Religiosa e com ligações à extrema-direita, a família de Émile "é quase mística"
Criança de dois anos desapareceu na adeia de Hout-Vernet, França, no passado sábado durante uma suposta reunião familiar na casa dos avós.
Depois de cinco dias, as buscas que juntaram a polícia aos populares para tentarem descobrir o paradeiro de Émile chegaram ao fim, sem sucesso.
Toda a família da criança de apenas dois anos se reuniu na noite de quarta-feira para uma cerimónia religiosa numa pequena capela na aldeia Hout-Vernet, onde a família passa férias há cerca de 20 anos e onde Émile desapareceu. À família juntaram-se apenas alguns habitantes locais mais próximos.
Na aldeia dos Alpes eram conhecidos por terem um papel bastante ativo dentro da comunidade católica. A família organizava todos os anos um concerto de música na igreja, no qual a mãe e os cinco tios maternos costumavam cantar e tocar instrumentos, e os avós participavam em várias outras atividades.
A mãe de Émile, Marie, utilizou o Facebook para pedir que rezassem pelo seu filho e confiou o destino da criança a uma freira, Benoîte Rencurel, que, segundo as histórias, há vários séculos se terá perdido nas montanhas e encontrado o caminho para casa com a ajuda de um anjo que apareceu para a salvar.
Apesar de num primeiro momento os avós terem referido que estavam sozinhos com a criança quando esta desapareceu, o canal francês BFMTV avançou que no fim de semana passado terá acontecido uma reunião familiar que juntou pelo menos uma dúzia de tios e primos da criança na aldeia. Um vizinho garantiu ainda ter visto Émile a brincar com outras crianças da família na manhã de sábado.
Na tarde em que desapareceu, por volta das 16 horas, Émile - acabado de acordar da sesta - terá aproveitado "a confusão" gerada por um momento em que vários elementos da família se preparavam para dar um passeio, para sair de casa, avançou o autarca de Haut-Vernet, François Balique.
A criança ainda foi vista por duas testemunhas numa rua perto da casa dos avós mas não fizeram nada pois é muito comum as crianças brincarem na rua naquela aldeia remota.
O pai, Colomban S., é o mais velho de 10 irmãos e tem ligações a grupos de extrema-direita. O engenheiro de 26 anos recusou-se a falar com os órgãos de comunicação social desde o momento do desaparecimento de Emilé mas é conhecido que esteve ligado ao grupo Bastião Social de Marselha, um movimento político já dissolvido mas que tinha como principal objetivo a defesa do nativismo e da remigração, ao qual Marie também se juntou mais tarde.
O grupo foi responsável por vários ataques racistas e Colomban chegou a ser chamado a tribunal, em 2018, por ter sido acusado, juntamente com outros membros do grupo, de espancar dois jovens em Marselha. Já em 2021, durante as eleições regionais, o pai de Emilé fez campanha pelo partido ultranacionalista Reconquête, de Eric Zemmour. O nome de Colomban S. pertencia até à lista eleitoral que prometia "desfazer o sistema".
Aos meios de comunicação franceses um vizinho referiu que a família é muito "unida, quase mística" garantindo ainda: "Claramente, eles refugiam-se na religião para enfrentar esta tragédia". Outro afirmou: "Funcionam como um clã. No verão, às vezes fazíamos um churrasco com todos os vizinhos, mas eles nunca iam".
Todos os membros da família presentes já foram interrogados pelas autoridades.
Nos últimos cinco dias, centenas de elementos das forças de segurança juntaram-se a centenas de voluntários para percorrerem cerca de 12 hectares de terreno à volta da aldeia. Foram ainda investigadas 30 casas, 12 veículos e interrogadas 25 pessoas. No entanto, a única pista encontrada foram vestígios de sangue num veículo, que mais tarde se revelou pertencer a um animal.
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