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Marcelo pede a jornalistas que sejam "anti-poder"

12 de janeiro de 2017 às 20:50

"Nunca esquecer que o jornalismo só tem poder se nunca se vergar aos poderes políticos, económicos, financeiros, sociais, formais ou informais vigentes", disse o Presidente da República

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou-se esta quinta-feira preocupado com a situação da comunicação social e a precariedade nesta profissão e pediu aos jornalistas que não desanimem e sejam anti-poder.

 

O chefe de Estado, que falava na sessão de abertura do 4.º Congresso dos Jornalistas, no cinema São Jorge, em Lisboa, foi aplaudido quando deixou este apelo: "Nunca esquecer que o jornalismo só tem poder se nunca se vergar aos poderes políticos, económicos, financeiros, sociais, formais ou informais vigentes, antes deles se mantendo distanciado e perante eles permanentemente crítico, se quiserem, sendo um anti-poder, nesse sentido".

 

"E acreditar sempre, porque se há experiência que o trabalhar em jornalismo tem em comum com o ensino é o apelo diário a não desanimar, a não desistir, a não renunciar, a pensar nos outros, no dever de testemunhar, no dever de servir, no dever cumprir uma missão comunitária. Nunca cedam, nunca desesperem, nunca abdiquem dessa vossa missão", rematou.

 

A presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, defendeu por seu turno que "não há jornalismo sem jornalistas", sublinhando que a "liberdade de imprensa é uma causa dos cidadãos".

 

Na sua intervenção, Sofia Branco considerou que os salários dos jornalistas "são indignos para a responsabilidade social que a profissão tem", no dia em que foi conhecido que a maioria destes profissionais recebe menos de mil euros líquidos por mês e um terço trabalha com vínculo precário, de acordo com o resultado do inquérito do ISCTE divulgado esta quinta-feira. A presidente sublinhou ainda que a "liberdade de imprensa é uma causa dos cidadãos" e não somente dos jornalistas.

 

"Estamos na mais grave crise das nossas vidas profissionais", afirmou, depois, Goulart Machado, presidente da Casa de Imprensa, salientando ainda que nos últimos 18 anos "muitos jornalistas abandonaram a sua profissão". "A tecnologia que nos dá extraordinárias ferramentas cria a ilusão disparatada de que somos, em certa medida, dispensáveis", sublinhou.

 

Goulart Machado referiu ainda que o Congresso dos Jornalistas "não é um momento de catarse", esperando que as conclusões resultem num mapa que "indique o caminho".

 

Mário Zambujal, presidente do Clube de Jornalistas, recordou, na sua intervenção, o antigo Presidente da República Mário Soares, falecido no sábado, aos 92 anos, que gerou uma forte salva de palmas por parte da audiência. "Também ele [Mário Soares] fez questão de estar presente no congresso de 1986", afirmou, salientando que "tanto Soares como Marcelo (Rebelo de Sousa, presente na sessão de abertura] representam a liberdade de imprensa".

 

Maria Flor Pedroso, presidente do quarto Congresso dos Jornalistas, sublinhou que a independência, credibilidade, rigor, pluralidade, isenção "não podem ser substantivos" usados pelos profissionais sem estes se interrogarem sobre o seu significado. "O jornalismo não pode, em contexto algum, deixar de ser serviço público", afirmou.

 

Lembrou ainda os resultados de dois estudos sobre o sector e apontou: "Somos uma profissão de desgaste rápido". Algo que considerou "perturbador". Deu ainda exemplo que o ano ainda mal começou, mas que dois títulos online - Diário Digital e Setúbal Na Rede - fecharam.

 

Sobre o evento, adiantou que o "congresso não vai resolver o que não foi resolvido até agora", mas disse esperar "pistas, soluções" para o sector. "Pretendemos um A4 de conclusões", disse Maria Flor Pedroso.

 

Ao contrário dos três congressos anteriores, o deste ano conta com as três organizações de jornalistas - Sindicato dos Jornalistas, Casa de Imprensa e Clube de Jornalistas. Os três congressos anteriores tinham sido promovidos exclusivamente pelo Sindicato dos Jornalistas.

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