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Anónimo21.11.2018
Os assaltantes estrangeiros que roubaram quase cem mil euros a um Barklays de Guimarães escaparam a duas perseguições policiais.
O duo francês "extremamente perigoso", condenado em Portugal no início de Novembro a sete e oito anos de prisão pelos crimes de roubo qualificado, sequestro de seis pessoas e falsificação de documentos, foi duas vezes mandado parar pelas autoridades nas estradas europeias. Contudo, Pierre Molinelli e Sebastien Mattei, ambos de 41 anos, levaram a melhor, escapando de forma agressiva às perseguições de carro da GNR e da brigada das alfândegas francesa, abalroando objectos e pessoas.
De acordo com o acórdão do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, a que a SÁBADO teve acesso, as perseguições policiais aconteceram nos dias 14 de Fevereiro de 2013, quando os dois franceses iam a caminho de França após assaltar alguns bancos em Évora, e 16 de Janeiro de 2014, depois de um assalto ao banco Barclays de Guimarães.
Na primeira perseguição descrita pela Justiça portuguesa, em 2013, a GNR parou o duo francês a caminho de França nas estradas de Elvas/Caia, após apertar o "controlo nas saídas da fronteira portuguesa". As autoridades procuravam os responsáveis pelo assalto a um banco em Évora. Ao volante de um Mitsubishi Lancer cinzento ia Sebastien Mattei, enquanto Pierre Mollinelli seguia deitado no banco traseiro a segurar uma pistola de calibre 9mm.
Com medo da detenção, Mattei não acatou as ordens da GNR e continuou a conduzir. "Sebastien hesitou em parar e não desligou o motor da viatura pretendendo, assim, evitar aquela abordagem policial, levando a que um daqueles militares da GNR, o Cabo Figueiredo, efectuasse dois disparos, com munições de borracha, um para o ar e outro na direcção da porta do condutor da viatura, com o intuito de persuadir Sebastien Mattei a imobilizar o veículo", lê-se no acórdão. No entanto, os franceses continuaram o seu caminho, abalroando alguns veículos que se encontravam no seu trajecto, "sempre com o fito de conseguir ganhar alguma distância aos militares da GNR que o perseguiam", lê-se no documento. Os militares da GNR ainda perseguiram os assaltantes até território espanhol, mas perderam o rasto aos franceses em Badajoz.
A caminho de França, os franceses ainda roubaram um Toyota, forçando a condutora a sair do carro. De cada lado do carro, empunhando pistolas de calibre 9mm, os criminosos forçaram a mulher a sair do Toyota. Desta forma, o duo deixou para trás o carro usado na perseguição e continuaram o seu caminho para França.
As autoridades acabaram por encontrar o Mitsubishi Lancer cinzento usado pelos assaltantes na Estrada EX-363, no sentido Talavera la Real/La Albrera, em Espanha. No interior do carro, que estava "camuflado com plásticos", os militares encontraram "uma pistola calibre 9 mm, com carregador municiado com 19 munições, uma peruca, uma máscara, uma dentadura postiça de plástico, duas malas contendo peças de vestuário e artigos de higiene, diversas ferramentas, uma carta de identidade francesa falsa em nome de Cedric Gomez, no qual se encontrava aposta a fotografia de Pierre Molinelli, um telemóvel, um inibidor de frequência portátil, um rádio emissor/receptor Motorola e um cartão de saúde em nome do irmão de Sebastien Mattei". Estas pistas foram importantes para identificar os suspeitos.
Quase um ano mais tarde, em Janeiro de 2014, voltaram a Portugal com mais um assalto planeado. Desta vez, Sebastien Mattei e Pierre Mollinelli preparavam-se para assaltar um Barclays em Guimarães. Para o efeito, entre os dias 14 e 15 de Janeiro de 2014 hospedaram-se no Hotel Premium no Porto, utilizando para se identificarem uma carta de condução em nome de Jean Pierre Fage. No dia 16, entre as 09h15 e as 09h40, dirigiram-se a um Barclays Bank em Guimarães de "óculos, perucas e dentaduras postiças, com o rosto pintado com uma substância preta, para disfarçar a tonalidade da tez do rosto". O objectivo? "Fazerem suas quaisquer quantias monetárias ali existentes e que pudessem retirar e levar consigo, por via da intimidação dos que ali viessem a encontrar, através da exibição de objectos semelhantes a armas de fogo, do tipo pistola, de médias dimensões, que levavam para o efeito."
