Sábado – Pense por si

GeraJazz: uma orquestra que ensina muito mais do que música

A SÁBADO esteve em dois ensaios do GeraJazz, projeto de Jazz da Orquestra Geração, onde as crianças partilharam a importância que a música tem na sua vida e a forma como as ajudou a construir uma comunidade.

Ao entrar no pavilhão da Escola Básica Noronha Feio, em Linda-a-Velha, conseguimos ouvir o barulho dos instrumentos tocados pelas crianças da GeraJazz, dentro de uma pequena sala de aula onde foram afastadas as mesas e alinhadas as cadeiras para criar a organização de uma orquestra e onde decorre mais um ensaio do grupo.  

Vítor Mota/Sábado

Cerca de vinte jovens tocam coordenados por Eduardo Lála, maestro e fundador do projeto, que conta com o núcleo de Oeiras, sede na Escola Básica Noronha Feio, e com a Orquestra GeraJazz, uma orquestra juvenil onde jovens de outros núcleos da Orquestra Geração se reúnem, muitos deles mantendo o vínculo depois de terminarem a idade escolar. 

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O objetivo é o desenvolvimento social de jovens e crianças através da música, "ao estarem inseridos numa comunidade onde reconhecem a importância do papel de cada um e aprendem a seguirem regras", explica Eduardo Lála. "Não é só a parte musical que trabalhamos na Orquestra Geração", garante o maestro. É também por isso que "não há provas de admissão": "Desde que haja vaga todos os alunos são incluídos".

Dinis, 11 anos, e João, 10, são dois dos mais recentes membros, ambos são já a segunda geração da família a participar, depois dos irmãos mais velhos. João, que está no 5.º ano e a aprender a tocar guitarra, partilha que apesar de ainda ficar "um bocadinho nervoso" antes dos concertos "é muito divertido estar com toda a gente e ouvir os sons de todos os instrumentos juntos porque na música soa toda muito bem". Já Dinis, que frequenta o 6.º ano e toca trombone, refere: "Há muito trabalho de equipa porque o professor dá as indicações e nós temos de as traduzir no instrumento".  

Neste grupo falámos também com alguns dos alunos mais velhos, Sebastião Claro, de 14 anos frequenta o 9.º ano e está no GeraJazz há cinco anos. Foi aqui que começou a tocar trombone e partilha que tal só foi possível com "muito trabalho em casa": "Acho muito fixe o projeto disponibilizar os instrumentos para levarmos para casa. De todos os sítios que estive a ver para tocar este é o único que é de graça e que tem essa benesse de nos deixar levar os instrumentos".

"Para chegar às comunidades precisámos de um sistema que permita dar o acesso a todos, independentemente da sua situação económica", explica Eduardo Lála para justificar que todos os instrumentos são adquiridos pela Orquestra Geração e depois disponibilizados aos alunos, fazendo com que estes possam levá-los para casa para treinarem enquanto fazem parte do projeto: "Tudo o que fazemos na Orquestra Geração é feita de forma gratuita para os alunos".

Sebastião refere que já não frequenta a Escola Básica Noronha Feio, mas que se mantém no grupo porque continua a ser "relativamente fácil". Já sobre o seu futuro na música existem ainda poucas certezas, no entanto garante: "Gostava de seguir música, mas mesmo que não dê vou continuar a tocar".

"O grande objetivo não é que eles venham a ser músicos. Acontece muito porque a maior parte ganha uma paixão muito grande pelo que estão a fazer, mas não é o nosso objetivo", completa Eduardo Lála. Exemplo disso é Maria, que conhecemos noutro ensaio da Orquestra GeraJazz. O jazz entrou na sua vida quando frequentava a escola básica e pertencia ao núcleo de Sintra da Orquestra Geração e agora com 21 anos frequenta um curso superior de Jazz na Escola Superior de Música de Lisboa: "Foi através disto que comecei no Jazz, consegui ir para a universidade e perceber que é disto que eu gosto".

Apesar de estudar música durante a semana guarda os seus domingos para o ensaio da Orquestra GeraJazz e reforça o sentimento de comunidade: "Foi aqui que comecei, tenho muitos amigos e gosto de tocar com eles". 

Um desses amigos é João Barroso que aos 23 anos também se mantém na Orquestra GeraJazz. Depois de sair da escola quis manter o contacto com o grupo, mas a "vida de adulto" fez com que fossem necessárias algumas adaptações. Antes tocava tuba "mas requeria muito mais tempo de estudo e muito mais logística" então mudou para o baixo de forma a conseguir manter-se por perto.  

João relata que a música, e a Orquestra em específico, é "algo que não pode faltar": "Posso não conseguir vir a todos os ensaios por causa do trabalho, mas arranjo sempre uma forma de cá vir. É mesmo fundamental".