Secções
Entrar

Telma Monteiro reitera falta de condições do ex-presidente da Federação de Judo

Lusa 14 de março de 2023 às 20:51

Judocas ouvidos no Parlamento disseram que ex-presidente continua a ter um papel ativo. Jorge Fernandes, que foi destituído em dezembro, chegou à Assembleia num carro da federação.

A judoca Telma Monteiro reiterou esta terça-feira, em audição em sede parlamentar, que o presidente destituído da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), Jorge Fernandes, não tem condições para liderar o organismo, no qual continua a ter palavra.

"Não acho que tenha condições para ser presidente, não tem ética e moralmente condições. Continua a estar presente e a mandar nos funcionários, continua a marcar os voos em cima da hora", começou por ilustrar a judoca.

Telma Monteiro compareceu na Comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, juntamente com os também judocas Rodrigo Lopes, Rochele Nunes, Anri Egutidze e Patrícia Sampaio, e em representação de Bárbara Timo, após requerimento do Bloco de Esquerda e no âmbito no conflito existente na modalidade.

A judoca lusa mais medalhada de sempre respondia às questões dos deputados, sendo que Joana Mortágua foi a primeira a intervir, como representante do partido que requereu a presença dos judocas que escreveram em agosto a carta aberta de 'descontentamento' ao atual estado da modalidade e ao papel do ex-presidente.

Apesar de destituído em dezembro, Jorge Fernandes compareceu na Assembleia da República no carro da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), um cenário que o mesmo, posteriormente, justificou com autorização do organismo, e depois de Telma Monteiro também ter denunciado o facto nos momentos iniciais da audição, além de motivar a estupefação do presidente o Instituto Português da Juventude e do Desporto (IPDJ), Vítor Pataco, o último a ser ouvido pela comissão.

Questionada em relação à preparação olímpica, pela deputada Cristiana Ferreira (PSD), Telma Monteiro sublinhou que os judocas continuam a ser prejudicados por várias decisões da Federação e alertou que o presidente destituído continua a ter um papel central.

"O filho do presidente na Federação, os funcionários continuam a referir-se como presidente, e, sim, continuamos a ser prejudicados e não vemos nenhum plano de ação", alertou a judoca, dando exemplos com voos marcados em cima da hora ou a apontar a existência de problemas com o seguro, que já a obrigaram a pagar despesas médicas que não lhe competiam.

Para a judoca, é claro que o ex-presidente continua a ter um papel ativo na federação e que existe medo de outros darem a cara.

"Recebemos várias mensagens de outros atletas e treinadores, muitas das pessoas não falam por medo, continua [Jorge Fernandes] a ter acesso aos recursos. Há muitos modos de exercer represálias", acrescentou a judoca, dando como exemplo as não convocatórias para a Taça Europa de cadetes, penalizando clubes.

Em termos de preparação, Telma Monteiro revelou que desde que se abriu o diferendo que todos os judocas afetados sentem necessidade de acompanhamento, perante a grande instabilidade que existe, com reflexos no plano emocional.

"Fomos ameaçados de ser processados e de não termos verba. Teve grande impacto. A pessoa que não tem moral e ética e continua a mandar. Tudo tem grande impacto, não temos grande esperança - mas queremos ter. Vamos continuar a sofrer represálias e os recursos financeiros a ser mal gastos", disse ainda, em resposta às questões colocadas por Patrícia Vaz, da Iniciativa Liberal.

No aspeto financeiro, a judoca sublinhou aquilo que diz ser a forma negligente na gestão de recursos da FPJ - que gere a verba de preparação olímpica -, e disse não se admirar caso o organismo venha a afirmar daqui há uns meses que não há dinheiro.

"Quem lá está gere de forma negligente e não me admira que daqui a uns meses venha dizer que não temos recursos. Afeta a saúde mental, não nos conseguimos focar no que é a nossa profissão", frisou.

Um cenário que foi quase de imediato apresentado à Comissão, com o ex-presidente Jorge Fernandes, ouvido logo após os judocas, a dizer que alguns estão a começar a ficar a mais de metade do que têm disponível em verbas para todo o ano.

"No final do mês de março há atletas que já têm 17.000 euros, de 28.000 disponíveis, gastos. O dinheiro não chega, o financiamento. O problema que aconteceu em agosto, este ano vai acontecer o mesmo. Há atletas que já gastaram mais de metade das verbas que têm direito o ano todo", alertou o ex-dirigente, explicando que se documentou e pediu dados antes de se apresentar à comissão.

Na audição, Jorge Fernandes admitiu também ter-se deslocado até à Assembleia da República no carro da Federação, autorizado pela mesma, mas garantiu que está fora do organismo desde a sua destituição, em dezembro, quando cumpria o segundo mandato.

"Não tenho nada a ver desde o dia 18 de dezembro. Não lhe posso responder como é que ela está a ser gerida. Está uma direção, está um grupo de pessoas que está a gerir e que está a manter a Federação. Não posso responder a isso", respondeu quando questionado pela deputada Inês Barroso (PSD) em relação à gestão atual da FPJ, de que forma é que a mesma está a ser processada.

Na audição, o ex-dirigente voltou a avaliar os resultados obtidos enquanto esteve à frente do judo como os melhores de sempre, em medalhas, títulos, presença olímpica, resultados, crescimento da modalidade (acima dos 17.000 praticantes) e continuou a defender ter condições de elegibilidade para nova candidatura - em eleições marcadas para 29 de abril.

"O tribunal não diz que não posso ser candidato, desculpe o mau jeito. Se acho ou não, é uma decisão minha. Se vou ser treinador, ou se vou ser candidato. Compete-me a mim, naturalmente. Depois de sanadas as irregularidades? Não tenho direito? A lei não diz nada sobre isso. Volto a dizer, não perco o mandato por idoneidade, mas por duas incompatibilidades [contratação do filho e cargo de treinador no Judo Clube de Coimbra]. Corrigi e tenho o mesmo direito dos outros, desculpe o mau jeito", disse, em resposta a nova interpelação da deputada do BE.

Em fevereiro, o Tribunal de Loures desconvocou o ato eleitoral - a que concorriam duas listas - previsto para 19 desse mês, considerando que a eleição se deveria proceder apenas para o cargo de presidente e não para todos os órgãos sociais, como tinha indicado o IPDJ, em ofício à FPJ.

De acordo com o juiz, as eleições para todos os órgãos iriam ferir a legitimidade democrática, tendo em linha de conta que os membros dos órgãos não tinham sido destituídos, nem tinham apresentado a demissão, e, por isso, estavam em funções.

Um cenário que já levou a Mesa da Assembleia Geral, presidida por Carlos Andrade, a marcar eleições para 29 de abril, apenas para o cargo de presidente.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela