"Nós temos alguns tabus. Temos uns tabus mais subtis. É os efeitos positivos e negativos do 'português suave'. O nosso racismo muitas vezes é mais subtil", considera presidente da associaçaõ.
Um debate sobre o racismo "só pode ser positivo", defende o presidente da APAV, que acha que o racismo em Portugal tem a subtileza do "português suave" e teme que o momento beneficie objetivos totalitários, populistas e pouco democráticos.
Portugal tem receio de debater o racismo? Para o presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), João Lázaro, "nós", portugueses, "temos alguns tabus".
"Nós temos alguns tabus. Temos uns tabus mais subtis. É os efeitos positivos e negativos do 'português suave'. O nosso racismo muitas vezes é mais subtil. A nossa discriminação é mais subtil, a própria violência noutras áreas acaba por ser menos exuberante do que noutras latitudes, como sejam os nossos vizinhos de península", afirmou.
Em entrevista à Lusa a propósito dos 30 anos da associação, que hoje se assinalam, o presidente da APAV entende que "só pode ser positivo haver um debate e uma reflexão alargada, um conhecimento, debate esse que nesta altura existem algumas dificuldades para ser feito sem ser manietado por objetivos mais totalitários e visões mais populistas da sociedade e da sua instrumentalização para objetivos que são muito pouco democráticos".
Para João Lázaro, a manifestação de 6 de junho mostra que "vivemos num mundo em que está tudo polarizado e em que as reações são extremadas", acrescentando que, do ponto de vista da APAV, o importante a valorizar é "o património de direitos humanos", independente da origem e contexto de cada pessoa.
"Reflexão e debate sim, claramente, para a consagração dos direitos humanos ser de conquista em conquista, e não para ser apenas objeto instigante, para um retrocesso de direitos. Há direitos que não se discutem, exatamente porque são direitos humanos", defendeu.
O estado polarizado da sociedade reflete-se no atual quadro político nacional, que passou a integrar no parlamento um partido, o Chega, com um discurso marcadamente hostil em relação a uma etnia específica: os ciganos.
"A nós preocupa-nos porque a discriminação é claramente uma forma de violência. Essa violência discriminatória anda paredes meias com crimes de ódio. Os decisores políticos devem claramente dar o exemplo da integração, da sociedade plural, de não discriminação que deveremos ser todos nós. A nossa história não nos ensina outra coisa que o desfecho não seja esse. Os crimes de ódio, de discriminação, têm vindo a subir e isso é claramente um fator que nos preocupa, quer em termos de prevenção, quer em termos de intervenção", defendeu o presidente da APAV.
O Chega vai manter a manifestação agendada para sábado e estima que poderá juntar cerca de 1.500 pessoas que defendem que Portugal não é racista, ainda que em Lisboa tenham sido decretadas restrições a ajuntamentos devido à pandemia.
É do Chega a iniciativa da próxima manifestação em Lisboa, no sábado, que pretende juntar os que acham que não existe racismo em Portugal, na qual o líder do partido, André Ventura, espera reunir cerca de 1.500 pessoas.
Ventura demarcou-se entretanto do apelo lançado pelo líder da extrema-direita, Mário Machado, que pediu aos seus seguidores que se juntassem à manifestação.
APAV: Racismo em Portugal tem a subtileza do "português suave"
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Só espero que, tal como aconteceu em 2019, os portugueses e as portuguesas punam severamente aqueles e aquelas que, cinicamente e com um total desrespeito pela dor e o sofrimento dos sobreviventes e dos familiares dos falecidos, assumem essas atitudes indignas e repulsivas.
Identificar todas as causas do grave acidente ocorrido no Ascensor da Glória, em Lisboa, na passada semana, é umas das melhores homenagens que podem ser feitas às vítimas.
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