Na terça-feira, o procuradorRosário Teixeiradisse a alguns jornalistas que Sócrates pode dizer o que entender nesta fase processual porque no final é que se fazem as contas, respondendo ao facto de o ex-governante ter apelidado a acusação de "delirante". Rosário Teixeira, à entrada para o tribunal não se furtou a falar aos jornalistas para dizer que não atacou ninguém, que "é uma invenção" e que não falou em "ajuste de contas". "Esta é a fase da defesa, os arguidos podem dizer o que quiserem e as contas fazem-se no final depois de apreciada toda a prova" afirmou. O procurador lembrou que o papel do Ministério Público é "sustentar a prova e fazer a leitura dos indícios de forma a construir uma acusação".
De acordo com aLusa, o juiz Ivo Rosa questionou, durante quase seis horas de interrogatório, o antigo primeiro-ministro sobre a sua relação com Carlos Santos Silva, de quem Sócrates recebeu dinheiro, segundo a acusação, a troco de benefícios para o grupo Lena. O antigo governante defendeu o seu amigo e também arguido na Operação Marquês Carlos Santos Silva, dizendo que ele é "honestíssimo".
A construção de 50 mil casas na Venezuela, no tempo do Presidente Hugo Chavez, pelo Grupo Lena, segundo a acusação a troco de benefícios financeiros de vários milhões para Sócrates, foi outro dos temas tratados hoje, segundo as fontes, tendo, mais uma vez, o ex-governante negado tudo e até exibido um documento elaborado pelo seu gabinete, na altura, que funcionaria como um guião sobre os assuntos a tratar com o chefe de Estado venezuelano e no qual não constava o grupo empresarial da zona de Leiria.
A acusação do Ministério Público considera que Sócrates terá recebido do Grupo Lena, através do seu ex-administrador Joaquim Barroca, também arguido, luvas de mais de 2,8 milhões de euros e que globalmente foi subornado com seis milhões de euros para favorecer o grupo em vários negócios, com especial incidência na Venezuela.
O antigo primeiro-ministro disse também ao juiz que desconhecia os negócios da XLM -- Sociedade de Estudos e Projetos, empresa de Carlos Santos Silva, que também é arguida no processo e para a qual a sua ex-mulher alegadamente trabalhou, indicaram as fontes.
Para a acusação, Sofia Fava beneficiou de transferências de dinheiro do ex-marido não declaradas às autoridades tributárias e de Carlos Santos Silva que utilizou para pagar o Monte das Margaridas, verba que lhe foi dada após a simulação de uma relação de trabalho com empresas lideradas por este último, tais como a XLM - Sociedade de Estudos e Projetos Lda.
O interrogatório prossegue na tarde de quinta-feira, mas, segundo a mesma fonte, há fortes probabilidades de não se conseguir terminar no mesmo dia esta fase de defesa do antigo primeiro-ministro que tenta, perante o juiz, evitar ser julgado por corrupção, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal.
Para quinta-feira está previsto que Sócrates seja confrontado com o dinheiro que recebeu de contas de Carlos Santos Silva e que sempre justificou como "empréstimos" do amigo, mas que para o Ministério Público fazem do empresário o "testa de ferro" do antigo governante socialista.
Sócrates está acusado de corrupção, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Ao todo, a Operação Marquês conta com 28 arguidos, acusados de 188 crimes.
Considera o MP que Sócrates recebeu, entre 2006 e 2015, um total de 34 milhões de euros, a troco de favorecimento a interesses do Grupo Espírito Santo, na concessão de financiamento por parte do banco público ao empreendimento Vale do Lobo e ao Grupo Lena, dinheiro esse que terá sido movimentado por contas de Carlos Santos Silva, o empresário amigo do ex-governante também acusado neste processo.
A fase de instrução, facultativa e requerida por 19 arguidos, visa apurar se existem indícios suficientes para o processo seguir para julgamento e, se sim, em que termos.