Quando caem acidentalmente numa piscina, as crianças ficam desorientadas e podem não saber o que fazer. É preciso dar-lhes ferramentas para conseguirem sair ilesas. Raquel Urbano ensina estas competências a bebés e crianças no curso de sobrevivência aquática. Mas, alerta, nada substitui a supervisão dos pais.
Saber nadar pode não ser suficiente. Raquel Urbano percebeu isso da pior maneira quando apanhou um susto com o seu filho – que a fez mudar completamente a sua vida. A antiga engenheira alimentar, de 51 anos, fundou uma instituição que dá cursos de sobrevivência aquática a bebés e crianças. Notícias como a do passado sábado, dia 31 de maio, quando foi conhecido que um menino de quatro anos tinha morrido afogado numa piscina na Baixa da Banheira – em circunstâncias ainda por apurar – sublinham a pertinência do trabalho que desenvolve e também despertam os pais.
"É verdade que recebo mais telefonemas quando há notícias destas, ainda hoje tive contactos de pais de todo o País", diz à SÁBADO, numa conversa telefónica. O afogamento é a segunda maior causa de morte acidental em crianças e esta é uma "morte rápida e silenciosa", alerta a fundadora do Instituto de Sobrevivência Aquática de Bebés, que está sediado no Porto – e é certificado pela entidade internacional, Infant Swimming Resource, dos Estados Unidos.
O curso destina-se a dar ferramentas à criança no caso de ela cair à água, para que possa sobreviver sozinha. "Ensiná-la a respirar na água corretamente, quando deve submergir (é sempre depois de uma inspiração) e também a saber flutuar", detalha. As aulas são focadas nos pontos em que os miúdos normalmente têm mais dificuldades, como o "saber virar para flutuar, porque normalmente caem de cabeça", esclarece. Daí que o nadar, por si só, não baste.
A instrutora não desconsidera a natação convencional. Sublinha que o contacto com a água "é muito bom" e que ajuda as crianças a ficarem confortáveis com o meio, mas lamenta que a aprendizagem seja longa. "Se têm um acidente não sabem o que fazer, ficam desorientados debaixo de água", diz à SÁBADO. Sabe-o por experiência própria. Há uma história pessoal por trás da sua mudança de percurso. Quando o seu filho tinha dois anos e meio, hoje tem 14, caiu na piscina dos seus sogros. "Era a festa de aniversário da minha sobrinha, o ambiente onde estas coisas acontecem porque achamos que está sempre alguém a ver, e não está", aponta.
Desviou o olhar por um segundo, para mudar a música no computador, e o seu filho caiu. "A minha sobrinha viu e conseguiu agarrá-lo e eu retirei-o logo, mas apanhei um susto valente. Ele andava na natação desde os seis meses, já saltava da piscina e vinha até à borda", recorda, incrédula. Foi esse o momento de viragem que a fez dedicar-se a este trabalho. Em 2020, foi para os Estados Unidos tirar um curso na empresa líder destas formações em termos mundiais e quando regressou fundou este instituto, em 2022.
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O curso de sobrevivência aquática é dirigido a crianças dos seis meses aos 6 anos e é intensivo: são seis a oito semanas com sessões diárias, de segunda a sexta-feira, de apenas 10 minutos. O tempo limitado tem uma razão: o bem-estar da criança. "Durante a aula estou sempre a controlar a temperatura e a distensão abdominal, que tem a ver com o ar que engolem e não com a água", esclarece. "Se a criança estiver com frio fica desconfortável", acrescenta. Dá aulas em piscinas municipais, em ginásios e na casa das pessoas, mas é preciso que a água seja aquecida – no mínimo a 28 graus.
Aprendizagem é sensorial
As sessões são individuais, só a instrutora e a criança (ou bebé) entram na água – os pais podem ficar a assistir – e diferem consoante a idade. Dos seis meses até aos 2 anos, aprendem sobretudo a virar debaixo de água e a ficar a flutuar. Os mais velhos aprendem também a nadar, de forma muito primitiva, até a um sítio onde fiquem em segurança. Como a borda de uma piscina, por exemplo. Raquel Urbano também tirou recentemente o curso de instrutora de natação, para os pais que querem dar continuidade ao treino da criança.
Revela que os bebés têm muita facilidade em flutuar e aprendem rápido, a dificuldade neles (assim como nos mais velhos) é mesmo o virar debaixo de água. "Têm de ser ensinados, mas para a esquerda ou para a direita é indiferente", diz.
O treino não exige muita conversa, a aprendizagem é sobretudo sensorial e motora. "Eles aprendem através dos sentidos e do toque. No início dá-se algum suporte de mãos, para os ajudar a virar, depois só com os dedos e no final já fazem sozinhos", explica. No final do curso há duas sessões diferentes: uma em que a criança entra na piscina com roupa de primavera e outra em que entra com roupa de inverno. "De casacos e botas mesmo, porque estes acidentes podem acontecer em qualquer altura do ano e normalmente acontecem com as crianças vestidas", diz a instrutora.
Desde 2022, Raquel Urbano já deu entre 40 a 50 cursos, sobretudo na zona norte, onde vive – mas está disponível para ir a qualquer zona. Além dela, só há apenas mais uma pessoa no País a dar este tipo de formação. Vai iniciar em breve um curso em Braga e em agosto estará em Lisboa, em Setúbal e no Seixal. O preço dos cursos varia entre 500 a 650 euros.
A instrutora observa que desde a pandemia os casos de afogamento dispararam. "Muitas pessoas resolveram construir piscinas quando estavam fechadas em casa, e nessa altura nem havia aulas de natação", nota. Considera que os números impressionam e recorda uma história do ano passado que a impressionou.
"Estava a dar um curso em Miramar a um bebé de sete meses e, quando saí, soube que ali perto do sítio onde estava tinha acontecido uma tragédia: uma família numerosa, que eu conhecia de vista, estava a fazer as malas para ir de férias. Tinham um bebé pequenino. Os pais estavam atarefados e nem repararam que a criança foi a gatinhar para a água e acabou por ficar na piscina. Vou recordar isto para toda a vida", conta, emocionada.
Considera o seu trabalho como "uma missão de vida", mas gosta de sublinhar que nada – nem mesmo este curso – exclui ou substitui a supervisão dos pais. "Porque os acidentes acontecem", alerta. O conselho para todos os progenitores é que atuem na prevenção: pondo alarmes em casa, nas portas e janelas, proteções nas piscinas e fazendo um curso de socorrismo. Para saberem lidar com situações destas, mas também com outras coisas que podem acontecer às crianças, como um engasgamento ou um sangramento do nariz.
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