"O meu patrão não vai dar ponte, posso trocá-lo por Beirão?"

O título indiciava uma história, dizia apenas: "Camisola das riscas". E não defraudou as expectativas. Na descrição, de 288 palavras, lia-se: "Quando vi o embrulho rectangular solitário debaixo da árvore de Natal, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi que alguém tinha acertado em cheio na minha prenda deste ano." E continuava: "(...) Quando chegou a hora de desembrulhar, estranhei o seu peso, o seu cheiro, todo aquele embrulho perfeito começava agora a parecer estranho, mas convicto de que estava ali sem dúvida a melhor prenda de Natal... (...) Fiquei céptico quando a prenda maravilhosa que dias antes tinha visto debaixo da árvore não era Beirão. Era de facto uma camisola, foi uma completa desilusão." O remate: "Só espero que esta história possa ter um final feliz e que o meu desejo de Natal se torne realidade: que esta camisola se torne na grandiosa garrafa de Beirão. Espero que esta camisola possa aquecer quem mais precisa."

Pergunta: O que é que Natal, solidariedade social e Licor Beirão têm em comum? Resposta: Uma campanha publicitária que a marca portuguesa lançou no final de 2016 e que consistia em trocar as típicas prendas de que não se gosta por uma garrafa de Licor Beirão. A insólita campanha, que começou a 26 de Dezembro de 2016 e termina esta sexta-feira, 13 de Janeiro de 2017, consistia em oferecer os tais presentes indesejados a uma instituição de solidariedade social. Caso a IPSS seleccionada aceitasse o presente, a pessoa recebia em troca uma garrafa de Licor Beirão. 



A tal "camisola das riscas", que originou tremenda história, foi oferecida à associação Raríssimas - que, segundo a Licor Beirão, foi a IPSS que recebeu mais prendas e conseguiu trocar mais garrafas. Até quinta-feira, 12, a associação - que se destina a apoiar pessoas com doenças mentais e raras - tinha feito 277 trocas (mais 98 reservadas), entre as quais, 14 pantufas, 23 pijamas e 36 meias. Coincidência, ou não, a camisola oferecida tinha justamente as cores do logótipo da associação: o verde e o azul escuros.

Com o nome, "Preferia Beirão", e um vídeo que já tem mais de 500 mil visualizações (e que começou a ser exibido a 25 de Novembro), a empresa criou uma plataforma online onde as pessoas submetiam as suas prendas e agendavam as trocas directamente com as instituições. De uma lista de mais de quatro mil instituições de solidariedade social, foram seleccionadas 23: havia pelo menos em cada um dos distritos, e as regiões autónomas também estavam incluídas. 

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A acção começou a ser pensada ainda em Julho e foi desenvolvida pela agência de publicidade O Escritório. A marca portuguesa definiu um patamar máximo de 10 mil garrafas, o que significa cerca de "100 mil euros em valor de mercado", diz à SÁBADO, Daniel Redondo, director geral da Licor Beirão. No final da primeira semana de Janeiro, já tinham ultrapassado as duas mil trocas, que foram essencialmente roupa (sobretudo os pijamas e meias da praxe), brinquedos, produtos de higiene, têxteis e loiças e até pequenos electrodomésticos.

Mas também houve espaço para outras prendas, mais inesperadas. Como um pato de borracha do Batman para o banho, uma cabeça de Einstein com íman para clips - que a Raríssimas aceitou, porque "material de escritório é sempre necessário", diz Sofia Lopes, responsável pelo marketing da associação -, e as tradicionais e sempre famosas meias de raquetes.



E até houve IPSS que receberam dos seus fornecedores habituais trocas directas de bens alimentares e de higiene (como carne, detergentes ou azeite) por garrafas de Licor Beirão. "Trocas que acabaram por colmatar igualmente as necessidades das instituições e que permitiram que elas poupassem nas despesas", diz Daniel Redondo. 

Apesar de as trocas só terem começado depois do Natal, a campanha da Licor Beirão motivou vários comentários nas redes sociais logo desde que vídeo começou a ser exibido. "No Twitter fizeram-se piadas como: 'O meu patrão não vai dar ponte. Posso trocá-lo por Beirão?' Ou: 'Pai Natal, obrigada pelo Beirão. Assim, poupas-me um roupão!", conta o responsável pela empresa. Também houve quem tivesse colado uma etiqueta em todas as prendas que ofereceu a dizer "Se não gostares, podes trocar por Beirão" e quem tenha aproveitado a campanha para fazer solidariedade, como empresas em jantares de Natal. 
 

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