Mas a versão oficial não agrada à maioria dos norte-americanos que continuam a não acredita que Lee Harvey Oswald tivesse agido sozinho. Aliás, uma sondagem da Gallup, de 2013, indicava que 61% não acreditava na versão oficial.
O facto do Arquivo Nacional dos Estados Unidos ter mais de 5 milhões de páginas de registos fechados não ajudou. Contudo, desde o fim da década de 90 que têm vindo a ser desclassificados e partilhados com o público. No site é possível consultar uma parte e em 2017 Trump desclassificou mais documentos.
Em janeiro, assim que tomou posse decidiu tornar públicos mais documentos. Aliás, o atual presidente norte-americano ordenou ainda que documentos sobre outros dois famosos homicídios fossem desclassificados. Falamos do reverendo Martin Luther King a 4 de abril de 1968, e do irmão de JFK, o senador Robert F. Kennedy, assassinado a 6 de junho de 1968.
Mas com uma guerra na Europa, uma crise no Médio Oriente, problemas económicos, por que motivo Trump decidiu anunciar este facto como se fosse um assunto de extrema importância? "Uma das dimensões do fenómeno Trump é explorar algumas ideias mais básicas do imaginário americano e alimentar as teorias da conspiração para sustentar que está do lado do povo e afronta o "poder obscuro"", explica à SÁBADO Germano Almeida, especialista em política internacional.
E vai mais longe: "As mortes dos Kennedy, sobretudo a de JFK, mas também a do irmão Bobby, entram em todos os ítens. 'Muitas pessoas esperaram por este momento durante longas décadas. Tudo será revelado', anunciou Trump. Está aqui tudo, dentro da narrativa populista que ele explora: ele chega para dar às pessoas o que até agora estaria a ser escondido." Mas entre os documentos, os que estão a gerar mais interesse são os de JFK. Afinal estamos mais perto de terminar com as especulações? Conheça o que pode ser encontrado nos arquivos.
Porque é que Trump quer desclassificar os documentos sobre o homicídio de JFK?
O presidente dos EUA defende que existe interesse público e que todos os documentos relacionados com o assassinato de JFK devem deixar de ser secretos. Ao longo dos anos têm sido desclassificados vários registos, mas nunca houve uma decisão para libertar tudo. Além disso, o público ficou sempre a questionar-se por que motivo não foram logo desclassificados todos. Ficava sempre a pairar uma suspeição de que estavam a esconder alguma coisa. Por isso, desta vez vão ser disponibilizados cerca de mais quatro mil documentos.
Foi em 2017 que foram desclassificados cerca de 17 mil documentos, durante o primeiro mandato de Trump. Mas o presidente foi criticado por não ter posto em prática a sua teoria de total transparência, ao referir que os documentos seriam libertado ao longo de três anos. Parece que desta vez quis despachar logo este assunto. Mas será que mesmo essencial? "Não vejo que vantagem isto possa ter. Se algo relevante já deveria ter-se sabido, já o teríamos sabido há décadas. Estas desclassificações apenas desfocarão ainda mais o foco que devemos ter sobre várias decisões altamente danosas para os americanos e para o mundo que Donald Trump já fez desde 20 de janeiro passado", conclui Germano Almeida.
O que é que os documentos já revelaram?
São milhões de documentos da CIA e do FBI que se encontram no site do National Archives e até hoje os investigadores, curiosos e políticos não descobriram nenhum facto que tenha alterado a história oficial. Segundo a NBC, uma das revelações mais interessantes até agora do arquivo era a notícia de que um agente da CIA tinha lido a correspondência de Oswald um ano antes do assassinato. Nem isso alterou a conclusão das autoridades, de que foi Oswald sozinho a engendrar o plano para matar JFK.
Quem quiser procurar outro tipo de factos terá de esperar pelo menos 60 dias até estarem acessíveis. E, na verdade, segundo revelou a NBC só 3% dos documentos ainda não são conhecidos. Especialistas norte-americanos não acreditam que se consiga revelar algum facto capaz de mudar a História. Germano Almeida concorda. "Sinceramente, não creio que seja um tema minimamente relevante para os dias que correm. Já passaram várias décadas, o mundo está muito diferente e o Presidente dos EUA devia ter outras prioridades e outras preocupações."
A desclassificação dos arquivos vai pôr fim às teorias da conspiração ou vão surgir mais?
Até hoje e desde 1963, as hipóteses que foram colocadas em cima da mesa para perceber o que aconteceu naquele dia são muitas. Os números são claros, segundo o procurador Vincent Bugliosi já foram associados ao assassinato de JFK 42 grupos diferentes, 82 assassinos e 240 pessoas suspeitas do seu envolvimento.
Germano Almeida defende que conhecer-se a verdade vai ajudar a esclarecer o caso. No entanto, as motivações do atual presidente dos EUA são outras. "Trump quer alimentar [as teorias da conspiração], não tem a mínima intenção em esclarecer. Aliás, a desclassificação em nada esclarece: o que pôde ter sido investigado foi-o em tempo útil. Não se ter sabido, na altura, quem matou JFK revela que estamos perante um caso em que há muito para alimentar em especulação do que propriamente para esclarecer. Trump gosta de projetar a ideia de que o deep state (estado profundo) mente e esconde, manipulando as peças na sombra e à custa do "povo". Há nesta decisão de Trump apenas e só a intenção de mostrar à sua base que ele, agora no poder, vai desmontar esse suposto deep state."
Aliás, o jornalista que tem um programa no canal Now e analisa a política norte-americana há mais de 20 anos, defende que a intenção será criar mais teorias. "Temo que as revelações públicas dos arquivos recoloquem na agenda mediática e na discussão pública temas que poderão nunca ter vindo a ser totalmente clarificados e, mais do que revelações ou certezas, sobrevenham essencialmente dúvidas e suspeitas. E, sim, pode ter esse efeito de apenas contribuírem para aumentar o número de teorias da conspiração."
Quais são as teorias da conspiração mais faladas?
Uma das hipóteses mais debatidas é que o homicídio teria sido ordenado pelos russos. Isto porque Lee Harvey Oswald, depois de deixar os Fuzileiros, desertou para a cidade de Minsk, na União Soviética. Outra versão, está relacionada com crise da Baía dos Porcos, portanto as relações com Cuba eram tudo menos pacíficas. Logo, teria sido Cuba a orquestrar o assassinato. E Oswald tinha ligaçoes ao regime de Fidel Castro: participou num grupo a favor do regime castrista nos EUA.