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Começa um papado onde não se esperam "sobressaltos revolucionários"

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 09 de maio de 2025 às 17:15
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Agora que já se sabe que Leão XIV é o papa eleito, a SÁBADO falou com os padres Anselmo Borges e Fernando Rosas sobre a continuidade das políticas de Francisco e os principais desafios para o novo papado.

Robert Prevostfoi na quinta-feira escolhido para suceder ao papa Francisco.O norte-americano de 69 anos é natural de Chicago, trabalhou na América Latina, especialmente no Peru, foi nomeado cardeal por Francisco e ocupava agora o cargo de prefeito do dicastério para os bispos.

Vatican Media via AP

A partir de agora será conhecido por Leão XIV e o padre e professor universitário em Coimbra Anselmo Borges considera que a escolha do nome já revela bastante sobre o que pretende para o seu pontificado: "Leão XIII, o último papa a escolher o nome Leão, foi o primeiro grande papa a escrever sobre a intervenção da Igreja nas questões sociais, se escolheu este nome é porque de certeza que se vai bater pela justiça, pelas grandes questões sociais e pela paz".

Nomeado cardeal pelo seu antecessor - há cerca de dois anos que era prefeito do dicastério para os bispos -, "falava com Francisco duas horas por semana". Anselmo Borges revela que "existiam estas reuniões semanais e uma boa relação entre os dois" pelo que "Leão XIV não vai voltar atrás": "É um moderado e está em linha com o papa Francisco".

Fernando Rosas, padre da diocese do Porto e professor universitário na Católica, concorda que vai existir "uma grande dimensão de continuidade" até porque "enquanto cardeal fez parte do caminho que está a ser agora vivido e muitas das pessoas que rodeavam Francisco vão manter-se próximas de si", mas vale a pena referir que "Leão XIV tem a sua própria história e personalidade".

Dentro da Igreja é visto como um reformista, no entanto, Anselmo Borges alerta que "não é tão revolucionário como Francisco e não devemos esperar sobressaltos revolucionários". Ainda assim, "não vai voltar atrás na defesa da paz, dos direitos humanos e da Igreja sinodal". "No seu primeiro discurso enquanto Papa voltou a referir que a igreja é de todos e que há espaço para todos", sem, porém, "se esperarem grandes avanços na participação das mulheres, na questão do celibato ou na ordenação de homens casados".

Robert Prevost "está muito bem preparado para o cargo, é missionário, conhece o mundo", garante Anselmo Borges que acredita que este vai ser um papado "marcado pela dimensão social". "Vai estar sobretudo muito atento aos mais pobres, abandonados e mais frágeis" e trabalhando para a "paz, solidariedade e justiça social". Fernando Rosas também destaca a dimensão de "abertura ao mundo e preocupação com os pobres": "Acho que vai ser um bom papa".

Sendo um norte-americano com experiência na América Latina, Anselmo Borges acredita que "vai ser melhorado o diálogo Norte-Sul", mas também "o diálogo inter-religioso e o diálogo ecuménico entre Igrejas, sempre com o objetivo de levar à paz". Já o padre da diocese do Porto acredita que, por ter estas duas dimensões, Leão XIV vai ser "capaz de dialogar com o mundo". "Temos de ser capazes de levar o Evangelho ao mundo, acreditando que a palavra de Deus tem alguma coisa para acrescentar à vida das pessoas".

Fernando Rosas explica que "é esperado que o caminho sinodal seja agora retomado", até porque se criou "um movimento imparável". Ainda que admita a "necessidade de fazer pequenas alterações e adaptações", espera que haja "continuidade na reestruturação da Igreja". O docente da Católica sublinha ainda que "as questões mais fraturantes" neste momento são "a participação das mulheres dentro da Igreja, que cada vez mais assumem um papel importante, e as questões relacionadas com a comunidade LGBT", apesar de assumir que "gostava de ver solucionada a questão dos divorciados".

Anselmo Borges refere ainda que, apesar de não ter sido referido no seu primeiro discurso, "a ecologia é muito importante para ele", "enquanto padre e cardeal falava muito da importância de conservarmos a nossa casa comum".

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