As limitações ao reagrupamento familiar e o alargamento do prazo de acesso à nacionalidade "colocam Portugal perante novos desafios".
As alterações às políticas migratórias e de integração em Portugal prejudicaram a avaliação comparativa no contexto internacional, embora o país ainda se mantenha um pouco acima da média comunitária, segundo um relatório apresentado esta segunda-feira.
São detetadas "quedas acentuadas em dois domínios estruturais das políticas de integração", nomeadamente em temas como a "nacionalidade (--52 pontos) e reagrupamento familiar (--33 pontos)".Lusa
As mudanças legislativas recentes, com novas limitações ao reagrupamento familiar e o alargamento do prazo de acesso à nacionalidade "colocam Portugal perante novos desafios e reforçam a necessidade de um debate informado sobre as políticas de integração", refere a atualização 2025 do Migration Integration Policy Index (Mipex, na sigla inglesa).
No ranking comparativo, são detetadas "quedas acentuadas em dois domínios estruturais das políticas de integração", nomeadamente em temas como a "nacionalidade (--52 pontos) e reagrupamento familiar (--33 pontos)".
No que respeita ao acesso à nacionalidade, o ranking indica que Portugal desceu de 86 para 34 pontos, posicionando-se agora abaixo da média europeia (44)" enquanto o alargamento dos prazos para reagrupamento familiar, motivou uma queda no índice, "de 93 para 60 pontos", sete pontos acima da média da UE.
"Apesar destas quedas, Portugal mantém a pontuação global acima da média europeia, embora com um perfil bastante mais desequilibrado do que nos ciclos anteriores", referem os autores.
"A integração dos imigrantes concretiza-se sobretudo ao nível local, onde se manifestam as necessidades quotidianas e onde a resposta institucional é mais imediata" , sublinha a investigadora Lucinda Fonseca, que geriu o processo de avaliação da situação portuguesa.
Esta sessão pretendeu ser "um espaço de reflexão crítica, de diálogo informado e de construção de caminho", porque a "integração de imigrantes é um tema essencial para o país".
O ranking "Mipex é uma ferramenta que permite comparar políticas de integração entre mais de 50 países, comparando oito domínios de política pública.
O recuo de Portugal em áreas sensíveis deve ser entendido como um alerta, "mas também como uma oportunidade para reforçar políticas públicas, investir em capacidades locais e recentrar a integração como prioridade estratégica", referiu Maria Lucinda Fonseca.
Segundo a geógrafa do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, Portugal mantém uma "experiência sólida de políticas de integração", mas as recentes alterações legislativas podem prejudicar a coesão social, caso não existam medidas que mitiguem o seu impacto.
O associativismo de imigrantes, políticas de governação multinível, aumento do trabalho das autarquias locais e o reforço do apoio nas escolas são algumas das propostas da investigadora.
Por seu turno, Basak Yavcan, coordenadora da equipa de investigação do MIPEX, destacou o endurecimento das políticas migratórias na Europa, uma tendência a que Portugal aderiu este ano.
Até 2024, Portugal, a par da Finlândia ou Suécia, tinha as melhores políticas de integração e acolhimento de imigrantes, mas essa tendência mudou, explicou.
O que fazia Portugal ser um líder nesta área era o fácil acesso dos imigrantes à regularização, ao mercado de trabalho, ao sistema de ensino e ao reagrupamento familiar.
No contexto europeu, verifica-se uma "estagnação das políticas de integração", para a qual tem contribuído a ascensão dos partidos de extrema-direita, explicou Basak Yavcan.
Apesar de o Mipex só avaliar as políticas até 2023, a comissão organizadora decidiu avaliar o impacto das medidas legislativas aprovadas este ano, tendo verificado quedas acentuadas no acesso à nacionalidade e ao reagrupamento familiar, duas condições essenciais para a integração plena dos imigrantes.
"Isto preocupa-nos, porque vai criar novas dificuldades", admitiu Basak Yavcan.
A comentar os resultados, António Vitorino, ex-diretor da Organização Internacional das Migrações considerou que as alterações legais terão pouco impacto na atração e fixação de imigrantes ao país, constituindo mais uma resposta à pressão de movimentos populistas.
"É uma tendência global que chegou a Portugal", disse.
O evento contou com a presença da administradora da Gulbenkian, Cristina Casalinho, que destacou as vantagens de Portugal em ter boas políticas de integração de refugiados e imigrantes, como sucedeu no passado.
Cristina Casalinho recordou que a Gulbenkian encontrou em Portugal uma "sociedade tão hospitaleira, tão tranquila e tão acolhedora" que optou por ficar aqui radicado após a II Guerra Mundial, tendo aqui instalado a fundação com o seu nome.
Por isso, a administradora admitiu a abertura da Fundação Gulbenkian para mais projetos na integração de imigrantes e refugiados.
Alterações às leis migratórias diminuem posição de Portugal em ranking europeu de integração
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Invadiram uma escola na Nigéria sequestraram cerca de 300 alunos e professores. Na sede do Bloco de Esquerda, no site esquerda.pt, na espuma de Mariana Mortágua e na antiquíssima modelo Aparício, imperou o silêncio violento.
Vivemos num aqui-e-agora permanente, num ambiente digital que se infiltrou em todas as dimensões da vida e do trabalho. E, fascinados, desenvolvemos uma espécie de dissonância coletiva que atribui ao digital a solução para quase tudo.