A CIA alertou, em 1986, que a vitória de Mário Soares nas eleições presidenciais não apagava os riscos de instabilidade política em Portugal
A CIA alertou, em 1986, que a vitória de Mário Soares nas eleições presidenciais não apagava os riscos de instabilidade política em Portugal, e antecipou o conflito, no futuro, com o "inimigo político" Cavaco Silva.
O alerta surge num relatório da CIA, os serviços de informações dos Estados Unidos, de 26 de Março de 1986, já após a vitória de Mário Soares (1924-2017), à segunda volta, com o apoio dos comunistas, e está desde esta semana disponível no seu "site", no meio de 800 mil novos documentos.
Os poderes enquanto Presidente da República "são constitucionalmente limitados", anotava a "secreta" americana, e a "animosidade entre Soares e o primeiro-ministro pode levar a conflitos na área da política externa", comparando-os aos que existiram com Ramalho Eanes, Presidente da República entre 1976 e 1986.
Embora os problemas entre Cavaco e Soares só se tenham agravado após o segundo mandato presidencial do fundador do PS, o CIA acertou. Entre as polémicas da altura consta, por exemplo, a questão de Angola. Apesar das diferenças, o PSD de Cavaco apoiou Soares na sua reeleição, em 1991.
Mas os riscos não eram apenas as disputas entre dois inquilinos de Belém e São Bento na altura que o analista da CIA considerava serem "inimigos políticos".
No relatório é escrito que a criação do Partido Renovador Democrático (PRD), de inspiração eanista, e a sua abertura de diálogo à esquerda pode fazer crescer o risco de entendimentos.
Apesar de o PRD recusar "uma coligação com os comunistas", pode "aceitar acordos informais" com o PCP, podendo levar os comunistas a ressurgir do "gueto" político em que se encontravam desde 1975 e da "tentativa de controlo do poder", conclui.
Sobre a estratégia a seguir com Soares, escreve-se no relatório de 1986: "É especialmente importante, por exemplo, aos Estados Unidos evitarem que se dê a impressão de que prefere lidar com Soares e não com o Governo em questões centrais de política externa."
Este documento de 1986 era assinado por George Kolt, um tenente-coronel e analista da CIA, que se tornou especialista em assuntos europeus e da União Soviética, e destinava-se ao então diretor dos serviços de informações dos Estados Unidos, William Casey.
Em 800 mil documentos da CIA, Portugal está em mais de 8 mil
Entre os 800 mil documentos, que totalizam 13 milhões de páginas acessíveis agora no "site" da CIA e versam temas tão diferentes como o avistamento de OVNIS ou ensaios psíquicos, há milhares com referências a Portugal.
A sua publicação pela CIA resulta de uma decisão do ex-presidente Bill Clinton, em 1995, mas a "secreta" demorou a cumprir a decisão de divulgar documentos com mais de 25 anos.
A desclassificação foi parcial, apenas se poderiam consultar os documentos num departamento da CIA, nos Estados Unidos, mas um grupo de jornalistas e investigadores, o Muckrock, exigiu em tribunal que estes arquivos ficassem, de facto, consultáveis na Internet e isso só aconteceu esta semana
Em 1986, CIA receou "animosidade" entre Soares e Cavaco
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