Secções
Entrar

Vistos Gold: Defesa de ex-presidente do IRN pede absolvição

09 de abril de 2018 às 14:03

O advogado Rogério Alves considerou que o MP não fez prova nenhuma em julgamento.

A defesa do ex-presidente do Instituto de Registos e Notariado (IRN) pediu hoje a absolvição de António Figueiredo no julgamento do processo 'Vistos Gold', justificando que o Ministério Público (MP) trouxe "prova zero" às audiências realizadas.

1 de 3
Foto: Cofina Media
Foto: Cofina Media
Foto: Cofina Media

Em fase de alegações finais, o advogado Rogério Alves considerou que o MP não fez prova nenhuma em julgamento e que, perante as dúvidas existentes, o tribunal deve decidir a favor da absolvição do arguido, obedecendo ao princípioìn dubio pro reo.

"Ou a prova do MP é concludente ou, havendo dúvida, tem que se decidir a favor do arguido", sustentou Rogério Alves, criticando que o Ministério Público pretenda a condenação do seu constituinte com base nos dados recolhidos na investigação e sem fazer prova dos mesmos em fase de julgamento, o que se traduziria numa "inutilidade superveniente do julgamento".

O advogado considerou que, na acusação, o MP faz uma "construção fantasiosa" a partir da entrada de dinheiros na conta de António Figueiredo, cuja proveniência legal este justificou, e de algumas afirmações do ex-presidente do Instituto de Registos e Notariado António Figueiredo apanhadas em escutas telefónicas, incluindo as frases "sempre a facturar" e "arrebanhar por todo o lado".

Frases que, defendeu o advogado, foram "descontextualizadas" e imediatamente encaixadas em crimes.

Rogério Alves enfatizou que, nas muitas intercepções telefónicas a António Figueiredo, jamais o ex-presidente do IRN pediu alguma coisa em troca, acrescentando: "Teve a vida espiolhada de alto a baixo e não pediu nada em troca".

Apesar de admitir que nalgumas situações a atitude de António Figueiredo possa não ter sido a mais correta, o advogado contrapôs que tais comportamentos não configuram qualquer ilícito penal, ao contrário do que argumenta o MP.

Face ao que designou de "maldade" e "perfídia" da acusação, Rogério Alves pediu ao colectivo de juízes presidido por Francisco Henriques a absolvição de António Figueiredo de todo o "ramalhete" de crimes imputados pelo MP, incluindo corrupção passiva, tráfico de influência, peculato de uso e branqueamento de capitais.

Antes da intervenção de Rogério Alves, coube ao advogado João Folque, da assistente Heliportugal, efectuar as alegações finais durante as quais considerou que o ex-ministro da Administração Interna Miguel Macedo cometeu o crime de prevaricação ao enviar por email ao seu amigo e empresário Jaime Gomes o caderno de encargos do concurso para a manutenção e operação dos helicópteros de combate a incêndios.

Segundo o advogado, esta atitude demonstra o afã de Miguel Macedo em afastar do caminho (do concurso) a Heliportugal e de favorecer os seus amigos, violando assim os seus deveres funcionais e prejudicando os interesses do Estado.

Em anterior sessão, o procurador José Niza pediu a condenação de António Figueiredo a uma pena até oito anos de prisão e a suspensão de funções públicas durante um período de dois a três anos.

Para os restantes arguidos, incluindo o ex-ministro da Administração Interna Miguel Macedo e a antiga secretária-geral do Ministério da Justiça Maria Antónia Anes, o procurador pediu uma condenação a pena única não superior a cinco anos de prisão, com eventual pena suspensa, à excepção do empresário Jaime Gomes, para quem pediu prisão efectiva.

O MP considerou que os elementos obtidos em escutas telefónicas e no correio electrónico dos arguidos do julgamento do processo 'Vistos Gold', devidamente analisados e conjugados com documentação bancária e societária, justificam a condenação dos visados.

Miguel Macedo demitiu-se em novembro de 2014 do cargo de ministro da Administração Interna, tendo-lhe sido também imputado pelo MP o alegado favorecimento de um grupo de pessoas que pretendia lucrar de forma ilícita com os vistos gold.

Desse grupo faziam parte alegadamente Jaime Gomes, empresário e amigo de Miguel Macedo, António Figueiredo e o empresário chinês Zhu Xiaodong.

Em causa estão também alegados favorecimentos a uma empresa de Paulo Lalanda de Castro, ex-patrão da farmacêutica Octopharma, e ao grupo Bragaparques.

Em causa no processo 'Vistos Gold', que conta com 21 arguidos (17 pessoas singulares e quatro empresas), estão crimes de corrupção activa e passiva, recebimento indevido de vantagem, prevaricação, peculato, abuso de poder, tráfico de influência e branqueamento de capitais.

Miguel Macedo foi acusado de três crimes de prevaricação de titular de cargo político e um crime de tráfico de influência.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela