PSD Coimbra arrasa direção de Rui Rio
Concelhia considera que Rui Rio atropelou os estatutos ao ignorar que concelhia e distrital tinham um candidato escolhido para a Câmara de Coimbra.
A escolha do candidato à Câmara de Coimbra foi uma "decisão unilateral e prepotente" da direção nacional do PSD, que deu mostras de "oportunismo político" e protagonizou tentativas de "criar a desunião e a intriga junto das bases do PSD local". As acusações feitas pela concelhia à direção do partido são duras, mas ao que a SÁBADO apurou não deverão dar "para já" lugar a uma participação ao Conselho de Jurisdição Nacional do partido.
A concelhia não poupa nos adjetivos em relação à forma como a direção de Rui Rio conduziu o processo de escolha do candidato do PSD à Câmara de Coimbra. Num comunicado emitido dois dias depois de se saber que Rio apoia a candidatura do independente José Manuel Silva, há mesmo a acusação de atropelo aos estatutos do partido.
Para a concelhia liderada por Carlos Lopes, a decisão de apoiar o ex-bastonário da Ordem dos Médicos é "profundamente errada e desrespeitadora dos Estatutos, das decisões e vontade dos órgãos locais, e mais importante, de todos os que na sociedade civil de Coimbra vinham ajudando a construir uma alternativa credível ao PS".
Segundo os estatutos do PSD, cabe à concelhia indicar um nome, que é depois aprovado pela distrital e tem de ser homologado pela direção nacional. Neste caso, concelhia e distrital tinham há muito definido Nuno Freitas como o candidato à Câmara. Mas na sexta-feira o secretário-geral do partido, José Silvano, ligou a Freitas a avisá-lo de que a escolha da direção seria outra.
"O coordenador autárquico nacional, Dr. José Silvano, informou que o nome escolhido pelos órgãos locais do PSD de Coimbra para encabeçar a candidatura do partido às próximas eleições autárquicas no Concelho, o militante, médico e empresário Nuno Freitas, não será homologado pela Comissão Política Nacional do PSD", reitera agora a estrutura local num comunicado, lembrando que "faz precisamente hoje um ano que os militantes do PSD Coimbra aprovaram, por unanimidade, o Documento Estratégico Autárquico, que definia o perfil e a estratégia para as eleições autárquicas e que culminou com o convite feito pela concelhia do PSD ao Dr. Nuno Freitas e por este aceite no passado dia 4 de julho, dia da cidade de Coimbra".
A forma como o processo se desenrolou tem os ingredientes necessários para que as estruturas locais recorram ao Conselho de Jurisdição Nacional, com uma queixa por infração dos estatutos do partido. Mas a SÁBADO sabe que isso "para já" não acontecerá.
Como se explica no comunicado, o próximo passo será a convocação de uma "Assembleia Concelhia para ouvir, debater e apoiar esta nova estratégia autárquica do PSD".
Plenário bloqueado?
Agendar esse plenário pode, contudo, não ser tão fácil como parece. "Já tentámos marcar várias vezes plenários desde setembro, mas não foi possível até hoje", nota à SÁBADO uma fonte social-democrata de Coimbra, que não encontra razões para explicar por que motivo a presidente da mesa do plenário, Fernanda Mota Pinto, ainda não convocou a reunião que é pedida desde o final do verão. "Só a Dra. Fernanda Mota Pinto poderá responder por que razão não marcou o plenário até à data", limita-se a dizer a mesma fonte.
Ao que a SÁBADO apurou, a expectativa na concelhia conimbricense é a de que alguém da direção nacional venha a essa reunião "explicar aos militantes da cidade as opções tomadas".
Para já, "a Comissão Política Concelhia, vem publicamente pedir desculpa a todos que desinteressadamente se dispuseram a apoiar, com o seu prestígio e saber pessoal, a candidatura do Dr. Nuno Freitas", assegurando que o "desacordo não implica" que não se possam "continuar a honrar os compromissos" assumidos pelo PSD de Coimbra na construção de uma alternativa ao socialista Manuel Machado que lidera a Câmara da cidade.
"Após esta decisão unilateral e prepotente, que em nada ajuda a criar condições de mobilização e mina a confiança que é absolutamente necessária para se puder preparar um combate político difícil, o PSD de Coimbra continuará unido e tudo fará para criar as condições necessárias e ser a única e verdadeira alternativa ao Partido Socialista e às políticas que têm desvalorizado, ano após ano, Coimbra e a sua região", lê-se na nota da concelhia, que recusa entrar em "guerrilhas internas", mas não deixa de apontar o dedo a um dos protagonistas desta reviravolta.
Tal como a SÁBADO avançou em outubro, o deputado e vice de Rio Maló de Abreu foi quem conduziu as negociações com o movimento independente Somos Coimbra, criado há quatro anos para apoiar a candidatura de José Manuel Silva. Agora, a concelhia não hesita em criticar a sua atuação.
"Militantes como o deputado António Maló de Abreu, tentaram por diversas vezes e, até publicamente, ao longo dos últimos meses, criar a desunião e a intriga junto das bases do PSD local, numa tentativa clara de oportunismo político e tentando ultrapassar as competências estatutárias do PSD, o que repudiamos totalmente", ataca a concelhia.
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