Já não enganamos ninguém
O ciclo incessante de reformas de pacote já não disfarça o descrédito nacional no combate à corrupção.
O ciclo incessante de reformas de pacote já não disfarça o descrédito nacional no combate à corrupção.
Daniel Chapo prometeu várias mudanças, entre as quais a redução do número de ministérios, a valorização dos serviços públicos, a transformação do sistema educativo, a responsabilização dos funcionários públicos, a criação de novas entidades na gestão da administração pública.
Ainda estamos na era do Estado-gabinete, criadas e moldadas na sombra da mobília centenária do Terreiro do Paço, que surgem no etéreo público como políticas-pipoca, pois, estouram e saltam aos olhos à medida da agenda do momento com o objetivo de serem "engolidas" pelo espaço mediático e popular.
É provável que as pessoas com quem António Costa fala na rua não lhe levantem o tema da corrupção - quem sabe estão mais preocupadas em pagar a renda, a alimentação, com a saúde ou a educação dos filhos. Mas se há alguém que deveria estar preocupado com a corrupção na Defesa, e não desvalorizá-la, é o primeiro-ministro.
O tráfico de influências, como a corrupção e todos os crimes a ela associados, como o branqueamento, são uma espécie de crime para a vida. Ligam funcionário público ou político e corruptor ativo num pacto de silêncio.
Recordo uma notícia que li esta semana - e que teve algum eco nas redes sociais - na qual se afirma que falta mão de obra e que as pessoas procuram um emprego das nove às cinco. Porque será?
Este ciclo do PS de António Costa não é comparável ao de Sócrates, que instituiu uma forma delinquente de gestão do Estado e do Governo ao mais alto nível; que vendeu Portugal e empresas como a PT a pataco; nem sequer com o governo de Durão Barroso.
Empresários que criam esquemas de negócios para fugir ao fisco, empresas que poluem sem pagar o preço e uma casta política fechada numa bolha surda aos avisos de fora: isto, por cá. No Brasil, a mesma receita, mas ampliada, deu mau resultado - pode ouvir a análise no podcast Conselho de Segurança
Este não é um “casinho”. É um episódio grave que subverte a imagem do governo perante a opinião pública e que lhe coloca a obrigação democrática de esclarecer tudo, sem subterfúgios e sem o recurso ao rolo compressor da maioria absoluta.
É quase enternecedor ver a gestora francesa contratada para salvar a TAP a afundar-se nos vícios muito portugueses da cunha e do amiguismo. Ninguém nos vem salvar.
Estamos a viver um crise de gestão de talentos. As empresas não conseguem gerir os seus melhores recursos humanos e muitos não conseguem ser contratados pelas empresas que mais precisam de pessoas experientes, talentosos e profissionais.
Finalmente, a Universidade de Lisboa lançou acusações disciplinares pelos casos de assédio na Faculdade de Direito. Contra os abusadores? Não, contra quem os expôs.
A "bazuca" europeia, que ia ser um tiro no porta-aviões da crise, é para já tiro e queda para o empresário Mário Ferreira – e mais um sinal de alarme para o que aí vem.
Uma cultura de “tolerância zero” contra o assédio, como a que a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa anunciou, implica limitar os poderes destravados que por lá reinam.
Se não quebramos este ciclo de corrupção, facilitismo, amiguismo, procrastinação, complacência e políticas incompetentes, não vamos longe. O problema é que ninguém acredita sequer na possibilidade de se ir… longe.
Na presente campanha eleitoral, a questão da bazuca tem sido pouco menos do que um estranho tabu. As referências têm sido discretas. Não se discute nem o seu gasto, nem a sua fiscalização.