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Adultos portugueses com menos competências para a mudança do que a média da OCDE

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 10 de dezembro de 2024 às 10:16
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O Programa Internacional para a Avaliação das Competências dos Adultos avaliou 31 países da OCDE em literacia, a numeracia e a resolução de problemas.

Quarenta por centro dos adultos em Portugal têm uma performance baixa em literacia, numeracia ou resolução de problemas.  

Esta é uma das conclusões do relatório Os adultos têm as competências que precisam para prosperar num mundo em mudança?, enquadrado no Programa Internacional para a Avaliação das Competências dos Adultos (PIAAC) promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).  

O relatório, que tem por base dados recolhidos em 2022 e 2023 em 31 países e economias: Alemanha, Áustria, Canadá, Chéquia, Chile, Coreia do Sul, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Estónia, Finlândia, França, Hungria, Inglaterra, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Letónia, Lituânia, Nova Zelândia, Noruega, Polónia, Portugal, Países Baixos, Região flamenga da Bélgica, Singapura, Suécia e Suíça. 

O estudo foi focado em três competências diferentes, a literacia, a numeracia e a resolução de problemas e os dados expõem que Portugal é um dos 11 países que está abaixo da média da OCDE nos três domínios.  

Cerca de 40% dos adultos que vivem em Portugal encontram-se no nível um ou abaixo no que toca à proficiência em literacia enquanto apenas 20% estão no nível três ou quatro, valores que se mantém na resolução de problemas quanto ao nível um ou abaixo mas que nos níveis 3 e 4 volta a diminui, não chegando aos 20%. Novamente 40% dos adultos portugueses apenas conseguiram classificações no nível um ou abaixo em numeracia, mas a percentagem que atingiu o nível três ou quatro aumentou, chegando aos 30%. 

Portugal é ainda o segundo país onde mais adultos apresentam uma performance baixa em mais do que um domínio, a seguir ao Chile, com 30%. Cada um dos domínios foi avaliado tendo em conta os processos cognitivos, estratégias mentais, conhecimento, representações e situações a que o processo cognitivo se aplica.

O estudo tentou avaliar também a eficácia política, ou seja, confiança de um adulto na sua capacidade de entender e influenciar assuntos políticos, confiança nos outros e propensão para o voluntariado. Assim como a relação destes com as competências avaliadas no estudo.

Os resultados mostram que na maioria dos países a proficiência para as três competências têm uma relação positiva com a participação cívica. A participação cívica, em especial, é geralmente maior entre os adultos qualificados, no entanto, Portugal, assim como a Hungria, Polónia e Espanha vão contra a corrente e são os adultos mais qualificados que relatam menores níveis de participação cívica.

Este é o segundo relatório publicado no contexto do PIAAC, tendo sido o primeiro em 2011/2012, é referido que em todas as competências houve uma manutenção da proficiência ou uma diminuição. Neste contexto, a OCDE define literacia como "aceder, perceber, avaliar e refletir em textos escritos de forma a alcançar os objetivos, desenvolver conhecimento e potencial e participar na sociedade", numeracia como "aceder, utilizar e raciocinar de forma crítica o conteúdo matemático, informação e ideias representadas de várias formas para envolver-se e completar as necessidades matemáticas de uma gama de situações da vida adulta" e capacidade de resolver problemas "a capacidade de alcançar um objetivo numa situação dinâmica em que o método para a solução não está imediatamente disponível".   

A média entre os adultos dos 16 aos 65 dos países da OCDE que participaram no estudo é 260 para literacia, 263 para numeracia e 251 para a resolução de problemas numa escala de 500. Adultos na Finlândia têm a taxa mais alta de literacia 296 e de numeracia 294 enquanto partilham o primeiro lugar em resolução de problemas com o Japão, com 276 pontos. Já Portugal tem uma taxa de literacia de 235, de numeracia de 238 e de resolução de problemas 233, estado sempre abaixo da média da OCDE.  

No geral, a faixa entre os 55 e 65 anos apresenta pontuações mais baixas do que os mais jovens nos três domínios.  

Os níveis educacionais mais altos são associados a uma maior proficiência nos três domínios. A maior diferença é verificada na literacia, onde os adultos com educação universitária, nível 6, têm uma pontuação 33 pontos acima daqueles que têm uma formação pós-secundária, nível 5, estes, por sua vez, têm uma pontuação 43 pontos maior de todos aqueles que não têm formação pós-secundária.

A diferença entre sexos é bastante pequena, as mulheres têm uma pontuação 3 pontos mais elevada do que os homens em literacia enquanto os homens pontuam dez pontos a mais em numeracia e mais dois pontos em resolução de problemas.

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