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Condenado a pena de 400 anos era inocente e foi libertado

Íris Fernandes
Íris Fernandes 17 de março de 2023 às 10:06
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Depois de 34 anos preso na Florida, Sidney Holmes está finalmente em liberdade. Ficou provado em tribunal que a investigação que o condenou tinha várias falhas. "Nunca ia perder a esperança", disse Holmes à saída da prisão.

Sidney Holmes, 57 anos, foi condenado a uma pena de 400 anos, em 1988, por um assalto à mão armada. Após mais de 34 anos preso, foi libertado na segunda-feira, 13 de março, depois de um juiz ter anulado a sua sentença com base na revisão da prova que o condenou.

Carline Jean/South Florida Sun-Sentinel/Tribune News Service via Getty Images

Holmes cumpriu pena na prisão de Broward, Florida, porcarjackingem 1988 perto de Fort Lauderdale (Florida). Os acontecimentos remontam a 1988 quando um homem disse tê-lo visto ao volante de um Oldsmobile Cutlass castanho da década de 1970. Três semanas antes, o irmão da testemunha e uma mulher (casal vítima) foram assaltados por ocupantes de um veículo semelhante, de acordo com a Unidade de Revisão de Condenação (CRU, an sigla em inglês) deste caso.

Holmes já tinha sido condenado por conduzir carros de dois assaltos à mão armada, em 1984. No roubo de 19 de junho de 1988, a vítima disse que um Oldsmobile parou atrás do seu carro junto a uma loja de conveniência e duas pessoas abordaram-no apontando-lhe uma arma.

Em 2020, Holmes contactou a Unidade de Revisão de Condenação da Procuradoria do Condado de Broward para dizer que era inocente. Os procuradores acrediram que Holmes é inocente defendendo que tem um álibi forte e que foi condenado devido a um foco demasiado centrado no carro que conduzia e numa escolha enviesada das testemunhas. "O Ministério Público não o acusaria hoje com base nestes factos", disse o Ministério Público do Condado de Broward num comunicado na segunda-feira.

Para começar, ambas as vítimas descreveram a pessoa ao volante como sendo baixa e pesada. Mais tarde, essa pessoa foi identificada pelos procuradores como sendo Holmes, que tem 1,80m e, na época, pesava cerca de 83 kg.

O veículo, que se acreditava ser um Oldsmobile Cutlass dos anos 70, tinha um buraco onde a sua fechadura do porta-malas teria estado, segundo o CRU. Já o carro de Holmes tinha uma fechadura de porta-bagagens. Segundo o memorando, Holmes tinha seis pessoas disponíveis a testemunhar que ele estava na casa dos seus pais no Sul da Florida a celebrar o Dia do Pai quando o crime ocorreu.

Os revisores do caso, incluindo a Unidade de Revisão de Convicção, o Projeto de Inocência da Florida e um painel de revisão independente, também encontraram falhas no processo de identificação de testemunhas.

A vítima não identificou um suspeito, tanto no livro de 250 possíveis suspeitos como no alinhamento de seis fotografias, que incluía Holmes. No entanto, posteriormente escolheu Holmes num outro alinhamento de fotografias e apontou-o ao vivo como condutor do dia do assalto, no tribunal. O problema é que Holmes foi a única pessoa mostrada à vítima várias vezes. Um perito atual apontou falhas no processo, dizendo que este foi manchado pela repetida aparição de Holmes.

Segundo as conclusões feitas pelos investigadores, não havia fundamento para acusar Holmes. "Não há provas que liguem Holmes ao roubo", refere o mesmo comunicado da procuradoria. O procurador local, Harold F. Pryor, elogiou aqueles que participaram na nova investigação do caso. "Temos uma regra aqui na Procuradoria do Condado de Broward - fazer a coisa certa, sempre", disse.

À saída da prisão e já um homem livre, Holmes abraçou a mãe e disse aos repórteres: "Nunca ia perder a esperança. Sabia que este dia viria mais cedo ou mais tarde, e hoje é o dia".

Sentença de 400 anos

Holmes já tinha cadastro por condenações anteriores por assalto à mão armada e não identificou cúmplices inexistentes, por isso os procuradores pediram 825 anos. Por achar a pena excessiva, o juiz decidiu reduzi-la para 400 anos.

Apesar da longa pena, Holmes diz que não guardava rancor contra aqueles que o prenderam e o processaram. "Não posso ter ódio. Só tenho de continuar a andar", afirmou.

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