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Projecto de compostagem atraiu 900 lisboetas em seis meses

10 de dezembro de 2018 às 10:45
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900 pessoas já têm um compostor em casa com projecto Lisboa a Compostar e a meta é que, em 2020, estejam quatro mil famílias envolvidas no projecto.

Ter uma horta mais sustentável ou reduzir o lixo biodegradável produzido em casa são os motivos que levaram dois munícipes deLisboa a aderirem a um projeto da Câmara Municipal que pretende incentivar àcompostagem.

São já 900 aqueles que têm um compostor em casa ao abrigo desta iniciativa e a meta é que, em 2020, estejam quatro mil famílias envolvidas no projecto.

Filipa Penedos, directora municipal da Higiene Urbana, explicou à agência Lusa que o projecto Lisboa a Compostar teve início em Maio deste ano e, passados seis meses, são já 900 os munícipes que aderiram ao programa e a quem foi entregue um compostor.

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Carvão vegetal, argila, canela, sais marinhos ou até wasabi: há um pouco de tudo no vasto mundo das pastas de dentes feitas em casa. Também eu deixei o tubo de plástico de lado - mas optei por uma receita menos radical. Passei a tirar a minha pasta de dentes (de um branco impecável) com uma colher de café.

Jorge Gadelho é um dos habitantes da capital que aderiu ao projecto. Veio para Lisboa estudar engenharia civil e, apesar de os seus pais serem agricultores na zona de Aveiro, sempre "detestou hortas", confessou à Lusa.

No entanto, sentiu "falta do contacto com a terra" e, depois de encontrar um sítio na cidade onde plantar, ficou a saber do programa da Câmara Municipal de Lisboa, que oferecia, além do compostor, uma formação em compostagem doméstica.

Na horta de 80 metros quadrados que possui no corredor verde de Alvalade, tem um compostor onde vai colocando, "uma a duas vezes por semana, matéria verde e matéria castanha", a que junta água, de vez em quando, para 'alimentar' o fertilizante.

"Os meus pais são agricultores, sempre trabalharam nisto, eu não gostava, detestava a horta, depois vim para a cidade, para Lisboa e senti falta do contacto da terra, comecei com a horta há um ano e evolui com o compostor, seria o passo natural", explicou.

"Eles estão orgulhosos de mim", disse regozijando, lembrando que agora os pais "vão disponibilizando sementes e alfaias" para tratar da terra e vão dando "dicas do que plantar e de quando regar".

Jorge Gadelho adianta que, desde o início, já retirou composto para adubar cerca de um quarto da horta e, apesar de atualmente, por os dias serem mais pequenos, ir menos vezes tratar do espaço, tem de ir lá deixar os restos das preparações das refeições que faz em casa, como as cascas de batatas, de ovo, restos de hortaliças, "tudo material que não tenha sido cozinhado".

Para o Natal espera ter, não couves frondosas como os seus vizinhos hortelões, mas favas e ervilhas que já plantou e que irá plantar mais ainda nos próximos dias para a cultura crescer até à Consoada.

"Sei que em três semanas dá tempo", confessou à Lusa.

Tempo é coisa que Raquel e o companheiro Tiago, que vivem num apartamento em Alvalade, também dispõem. A horta que têm na ideia para o logradouro do prédio onde habitam irá surgir "lá para a primavera". Até lá, decidiram ver o que era preciso fazer para preparar a terra.

"Tudo começou pelo interesse de pensar numa alimentação mais saudável e produzir em casa já que tínhamos um espaço que não estava a ser utilizado", explicou Raquel à Lusa.

"Sabendo do projecto do compostor, procurámos perceber como funcionava e como ter em casa", acrescentou.

Raquel e Tiago têm o compostor também desde o início do projecto, fazendo parte do grupo de 67% dos munícipes que moram num apartamento e dos 24% que possuem um logradouro onde está instalado o caixote para a compostagem.

"É gratificante pela redução do lixo, este era o tipo de material que se descartava com facilidade, coisa de um ou dois sacos por semana, hoje utilizamos uma pequena caixa para depositar os restos de alimento. A possibilidade de ter, num futuro breve, o adubo para a terra e começar a produzir algumas coisas e ter uma alimentação mais saudável, é gratificante", reiterou.

A experiência do casal vai além da sua própria família, uma vez que, como habitam num pequeno prédio, incentivaram os vizinhos a utilizarem também o seu compostor.

"Assim fica mais fácil produzir o composto de forma mais rápida e todos beneficiamos. Penso que na primavera já possa utilizar para pequenas plantações e até para adubar as árvores que já existem", disse esperançosa.

O projecto Lisboa a Compostar surgiu, como Filipa Penedos explicou à Lusa, com o objectivo de diminuir os resíduos biodegradáveis que são encaminhados para incineradoras e ajudar a cumprir a meta do plano municipal de gestão de resíduos, de diminuição dos resíduos produzidos.

"Tem sido um sucesso, dos 900 compostores entregues só três munícipes desistiram. A meta é, em 2020, ter entregue quatro mil compostores, ou seja, quatro mil famílias em Lisboa a compostar e a contribuir para a diminuição dos resíduos biodegradáveis que entregamos na incineradora", explicou.

Segundo a directora municipal da Higiene Urbana, Lisboa "encaminha diariamente 850 toneladas de resíduos, das quais 240, valor estimado, são de resíduos biodegradáveis, por isso, quanto mais compostamos menos entregamos à incineradora".

"Estamos a gerar valor porque geramos um composto que depois é incorporado novamente na cadeia através da utilização em jardins municipais e, no caso das pessoas", nas suas próprias casas, sublinhou.

Paralelamente aos compostores domésticos surgiu a ideia de compostores comunitários, sendo já quatro aqueles que estão instalados e a cargo de quatro juntas de freguesia lisboetas, explicou Filipa Penedos.

A responsável adiantou ainda que haverá um quinto compostor a ser instalado na Quinta Pedagógica dos Olivais "pela componente de sensibilização e pedagogia já que é um grande número de crianças que o espaço recebe diariamente".

"E sabemos que as crianças são um grande veículo para a sensibilização ambiental e para em casa forçarem os pais a seguirem boas práticas", afirmou.

O projecto visa contribuir para a redução da produção total de resíduos no município lisboeta, com uma meta de menos 10% entre 2015-2020, além de uma aposta na economia circular.

A média de idades dos munícipes que aderiram ao projecto situa-se, na sua maioria, no escalão entre os 31 e 40 anos (28%) e os 41 e 50 anos (27%) e são sobretudo especialistas das profissões intelectuais e científicas (56%9), segundo dados do departamento de Higiene Urbana.

Só 9% da população aderente ao Lisboa a Compostar tem mais de 65 anos, sendo que os reformados ocupam 8% do total, existindo 5% de estudantes e 2% com menos de 20 anos.

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