voltou a ser notícia pela descoberta de 12 esqueletos num túmulo sob o edifício do Tesouro (Al Khazneh), o mais reconhecido marco da cidade.
Com este achado, os especialistas esperam que seja possível aumentar o conhecimento que existe sobre o povo nabateu, um dos primeiros ramos do povo árabe, que começaram a enterrar os seus mortos em Petra no século IV a.C.; e no século II a.C.
Túmulos, amuletos e outros achados egípcios
Este verão, os investigadores anunciaram que haviam descoberto 33 túmulos no sul do Egito e 63 no Delta do Nilo, juntamente com amuletos de ouro, moedas e cerâmica. Estima-se que estes artefactos rondem os 2000 anos, o que os situa num período posterior da história egípcia, e os investigadores esperam que, através dos mesmos, possamos ter uma visão mais detalhada sobre as práticas funerárias daquela época.
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Só espero que, tal como aconteceu em 2019, os portugueses e as portuguesas punam severamente aqueles e aquelas que, cinicamente e com um total desrespeito pela dor e o sofrimento dos sobreviventes e dos familiares dos falecidos, assumem essas atitudes indignas e repulsivas.
Identificar todas as causas do grave acidente ocorrido no Ascensor da Glória, em Lisboa, na passada semana, é umas das melhores homenagens que podem ser feitas às vítimas.
O poder instituído terá ainda os seus devotos, mas o desastre na Calçada da Glória, terá reforçado, entretanto, a subversiva convicção de que, entre nós, lisboetas, demais compatriotas ou estrangeiros não têm nem como, nem em quem se fiar