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“O crime não compensa”. Os ex-narcotraficantes brasileiros que viraram podcasters

01 Sobreviventes é o novo projeto em que ex-criminosos relatam as suas histórias para inspirar os jovens a não seguirem uma vida criminosa.

Alexander, Robson, Patrick e Fábio são os ex-narcotraficantes brasileiros que se juntaram num projeto comum: um podcast com o intuito de afastar os jovens do mundo do crime. Em 01 Sobreviventes, os ex-líderes de tráfico em várias favelas - da Mangueira ao Morro São João - contam as suas histórias e entrevistam outros ex-criminosos. 

Instagram/Os Sobreviventes

No YouTube, onde partilham as suas entrevistas, já são seguidos por mais de 22 mil pessoas - e agora, a sua história foi contada no jornal britânico The Guardian. Todas as segundas-feiras, há um novo podcast. 

Nas conversas, falam da infância e da vida nas prisões, terminando com lições para os mais jovens. O objetivo, segundo reportou o organizador desta série de podcasts, Patrick Salgado Souza Martins, ao jornal The Guardian, é impedir que as gerações mais jovens brasileiras sigam o mesmo caminho. 

"Queremos ensinar aos jovens que o crime não compensa", acrescentou Alexander Mendes, de 50 anos, um ex-chefe do tráfico de droga conhecido como Polegar da Mangueira. "Perdi nove familiares neste conflito, e isso sem falar dos meus amigos". 

Alexander Mendes, que controlava a favela da Mangueira, chegou a ser um dos homens mais procurados do Rio de Janeiro, até à sua prisão em 2011, no Paraguai. Contou a sua história nesta série que conta apenas com três meses de existência.

"Eu perdi a minha juventude toda. Eu cheguei a Bangu [no Brasil] em 1994, com 20 anos, e saí em 2014. Quer dizer, eu saí três vezes da cadeia, mas fui super preocupado pela polícia", disse no quarto podcast

Alderico Medeiros foi também um outro convidado que esteve no podcast a contar a sua história de vida. Nasceu numa favela chamada Acari e quase morreu na prisão. 

"Quando eu não estava a ser preso, estava a levar um tiro. Quando não estava a levar um tiro, estava a ser sequestrado", disse ao The Guardian enquanto tirava a camisa para mostrar as cicatrizes de um tiro de AK-47.

Alderico Medeiros foi baleado oito vezes em confrontos com rivais ou com a polícia. Contudo, nenhuma história é mais surpreendente do que a do francês apelidado de "o Gringo", e que ao lado de Patrick, dirigiu o bairro do Vidigal, no Brasil, nos anos 90.

A verdadeira identidade do estrangeiro permanece um mistério, mas os jornais da época dizem que a polícia o conhecia pelo pseudónimo João Carlos dos Santos. De acordo com Patrick, o enigmático especialista francês em armas de fogo fugiu para o Rio de Janeiro, após escapar de prisões em França, Guiana e Paraguai.

"Ele parecia um pouco uma estrela de cinema: muito alto – 1,90 metros – cabelos loiros, olhos azuis. Ele tinha uma águia tatuada no peito, andava por aí com um enorme Dogue Alemão", contou ao The Guardian.

Um jornal chamou-lhe "o terror do Vidigal" e acusou-o de torturar um subalterno até a morte, depois de o ter denunciado à polícia. "Além de cortar as orelhas e a língua, ele encheu as orelhas do seu capanga com punhados de cocaína". Depois disso, disparou contra a cabeça, afirmou O Globo. "A sua língua e orelhas foram pregadas num poste", acrescentou o jornal.

Patrick afirmou que a carreira do Gringo só desmoronou quando este ganhou manchetes que anunciava um assalto com um sotaque em francês. Antes disso, O Globo alegava que era argentino. Dias depois, a polícia encurralou-o e ele explodiu-se com uma granada para evitar a captura.

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