"Em Gaza, ser criança é uma sentença de morte"
São várias ações pelo País para chamar a atenção para a crise em Gaza. Como explica o colectivo Parents for Peace, não podem ficar parados perante o genocídio. Hoje, em Lisboa, fazem uma ação nacional de sensibilização na Rua do Carmo. Segue-se Porto, Ericeira, Setúbal e Coimbra.
"Não éramos capazes de testemunhar em silêncio o que está acontecer", começa por explicar Julieta Almeida, membro do coletivo Parents for Peace Portugal. A professora de 48 anos é a porta-voz do conjunto de ações de sensibilização para o sofrimento das crianças palestinianas e em defesa do fim do genocídio na Faixa de Gaza. Este conjunto de pais uniu-se para organizar aquilo a que chamam "uma ação de sensibilização".
A primeira começa hoje, dia 30 de maio, e acontece em Lisboa. O ponto de encontro é a Rua do Carmo, onde vão estar presentes a partir das 17h e até às 20 horas. "Quisemos organizar esta iniciativa em Lisboa e, de forma espontânea, outras cidades foram se juntando à iniciativa. No fundo, são pessoas que sentem indignação contra o que se está a passar em Gaza e não querem continuar a ser cúmplices", defende à SÁBADO.
Julieta Almeida alerta que se trata de ter empatia e de informar sobre o que se passa em Gaza. O coletivo distribui informações onde citam os dados das Nações Unidas e escrevem: "Em Gaza, ser criança é uma sentença de morte". Juntam os dados que chocam: "Mais de 50 mil palestinianos mortos, mais de 430 trabalhadores humanitários mortos, mais de 1.400 profissionais de saúde mortos, 219 jornalistas mortos, mais de 15.500 crianças mortas". E ainda mais de 1 milhão de crianças que necessitam de apoio psicológico para lidarem com problemas de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas. Além disso, mais de 650 mil crianças em idade escolar impedidas de ir à escola. Isto tudo aconteceu desde dia 7 de outubro de 2023. "Estamos lá para conversar com quem passa. Queremos informar e sensibilizar para a escala do horror e do sofrimento atroz. Além disso, queremos informar as pessoas para o facto de não ser uma realidade distante de Portugal. O nosso país enquanto signatário da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio é obrigado a tomar medidas contra as repetidas violações dos direitos humanos."
Estas ações incluem sempre a participação das crianças e não estão relacionadas com nenhum movimento político. "As nossas iniciativas acomodam as crianças, portanto não são demasiado longas. As crianças reagem muito bem. Sentem-se parte de um movimento que luta pela justiça e pela paz", diz Julieta Almeida, ressalvando sempre que a informação que partilham com as crianças é adequada à sua idade. Neste caso, associaram a iniciativa ao Dia da Criança como forma de alertar para o problema.
No total, as ações pelo fim do Genocídio por ocasião do Dia da Criança acontecem em Lisboa, no Porto, em Coimbra, em Setúbal e na Ericeira, em dias diferentes. Vão fazer "instalações de roupa para dar voz às 16.000 crianças assassinadas e aos milhares que ficaram órfãs ou mutiladas e divulgar informação" e ainda como é que as pessoas se podem mobilizar pelo fim do genocídio.
Em Coimbra, será hoje na Rua Visconde da Luz às 17h, e na Ericeira será no dia 31 de maio, na praia do Sul, das 11h às 15h. No Dia da Criança, 1 de junho, será em Setúbal que pais e filhos se vão reunir na Praça do Bocage das 10h às 12 horas, e no Porto em dois locais diferentes. Primeiro na Av. Marechal Gomes da Costa, das 10h às 13h e à tarde na Av. do Brasil, na Foz, das 15h às 18h. Existirá também um cordão humano. O objetivo de todas as ações é um: "É imperativo travar o genocídio em Gaza e permitir a entrada imediata de ajuda humanitária suficiente para toda a população". E apelam a que levem a família para um conversa aberta, sem conflitos.
A Palestina também é um país
Julieta Almeida, professora de português com três filhos (entre os 6 e os 15 anos), diz que não mostra imagens fortes e que tem trabalhado estes conteúdos de forma adequada às crianças. "Fazemos atividades sobre os direitos humanos, e explicamos que direitos as crianças têm, como ir à escola e andar livremente, e explicamos que diretos as crianças na Palestina não têm e o que podemos fazer em relação a isso. Fazemos uma partilha orientada para a solução, ou seja, o que podemos fazer", esclarece. Acrescenta, por exemplo, que além das ações de sensibilização, há o boicote a marcas. E vai mais longe, apontando que os governantes têm de tomar decisões políticas. "Por exemplo, reconhecer o estado da Palestina, não permitir que os navios israelitas usem os portos portugueses." Julieta Almeida diz que o sentimento que os pais partilham é fazer com que as crianças "percebam e sintam que podem fazer alguma coisa."
É sempre um desafio abordar estes temas com menores, mas se forem adequados à idade - e sem sensacionalismo - é possível, defende. Esclarece que é importante não apenas falar dos horrores do passado, mas alertar para o que acontece hoje. Desde de dia 7 de outubro que já morreram milhares de crianças, e a própria ONU fala em genocídio. Julieta confessa que é um desafio responder às questões das crianças mais pequenas como: "Mas matam crianças com tiros na cabeça?" E que é sempre preciso cuidado para lidar com os pormenores da violência.
A porta-voz acredita que é importante sensibilizar as crianças para estes temas e dá um exemplo até na sala de aula. "Numa aula de Geografia, o professor perguntou que países faziam fronteira com o Egipto. O meu filho respondeu Palestina. O professor desconversou." Julieta Almeida sublinha que é importante quebrar o tabu sobre este tema.
O coletivo Parents For Peace surgiu em 2023 com o objetivo de trabalhar para "um mundo mais pacífico e sustentável", refere a porta-voz. Tratando-se de um movimento orgânico de pais, mães e cuidadores, não têm números oficiais, mas contam com a colaboração de centenas de pessoas. Também trabalham com a Plataforma Unitária Pela Palestina. Além de se juntarem a diferentes manifestações, revelam ainda que já fizeram, por exemplo, um bazar em dezembro na Casa do Alentejo, cujas vendas reverteram a favor do Palestine Relief Fund. À SÁBADO explica porque é importante envolver as crianças nestes temas: "Sei que é um chavão mas é verdade: as crianças são o futuro e se queremos mudar alguma coisa, se queremos um mundo mais pacífico temos de envolver as crianças nessa mudança."
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