A Meta acabou com os fact checkers oficiais e quer que sejam os utilizadores a corrigir as publicações falsas. Modelo teve sucesso no X, mas tem problemas de fundo.
A Meta deixou cair esta segunda-feira os verificadores de factos das suas redes sociais e substitui-los por Notas da Comunidade, seguindo as pegadas do X.
REUTERS/Peter DaSilva/File Photo
O anúncio de que a Meta iria desistir dos fact checks chegou três semanas antes de Donald Trump ser indigitado como presidente dos Estados Unidos. Mark Zuckerberg, o diretor da empresa anunciou várias medidas de alterações ao funcionamento das suas empresas e chegou a dizer no podcast de Joe Rogan que a administração Biden pedia várias vezes ao Facebook para limitar certas publicações. O diretor de assuntos globais da Meta, Joel Kaplan, citado pela agência de notícias, disse hoje que depois de terminar oficialmente "não haverá novas verificações ou verificadores", sendo que as sanções impostas pelo programa de verificação quando eram identificados conteúdos enganosos também serão eliminadas. O novo modelo começou a ser testado em março e a partir de hoje começa a substituir gradualmente o programa anterior no Facebook, Instagram e Threads para os utilizadores dos EUA.
Nas declarações que fez em vídeo, Zuckerberg anunciava a vontade de combater o "viés" político que afetava as suas plataformas e combater a "censura" que caía sobre as redes sociais, fazendo eco dos discursos da campanha trumpista e de Elon Musk. E foi exatamente no modelo do diretor da Tesla que a Meta baseou o seu sistema de notas de comunidade.
As notas das comunidades existem no antigo Twitter desde o final de 2024 e permitem aos próprios utilizadores da rede social o poder de escrever notas a sugerir correções, adicionar contexto ou desmentir publicações. As publicações surgem acompanhadas dessas notas de comunidade quando as mesmas são validadas por outros utilizadores. Se um número suficientemente elevado de pessoas considerar uma nota "útil", esta é publicada.
No seu vídeo de cinco minutos, Zuckerberg afirmava que os fact checkers do Facebook tinham demonstrado "demasiado viés político" e que tinham danificado a confiança dos utilizadores na capacidade da rede social ser isenta. A Meta trabalhava com 90 organizações independentes que ajudavam a fazer o fact check a publicações mais virais. Se as mesmas fossem declaradas como contendo conteúdo falso, a Meta iria reduzir o seu alcance.
A Meta ainda não anunciou como vão funcionar as suas notas de comunidade, mas os especialistas acreditam que seja num sistema semelhante ao do X. Atualmente para poder participar nas notas do X basta ser um utilizador com conta há mais de seis meses e um número de telefone ativo. Os autores das notas ficam anónimos.
O sucesso (moderado) das notas de comunidade
As notas de comunidade tiveram receções mistas. Investigadores descobriram que os utilizadores tendem a confiar mais em contexto fornecido pelas notas de comunidade do que por fact checkers "oficiais". Mas estas notas apresentam outras fragilidades.
A principal fragilidade está relacionada, segundo os investigadores ouvidos pelo Vox, com a lentidão das notas de comunidade. Na maior parte das vezes são mais lentas do que fact checkers oficiais, já que precisam de validação de terceiros antes de serem publicadas, o que pode permitir a que a publicação falsa de propague antes de ganhar a nota. Em outubro do ano passado, o Centro para Combater o Ódio Digital lançou um relatório em que demonstrava que as notas de comunidade não foram usadas em 74% das afirmações falsas disseminadas na rede X. O mesmo estudo afirmava que as publicações que de facto tinham notas de comunidade foram vistas 13 vezes mais do que as notas.
Existe ainda a questão da bolha favorecer uma nota de comunidade sobre outra, apesar do X assegurar que procura mitigar os efeitos de bolha, pedindo validação de utilizadores que estejam em espectros opostos. No entanto, não foi explicado como o algoritmo seleciona quem vai validar cada nota e como quem as sugere mantém o anonimato, pode perder-se a confiança na dita nota.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.