"Pierre Mollinelli empunhou um objecto semelhante a uma arma de fogo que trazia consigo e apontou-a ao funcionário. Também Sebastien Mattei exibiu um objecto semelhante a uma arma de fogo, que guardava na cintura, sob o casaco que envergava, aos presentes que abordou", lê-se no acórdão. Do assalto às caixas do balcão de atendimento, cofre e caixas multibanco, o duo francês conseguiu levar quase cem mil euros: € 82.185,00, 8.100 dólares norte-americanos, três mil ienes japoneses e uma nota "isco" de cem dólares canadianos. Antes de abandonarem o banco, roubaram as imagens do sistema de videovigilância e fechou os presentes no local numa sala.
No dia seguinte, já seguiam num Audi A1 preto no sentido Espanha/França. Foram mandados parar por uma brigada das Alfândegas de Le Perthus – França, que controlava a fronteira, junto à portagem de Perpignan Sud. Ao lhes ser solicitada a respectiva identificação, Mattei exibiu a acima carta de condução falsa, que não convenceram as autoridades. As autoridades disseram que iriam verificar tais documentos, ficando estes a aguardar no interior da viatura, sob a vigilância de outros dois elementos da Brigada das Alfândegas. Contudo, "receando uma possível detenção, Pierre e Sebastien não esperaram: atropelaram dois elementos da Brigada das Alfândegas e puseram-se em fuga.
A fuga dos criminosos foi bem sucedida. As autoridades encontraram o carro em La Jonquera, em Espanha. No dia seguinte, dia 18 de Janeiro de 2014, Pierre Molinelli foi detido "por elementos policiais franceses na berma da auto-estrada A9, na zona de Boulou, em França, junto à fronteira com a Espanha, quando por ali seguia apeado", contendo na sua posse as notas referentes ao assalto ao Barclays. Sebastien Mattei foi detido pelas autoridades francesas, em Lyon, em 7 de Maio de 2014.
Justiça portuguesa preocupada com a não reabilitação dos franceses
Para Pierre Molinelli, ir para a prisão não era novidade. Contudo, ao ser preço no Estabelecimento Prisional de Mosanto, Sebastien Mattei "exibiu uma postura resignada face à situação jurídica em apreço, ciente do seu percurso criminal, e uma atitude adaptada ao contexto carcerário."
Depois de fazer 21 anos em 1995, Mattei perdeu o pai, num episódio "que o próprio classificou como emocionalmente destabilizador". "Pouco tempo após, cumpriria a sua primeira pena privativa de liberdade, por cerca de 6 meses, na sequência do furto de um veículo motorizado", lê-se no documento. Durante este tempo, sobreviveu a um tumor cerebral e foi libertado, para ser novamente preso em 2002.
"O próprio afirmou ter conhecido, durante esse cumprimento de pena, dois indivíduos com os quais acabaria por cometer assaltos à mão armada a agências bancárias em Portugal, pelos quais viria a ser condenado a 16 anos de prisão efectiva. Cumpriu cerca de 5 anos em território nacional, entre os estabelecimentos prisionais do Linhó, Paços de Ferreira e Monsanto, após os quais, em 2008, foi transferido para França onde lhe seria concedida liberdade condicional, em 2011."
De acordo com o acórdão, os juízes consideram "fundamental que a pena aplicada tenha em vista uma efectiva reflexão crítica por parte do arguido sobre o seu comportamento, as consequências para as vítimas e para a sociedade em que se insere, bem como a imperactividade de reestruturar o seu projecto de vida em valores pró-sociais."
Recorde-se que o duo proveniente da ilha da Córsega, na França, considerado "extremamente perigoso" pelas autoridades portuguesas foi condenado, no início de Novembro, pelo Tribunal de Guimarães a sete e oito anos de prisão. Pierre Molinelli e Sebastien Mattei responderam pelos crimes de roubo qualificado, sequestro de seis pessoas e falsificação de documentos, tendo sido absolvidos dos delitos de roubo qualificado tentado e detenção de arma proibida. Contactado pela SÁBADO, Lopes Guerreiro, advogado de Pierre Molinelli, diz que embora "admita que a apreciação das factualidades submetidas a julgamento tenham sido valoradas de forma correctíssima" defende que "as penas parcelares pelos crimes de roubo e sequestro, bem como a pena única, poderiam ter sido mais comedidas e, pelo que se provou, mais justas." Por esse motivo irá recorrer: "em face da prova produzida em julgamento, uma pena única que não vá além dos 6 anos será uma pena mais justa do que os 7 que lhe foi aplicado", diz.
O francês Sebastien Mattei que se encontrava preso em França por assalto a uma carrinha de valores nos arredores de Paris, respondia ainda por condução perigosa, crime cometido durante a fuga à GNR, em Fevereiro de 2013, quando os arguidos entraram em território nacional através da fronteira entre Elvas e Caia. Apesar de uma perseguição da GNR, o rasto dos suspeitos foi perdido.
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