O julgamento do hacker por trás dos Football Leaks termina esta sexta-feira, dois anos e meio depois de ter começado. Rui Pinto é acusado de 90 crimes
Ao longo de várias semanas, Rui Pinto fez de tudo para relativizar as acusações que sobre si pendem. Argumentou com desconhecimento da lei, com falta de noção sobre a gravidade das suas atuações e referiu várias vezes o "bem" que trouxeram as suas descobertas. Acontece esta sexta-feira, pelas 10h, a leitura do acórdão.
O julgamento do hacker de 34 anos começou há dois anos e meio e decorreu no Juízo Central Criminal de Lisboa. Durante dezenas de sessões foram ouvidas centenas de peritos, testemunhas e intervenientes no caso. Ao longo das sessões, Rui Pinto foi admitindo estar algo arrependido da sua atuação, referindo que ganhou consciência que não atuou da maneira mais correta quando, em 2015, criou a plataforma Football Leaks, na qual divulgou milhares de documentos relativos a contratações de jogadores e negócios entre clubes , sociedades de advogados e mediadores desportivos.
Rui Pinto foi detido na Hungria no início de 2019 - morava lá já há vários anos - e começou a ser julgado em setembro de 2020. Durante o período em que esteve detido começou a colaborar com as autoridades nacionais, dando também apoio a investigações levadas a cabo pelas autoridades francesas.
No final das alegações finais, feitas em janeiro deste ano, Rui Pinto alegou mesmo estar arrependido e reconheceu ter violado a lei.
Mas mesmo depois da leitura da sentença - e nada garante que a leitura aconteça esta sexta-feira, já que continua a greve dos funcionários judiciais e que já levou ao adiamento de várias etapas de julgamentos mediáticos -, Rui Pinto vai continuar a mãos com a justiça, sendo arguido noutro processo por factos relacionados com os que estão em causa no atual julgamento, conforme revelou em tribunal o advogado do arguido, no início das alegações finais. "Rui Pinto foi constituído de novo arguido relativamente a factos que estão aqui em julgamento. O processo tem três anos, mas o Ministério Público só nesta sexta-feira constituiu Rui Pinto como arguido", afirmou o mandatário, que deixou críticas ao que disse ser uma "estratégia perversa" do Ministério Público.
O MP pediu a condenação de Rui Pinto a pena de prisão, ao notar que ficaram provados os acessos ilegítimos aos servidores da Federação Portuguesa de Futebol, da Procuradoria-Geral da República e da sociedade de advogados PLMJ (todos assistentes no processo), admitindo somente que não se provou a sabotagem informática à SAD do Sporting, como constava da acusação.
O outro arguido deste caso, o advogado Aníbal Pinto, que responde apenas pelo crime de tentativa de extorsão à Doyen, reafirmou na conclusão das alegações finais a sua conduta ao longo de todo o processo, repetindo a lisura da sua atuação: "Ao longo de mais de 60 anos de vida nunca cometi qualquer crime. Em prol da minha defesa, gostava que ficasse claro que em nenhum momento o meu comportamento foi criminalmente reprovável".
Rui Pinto, de 34 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 0 de agosto de 2020, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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