Como se explica as diferenças de opinião entre homens e mulheres?
A violência física está comummente mais associada aos homens e a violência psicológica às mulheres, mas com uma diferença que não é tão significativa assim. Ou seja, temos muitas raparigas também a exercer controlo nas suas relações, pelo que não se trata de comportamentos exclusivos dos homens.
Podemos concluir que para os homens a violência é mais normal? Porquê?
Existe a questão física, em que nos homens, por terem, normalmente, mais força, poderá prevalecer, mas o controlo e a desconfiança, nos dias de hoje, está muito presente quer entre homens como mulheres.
Podemos dizer que hoje os jovens estão mais violentos?
Não diria que estão a ficar mais violentos, porque não temos dados objetivos que permitam fazer essa afirmação. Sabemos, sim, que a violência prevalece, embora com manifestações diversas nos dias de hoje. Sabemos que existe menos violência física do que há algumas décadas, mas existe. Hoje há uma forma de violência muito menos visível e eventualmente mais ambígua que é a violência psicológica e as questões do controlo, nomeadamente através das redes sociais e dos telemóveis. Os jovens estão muitas vezes em relações de controlo e em que se pressionam para agir de uma certa forma, e para se comportar de uma certa forma.
Está-se a registar um aumento da conteúdos machistas e misóginos nas redes socais, acha que isso contribui para o aumento da violência? Quando se partilham os vídeos de comentários como "as mulheres só servem para ter filhos" ou que "não devem sair de minissaia com as amigas", o que deve ser feito?
Quaisquer tipos de ideias pré-concebidas que nos colocam num plano de desigualdade, seja entre homens e mulheres, ou outras dualidades, são potenciadoras do desrespeito e da violência, pois já estamos a olhar para outro numa situação desigual. Ao estar com um olhar desigual, coloca-me numa posição de poder sobre o outro.
Se eu acho que que a mulher não pode sair com as amigas, mas eu posso sair com os meus, ou que não pode vestir certo tipo de roupa e eu posso vestir o que me apetece, estou a colocar-me num plano de desigualdade. No final da linha, estes comportamentos podem levar à violência. Na verdade, esperar que "o outro" se comporte de uma determinada forma para servir os meus interesses, já pode em si mesmo ser uma violência.
Existe a ideia de que se bate por amor, que demonstra preocupação. Ao primeiro sinal de violência, o que deve o namorado/a vítima deve fazer?
Esta é uma questão central. Todos nós, cidadãos, não só cientistas ou académicos, temos de falar sobre violência, com filhos, sobrinhos, amigos e colegas, compreendendo que estes comportamentos não podem ter justificação.
Uma das ideias avaliada neste estudo é o mito do ciúme. A ideia de que alguém que é ciumento é porque me ama, olhando para o ciúme como sinal de amor. O ciúme não é sinal de amor em momento nenhum. O ciúme é sinal de insegurança e de tentativa de controlo.
Se estou numa relação verdadeiramente de amor e de confiança posso, eventualmente, sentir algum tipo de desagrado por um comportamento de outra pessoa, mas isso tem de ser dialogado, compreendido e enquadrado na relação. Não é o ciúme, no sentido de manifestação e de opressão sobre o que é que o outro pode ou não pode fazer. "Não podes falar com ele" ou "não podes falar com ela" são manifestações que vêm de um lugar de insegurança e de tentativa de controlar o comportamento de outra pessoa. Isso não é amar.
Acha que a sociedade ainda recrimina pouco estes comportamentos?
Diria que sim. Hoje tende-se muitas vezes a enquadrar comportamentos. "Ele fez isso porque estava nervoso" ou "ela só fez isso porque gosta muito de ti". Os comportamentos têm de ser enquadrados, de facto, mas daí a serem desculpabilizados ou aceites é um passo diferente.
Sempre que o comportamento de alguém nos faz sentir desconfortáveis e não conseguimos comunicar isso a essa mesma pessoa, temos de pedir ajuda. Falar com amigos em quem confiamos pode ajudar a perceber se algum comportamento que está a ocorrer na minha relação é "normal" ou não.
Uma vez ouvi uma colega dizer que há dois tipos de segredos na nossa vida: os bons e os maus. Os primeiros, são aqueles que queremos e devemos guardar. Os que são uma surpresa que estamos a preparar para alguém ou uma festa para um amigo. Esse é um segredo bom e que devemos guardar para nós. Mas os segredos que me deixam desconfortável e tudo o que me deixa reticente devemos partilhar com quem confiamos. Saber pedir ajuda é muitas vezes a coisa mais inteligente que podemos fazer.