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As histórias de 135 mil ruas de Portugal
Rui Passos Rocha teve acesso a uma base de dados dos CTT, que tem as 250 mil ruas do País. Focou-se naquelas que têm nomes que mais vezes se repetem, casos de 25 de Abril, Santo António ou Camões.
Histórias que as ruas contam – Uma viagem divertida e fascinante pelos caminhos de Portugal, é o novo livro de Rui Passos Rocha, lançado esta quarta-feira, na FNAC do Chiado, em Lisboa. “Estava a fazer uma pós-graduação em visualização de informação e andava à procura de bases de dados para fazer gráficos e mapas e, entre outras, encontrei uma dos CTT que tem as 250 mil ruas de Portugal, com os respetivos códigos postais, e os concelhos e distritos a que pertencem. Acabei por aprofundar esta análise e tive uma proposta para um livro”, conta o autor à SÁBADO.
Rui Passos Rocha analisa os nomes repetidos de 135 mil ruas em Portugal
Catarina Eufémia tem 90 ruas
A maioria dos nomes dados às ruas são de homens e só 15% são de mulheres. “Desses 15%, 10% são de Nossa Senhora. As figuras femininas da política, da cultura ou da sociedade são muito poucas. A primeira-ministra Maria de Lourdes Pintasilgo só tem nove ruas, depois Amália Rodrigues e Vieira da Silva são os nomes mais comuns, assim como várias atrizes de teatro e da época de ouro do cinema. As ativistas pelo sufrágio universal, no republicanismo, têm 10 a 15 ruas, o que é muito pouco comparando com figuras, até menores, da política, do jornalismo e até advogados”, conta o autor. A exceção é a ceifeira Catarina Eufémia [que foi assassinada pela GNR, grávida e com um filho ao colo, na sequência de uma greve laboral, em 1954] tem 90 ruas, sendo que 80 das quais estão na Grande Lisboa e no Alentejo.Religião com 22 mil ruas
A análise de Rui Passos Rocha concluiu que “os topónimos de tipo geográfico, como Rua da Escola, do Outeiro ou do Moinho, têm uma presença avassaladora, com mais de metade dos nomes de rua”. Depois vêm as ruas sobre religião, quase 22 mil das 135 mil da amostra, tendo uma presença mais densa nas zonas Norte e Centro. “Há 47 evocações a Nossa Senhora que estão muito presentes na toponímia, com a designação de Nossa Senhora do Amparo ou da Conceição. Ainda há ruas que já não são ‘Nossa Senhora de’, mas que antigamente se referiam a Nossa Senhora e que a primeira República laicizou, como as ruas da Alegria, da Esperança, da Saudade ou da Paz”, explica. Depois da religião, surgem as figuras da sociedade, somando 17 mil, e a política com 11 mil. E há ainda 5 mil ruas das forças armadas. Se contarmos a frequência com que cada nome de rua surge em Portugal, parece que houve poucos acontecimentos e personalidades de vulto na História do país. Até figuras como D. Afonso Henriques, Vasco da Gama, Amália Rodrigues, Fernando Pessoa e Eusébio da Silva Ferreira “apenas” contam com algumas centenas de ruas. “A figura que bate o recorde é Humberto Delgado, depois Sá Carneiro, Mota Pinto ou Adelino Amaro da Costa, talvez por terem morrido em condições trágicas”, diz Rui Passos Rocha. Em Lisboa, o autor destaca as renomeações de ruas associadas ao Estado Novo, como a Avenida 28 de Maio que passou a ser das Forças Armadas, ou a Ponte Salazar que mudou o nome para 25 de Abril. “Os grandes centros de Lisboa e Porto tem muita referência à política, muitos deputados da monarquia constitucional, da Primeira República, militares e figuras que estiveram envolvidas nas campanhas de pacificação”.
Rui Passos Rocha analisa nomes de ruas em Portugal, como Nossa Senhora, Santo António e Camões
Ruas da Fonte no top
Mais de metade dos nomes de ruas em Portugal remetem para a geografia física, ambiental e humana do país: a sua geologia, flora, fauna e povoamento agrário. Das 135 mil que este livro aborda, 79 mil são ruas sobre a geografia. Trata-se de quatro vezes mais do que as ruas de cariz religioso e oito vezes mais do que as ruas políticas. "O fosso entre a geografia e o resto é tal, que as 400 ruas que evocam o político mais famoso da toponímia, Humberto Delgado, estão a léguas das 2700 ruas da Fonte. Bastam 10 topónimos geográficos – Fonte; Escola; Outeiro; Boavista; Moinho; Quinta; Ribeira; Pinheiro; Oliveira e Carvalho – para contabilizarmos 13 mil ruas, mais do que todas as ruas sobre política. É obra!" Entre as ruas sobre o espaço público, as da Fonte são cabeça de cartaz, a grande distância das restantes. Compreende-se: o abastecimento de água para a agricultura e, no caso das bicas de uso comunitário, para cozinhados e banhos foi parte do quotidiano da maior parte das pessoas ao longo dos séculos. "Assim sendo, não admira que as ruas do Poço, Pocinho e Poceirão surjam logo em seguida, repetindo-se mais de 700 vezes no país. Não há dúvida de que o Poço da Água de Coimbra e o Poço do Chorão da Amareleja (em Moura) prometem água", lê-se no livro.Igrejas, capelas e santos
Os santos e arcanjos e outros nomes religiosos ocupam, em média, 90 ruas, bem acima da média de 40 ruas para cada personalidade da sociedade: artistas, cientistas, ativistas e muitos outros. A religião tem forte presença no top 10 das ruas portuguesas. Num país com 308 concelhos, a toponímia regista mais de 1800 ruas da Igreja, 1500 de Cruzeiro, 600 da Capela e 500 do Calvário. Neste grupo, há quatro santos no top 10, três deles são evocados pelas principais festas populares – Santo António, São João, São Pedro. O outro é São Sebastião. O padroeiro de Lisboa e “casamenteiro”, não é de estranhar que Santo António tenha 170 ruas em sua homenagem só no distrito de Lisboa. O resto do país parece acompanhar a devoção ao santo, com outras mil ruas distribuídas pelo território. Entre os papas, destaca-se João Paulo II, com 170 ruas. Na categoria da sociedade, quem mais se destaca na toponímia são os escritores, sobretudo os poetas, caso de Luís de Camões que tem mais de 800 ruas, avenidas, alamedas, praças e largos. O autor de Os Lusíadas tem um estatuto toponímico só comparável com o dos santos populares e com dois factos da maior importância: o 25 de Abril e o 1.º de Maio. Depois de Camões, Fernando Pessoa é o poeta com mais ruas no país, com 200. António Aleixo é o terceiro poeta mais evocado – tem 150 ruas, quase todas entre Vila Real de Santo António e Loulé, onde viveu, e também na Grande Lisboa. Bocage dá o nome a 150 ruas e a alentejana Florbela Espanca, a 140. Entre os romancistas, que têm 1900 ruas, Eça de Queiroz é o mais frequente na toponímia, com 200 placas com o seu nome.
Rui Passos Rocha revela histórias dos caminhos de Portugal
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