Audiências do PR: Ninguém acredita numa crise política
O Presidente da República ouviu os partidos e já sabe o que estes pensam da situação no País. O PS elogia o trabalho, a Esquerda gosta do que foi feito e avisa que não volta atrás, a Direita é crítica. Mas ninguém acredita que uma crise política esteja no horizonte
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu esta segunda-feira os partidos com assento parlamentar para uma análise da situação política do País. No final, contabilizam-se alguns recados, a crença em acordos para o Orçamento de 2017 e a garantia do PSD de que nem os sociais-democratas acreditam numa crise política, apesar da estratégia do Governo estar a "falhar".
À saída da reunião com Marcelo, a secretária-geral adjunta do PS apresentou uma lista de convicções positivas: não há nenhuma crise política à vista, o Governo tem sido capaz de cumprir os compromissos assumidos e os socialistas acreditam num entendimento com os partidos que apoiam o Governo para a aprovação do Orçamento do Estado para 2017.
"Parece-me que não há à vista nenhuma questão de instabilidade política, nenhuma crise política. Os acordos estão firmes e estão para durar", declarou Ana Catarina Mendes, acrescentando: "Foi a isso que nós nos propusemos, governar para uma legislatura, e é para esse compromisso que aqui estamos, melhorando as condições de vida das pessoas".
E nem o Orçamento de Estado para 2017, que pode ser muito condicionado por possíveis sanções, parece preocupar os socialistas. "[O OE] está a ser preparado, será preparado inevitavelmente com o Bloco de Esquerda, o Partido Ecologista "Os Verdes" e o Partido Comunista, e estou confiante que chegaremos a um bom resultado também em 2017", garantiu.
A dirigente socialista fez "uma avaliação positiva" dos primeiros oito meses do actual executivo, "pela estabilidade governativa" e "firmeza dos acordos parlamentares" que o sustentam e também "pela coesão dentro dos partidos que apoiam o Governo do PS". Ana Catarina Mendes defendeu que o PS tem sido capaz de cumprir os compromissos que assumiu com os eleitores, com os seus parceiros políticos e ao mesmo tempo os compromissos internacionais.
Calma nas negociações, diz a Esquerda
Também a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, afirmou que o seu partido está empenhado em manter o acordo com o PS e considerou que o Presidente "não tem nenhum motivo para intranquilidade". "O BE nunca lhe deu motivos para isso", declarou Catarina Martins aos jornalistas.
Sobre o Orçamento do Estado para 2017, a coordenada do BE reiterou que o seu partido "nunca pactuará com medidas de austeridade", mas disse que "até agora" não houve da parte do Governo "nenhuma indicação de que não queira respeitar o acordo que foi feito". A líder bloquista garantiu que o Orçamento "está a ser trabalhado" e, questionada sobre a questão do congelamento de carreiras na função pública, respondeu: "As negociações fazem-se à mesa e o BE negociará o Orçamento do Estado com o Governo e com o PS".
Num balanço da sessão legislativa, a coordenadora do BE considerou que, apesar das divergências, o acordo que sustenta o apoio do seu partido ao Governo do PS "tem estado a ser cumprido" e que "existem condições em Portugal para se continuar a fazer este caminho". "Esperamos continuar o percurso que tem vindo a ser feito no próximo Orçamento do Estado", acrescentou.
O próximo Orçamento levou o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, a deixar um aviso a todos os intervenientes políticos: os comunitas garantem que o partido "estará presente" para continuar a "reposição e conquista de direitos" no OE2017 e vão estar "em desacordo" com "qualquer inversão".
"Tudo o que seja este caminho de prosseguir essa reposição e conquista de direitos, o PCP estará presente. Como compreenderão, qualquer inversão deste caminho, reversão, voltar para trás, como o PSD actualmente defende e propõe, naturalmente não estaremos de acordo", disse após audiência com o Presidente da República.
O secretário-geral comunista classificou o próximo OE2017 como uma "prova importante", cujos "conteúdos o PCP estará disponível para examinar", embora "não se pronunciando nem 'sim' nem 'não' sobre uma coisa que não conhece", admitindo que já têm existido "contactos normais" com o Governo socialista sobre o assunto.
O deputado do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) José Luís Ferreira fez um balanço positivo da sessão legislativa ao Chefe de Estado e mostrou-se disponível para "continuar a caminhada". "A posição conjunta estabelecida com o PS é, de certa forma, uma segunda Constituição. Se há linhas vermelhas, serão aferidas por essa posição conjunta. Sempre direi que 'Os Verdes' estão disponíveis para continuar esta caminhada que se está a traduzir na devolução de rendimentos e recuperação de direitos dos portugueses", disse sobre o próximo Orçamento do Estado.
O deputado único do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) afirmou, por seu turno, que será "responsável" quanto ao OE, apelando ao mesmo sentido de responsabilidade por parte de todos os partidos. "É extremamente necessário que, neste momento de dificuldade que possa existir, haja responsabilidade por parte daqueles que são os partidos que fizeram esta solução governativa e também daqueles que são os principais partidos da oposição, que se dizem responsáveis", afirmou André Silva.
"O PSD não é parte da solução"
Da parte dos partidos da direita, as posições foram mais duras, mas não tão bélicas como se podia imaginar. A vice-presidente do PSD Sofia Galvão acusou o Governo de falhar a sua promessa de crescimento económico e manifestou-se também preocupada com a banca, mas defendeu que a maioria parlamentar é estável e que não se antevê uma crise política.
"Não vemos nenhum cenário de crise política no horizonte", declarou Sofia Galvão. A vice-presidente do PSD afirmou que "o Governo tem uma maioria estável no parlamento" a quem compete aprovar o Orçamento do Estado para 2017 e argumentou que "quando há maiorias nos parlamentos não há razões para se pensar em crises políticas".
"O PSD não é parte da solução em termos do próximo Orçamento do Estado", frisou.
Já a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, defendeu que "a solução governativa das esquerdas unidas" tem sido incapaz de relançar o investimento e o emprego e parece estar a "empurrar com a barriga" a despesa pública.
Questionada sobre o Orçamento do Estado para 2017, a presidente do CDS-PP respondeu: "Essa não é uma matéria que nos preocupe, porque também não nos ocupa". Interrogada sobre a solidez da actual maioria de apoio ao Governo do PS, remeteu também essa questão para "os seus protagonistas". "Por nós, naturalmente, não teríamos uma solução de Governo das esquerdas unidas. Não me compete a mim estar a fazer avaliações sobre a solidez ou sobre o momento menos bom ou menos bom da solução governativa das esquerdas unidas", declarou.
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