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Tancos: Marcelo falou ou não com o ex-diretor da PJM?

12 de abril de 2019 às 15:32

Presidente da República já o desmentiu duas vezes, mas Luís Vieira diz que Marcelo lhe garantiu que falaria com Joana Marques Vidal sobre a investigação ao roubo de Tancos.

O Presidente da República,Marcelo Rebelo de Sousa, reiterou que não chegou a falar com o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, no dia em que visitouTancos, contrariando o que o próprio afirmou na quarta-feira no parlamento.

"O que se passou foi tão simples quanto isto. No fim da visita que fiz a Tancos, o senhor ministro da Defesa chamou para perto de mim o senhor, então, diretor da Polícia Judiciária Militar, e disse 'olhe, eu gostava de falar consigo'", começou por contar Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que "nunca aconteceu isso, até hoje".

"E, olhando para trás, provavelmente foi sensato nunca ter acontecido", salientou Marcelo aos jornalistas.

"Eu já desmenti há seis meses. Não posso, de seis em seis meses, estar a desmentir o que uma pessoa diz", vincou.

O chefe de Estado afirmou que "apenas disse que falaria com ele oportunamente, quer dizer que não disse mais nada". "A única vez em que eu tive a possibilidade de dirigir palavra a essa pessoa foi aquela, no fim da visita em Tancos e para dizer havemos de falar. Nunca falei e hoje estou feliz por nunca ter falado", apontou.

Já numa nota publicada quarta-feira no 'site' da Presidência da República lia-se que, "como o Presidente da República já disse várias vezes, no final da visita a Tancos, o então ministro da Defesa trouxe para junto de si o então diretor da Polícia Judiciária Militar". "O Presidente da República disse-lhe que haveria de o receber oportunamente, audiência que acabou por nunca se realizar", acrescenta a nota.

O ex-diretor da Polícia Judiciária Militar afirmou na quarta-feira que o Presidente da República lhe terá garantido que falaria com a ex-Procuradora-Geral da República, depois de queixas suas sobre a direção do inquérito não furto de Tancos.

Ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material de guerra em Tancos, Luís Vieira acusou a ex-PGR Joana Marques Vidal de ter cometido "uma ilegalidade" ao retirar a direção do inquérito à Polícia Judiciária Militar (PJM), estando em causa "crimes estritamente militares" que assim "ficaram por investigar".

O ex-diretor nacional da PJM, arguido no processo que investiga o furto e recuperação do material de guerra, contou que na tarde do dia 03 de julho falou com o então ministro da Defesa Nacional sobre o assunto e que Azeredo Lopes lhe terá dito para "aparecer" em Tancos no dia seguinte, porque iria convidar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a visitar aquela infraestrutura crítica.

Nessa ocasião, depois da visita ao perímetro dos paióis, houve uma "reunião na casa da guarda" na qual, segundo Luís Vieira, o Presidente da República o questionou sobre o andamento das investigações.

Sobre as investigações em curso "não podia dizer nada", mas, afirmou Luís Vieira, perante "dezenas de testemunhas", disse a Marcelo Rebelo de Sousa que estava preocupado com a posição da PGR sobre a direção do inquérito, que considerou ilegal, e que o fez com insistência.

Durante a audição, o coronel Luís Vieira contou que Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "ia falar com a procuradora-geral da República e deu um conselho ao ministro da Defesa para falar com a sua colega ministra da Justiça".

"Eu partilhei com o Presidente da República do meu estado de alma com a decisão de a PGR ter violado três leis da Assembleia da República, na interpretação que eu faço, e insisti muitas vezes [no assunto] ao Presidente da República", reiterou.

Questionado pelo deputado do PSD Rui Silva, que afirmou que "não está a ver o Presidente da República a dizer que ia falar com a procuradora" sobre o assunto, o coronel Luís Vieira respondeu: "Tenho dezenas de testemunhas".

Na audição, Luís Vieira adiantou que entregou no dia 04 de agosto de 2017 ao ministro da Defesa Nacional um "memorando" com o seu "parecer" sobre as competências dos órgãos de investigação criminal no qual defendia que cabia à PJM e não ao Ministério Público a investigação dos "crimes estritamente militares" ocorridos em Tancos.

O coronel acrescentou que o então ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, deu na sua presença "instruções ao chefe de gabinete, general Martins Pereira, para fazer chegar o memorando sobre as competências ao primeiro-ministro", António Costa.

"De seguida telefonei ao chefe da Casa Militar da Presidência da República, general Cordeiro, e ele disse que ia mandar um funcionário" para ir buscar cópia do documento, referiu.

O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017. Quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.

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