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70% dos magistrados em risco elevado de problemas de saúde devido a trabalho

Estudo realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra em parceria com a PGR e o Sindicato dos Magistrados revela ainda que 14,8% dos profissionais se encontram em risco elevado de burnout.

Mais de 70% dos magistrados estão em risco elevado de problemas de saúde devido ao trabalho, concluiu um estudo realizado pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra em parceria com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP).

Vítor Mota

O estudo apresentado esta sexta-feira foi realizado a partir de 324 questionários online, realizados entre junho e julho de 2023, e adianta que a grande maioria dos magistrados trabalha mais de 35 horas semanais, verificando-se uma média de 45,7 horas semanais. Em média, os magistrados que fazem apenas investigação trabalham 46,2 horas, e nos julgamentos, trabalham 44,6 horas.

Cerca de 60% dos magistrados frisam trabalhar durante o seu tempo livre várias vezes por semana ou todos os dias para conseguir responder ao trabalho necessário e mais de 80% perde um domingo ou um sábado uma vez por mês.

"Só não venho ao tribunal ao fim de semana porque trabalho em casa", revelou um magistrado entrevistado. Foram feitas 32 entrevistas a magistrados. "Desde setembro até hoje, não houve um fim de semana que não trabalhasse."

Analisados os fatores de risco psicossociais, os investigadores verificaram que as exigências cognitivas (86,1%) e o ritmo de trabalho (80,6%) são os fatores mais apontados como de maior risco para a saúde. Também o conflito entre o trabalho e a família (78,7%) e as exigências emocionais (71,3%) registaram valores elevados.

"O meu filho quando tinha quatro anitos disse-me ‘ó mãe, eu não sou mais importante do que os processos?’ Não tive mais filhos, mas gostaria de ter tido. Mas não é compatível. Paga-se caro", lê-se numa das entrevistas.

41,4% dos inquiridos sofrem de problemas em dormir e 34%, de sintomas depressivos. "O problema desta atividade é que estamos a dormir, mas o cérebro não para e, ao outro dia, já acordamos cansados", detalha uma entrevista. "Há pouco tempo [falei com um colega que me] disse que tinha vomitado durante a noite toda com o stress, por causa de uma decisão que tinha de fazer naquele dia."

O estudo indica ainda que 14,8% dos magistrados se encontram em risco elevado de burnout.

Os investigadores deixam algumas recomendações para melhorar as condições de trabalho, que vão da implementação de um Plano de Segurança e Saúde no Trabalho ao mapeamento das necessidades e reforço dos quadros do Ministério Público, à autonomia financeira e administrativa da PGR para gerir recursos humanos e intervir na melhoria das condições de trabalho.

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