Sim, é verdade que a Ordem dos Enfermeiros pagou o montante 36.080 euros, mais IVA, para divulgar a profissão na novela prime time da SIC, Nazaré. Contudo, a iniciativa não partiu da própria Ordem mas da produtora, a SP Televisão.
A 8 de Março de 2019, a produtora enviou um email à Ordem dos Enfermeiros. "Disseram-nos que iam produzir uma novela para a SIC e perguntavam se a Ordem teria interesse em patrociná-la. Sendo que já existia a personagem de uma enfermeira e o guião também já estava construído", esclarece à SÁBADO a bastonária, Ana Rita Cavaco.
"Este contacto surge pois estamos neste momento a trabalhar nas novas telenovelas da SIC e CMTV e gostaríamos de auferir o interesse da Ordem dos Enfermeiros em integrar estes projectos, numa lógica de Product Placement", pode ler-se no referido email, a que a SÁBADO teve acesso.
Além disso, o montante também foi estipulado à partida pela produtora. "Em termos de investimento (…) em Flor de Sal [o nome inicial da novela, que depois foi alterado para Nazaré], uma cena activa vale 3.500 euros mais IVA mais 4% IPC [índice de preços no consumidor]", lê-se no mesmo email. "Para a Ordem dos Enfermeiros conseguir ter uma presença estrutural propomos um mínimo de 10 cenas activas. Nestes valores não estão contemplados custos com as gravações em exteriores", acrescentam.
Quando a Ordem dos Enfermeiros foi abordada, pela primeira vez, a história da personagem interpretada pela actriz Liliana Santos, Cláudia Fontes – uma enfermeira que trabalha no sector social, numa residência da terceira idade chamada Terceira Onda – já estava definida e a actriz também já tinha feito formação com a chefe do serviço de enfermagem do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
"Não pudemos mudar o guião, só fizemos mudanças na forma como a personagem se relacionava com a história e demos consultoria técnica para que retratasse de forma fiel os enfermeiros", diz Ana Rita Cavaco. Nomeadamente, na cor da farda e também nos adereços. "Não podia estar com colares, brincos e anéis a prestar cuidados aos doentes", dá como exemplo.
Além disso, também ficou combinada uma menção indirecta à Ordem dos Enfermeiros no decurso da evolução da personagem, bem como do seu slogan: "Ninguém está sozinho."
"Interessou-nos sobretudo o facto de ser uma personagem a trabalhar no sector social, com idosos, que é um sector onde pagam menos do que no Sistema Nacional de Saúde, um profissional ganha apenas cerca de 800 euros por mês. E também a possibilidade de se poderem abordar temas como o burnout, a condições de trabalho e as horas a mais com que os enfermeiros se deparam", explica a bastonária.
O orçamento para a comunicação
O contrato, publicado no portal BASE de contratação pública, foi assinado entre a SIC ("porque é a entidade que emite a novela", esclarece Ana Rita Cavaco) e a Ordem dos Enfermeiros a 25 de Julho de 2019 e define como objectivo "a aquisição de serviços de promoção e difusão da profissão de enfermeiro em programa televisivo".
O dinheiro foi retirado do orçamento destinado à comunicação da Ordem e insere-se na estratégia de divulgação da profissão que a mesma tem vindo a seguir, clarifica a bastonária.
"Temos tido várias iniciativas deste género. Pagámos cerca de 80 mil euros à TSF para um projecto em que uma carrinha de rastreios, com enfermeiros, percorria os sítios mais interiores e inóspitos do país, já fizemos spots publicitários para passar na televisão", etc.", diz.
Além disso, esclarece ainda que a prática (do patrocínio de telenovelas) não é única nem exclusiva da Ordem dos Enfermeiros. "Fomos ver ao portal de contratação pública e há vários contratos no mesmo âmbito das telenovelas da parte das autarquias. Por exemplo, há um da Câmara de Olhão de 150 mil euros."
Para Ana Rita Cavaco, a notícia foi divulgada agora, intencionalmente, pela candidatura opositora – a bastonária vai recandidatar-se e as eleições são já a 6 de Novembro – para descredibilizar o seu trabalho. "Essas são as pessoas que foram dirigentes aqui na Ordem e que são hoje delegados do Partido Socialista", acusa.
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