Secções
Entrar

Covid-19: PS, PSD e CDS a favor do estado de emergência, esquerda tem dúvidas e PCP é contra

02 de novembro de 2020 às 19:51

No final de uma ronda de audiências do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com os partidos, que começou às 11h e terminou depois das 18h, apenas o PCP se manifestou claramente contra e a Iniciativa Liberal (IL) disse ser improvável apoiar este quadro jurídico.

O PS, partido do Governo, o principal partido da oposição, PSD, e o CDS concordaram esta segunda-feira, em princípio, com a declaração do estado de emergência "preventivo" proposto pelo primeiro-ministro para combater a segunda onda da pandemia.

No final de uma ronda de audiências do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com os partidos, que começou às 11h e terminou depois das 18h, apenas o PCP se manifestou claramente contra e a Iniciativa Liberal (IL) disse ser improvável apoiar este quadro jurídico.

Ainda à esquerda, o Bloco de Esquerda (BE) remeteu o sentido de voto para quando for conhecido o texto a pedir autorização do parlamento, apesar de considerar desnecessário este instrumento.

O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) admitiu a disponibilidade de apoiar a declaração de estado de emergência, sem se comprometer já com o sentido de voto.

O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) manifestou dúvidas e o Chega colocou 'linhas vermelhas', como a recusa de um novo confinamento geral.

O primeiro a ser recebido foi o chefe do Governo, António Costa, que justificou por que propõe que seja decretado o estado de emergência "com natureza preventiva" para "eliminar dúvidas" sobre a ação do Governo para a proteção dos cidadãos.

Segundo António Costa, a proposta também visa "robustecer" a ação do executivo para que, eventualmente, se possa proceder à utilização de recursos e meios de saúde, seja no setor privado, seja no setor social".

Seguiram-se, por ordem crescente, os partidos parlamentares e o líder e deputado da IL foi o primeiro.

João Cotrim de Figueiredo considerou ser  improvável apoiar um estado de emergência, mas admitiu que irá aguardar o eventual decreto presidencial e decidirá em função da sua redação.

"Como é sabido não gostamos de estados de emergência, mas em especial não gostamos de estados de emergência que contenham cheques em branco, como é o recurso sem qualquer espécie de limitação a bens privados, cooperativos ou sociais sem saber em que termos", afirmou.

Antes ainda de reunir, pela tarde e à distância, por videoconferência, o líder do PSD disse, logo pela manhã, que apoiará o Governo e o Presidente se estes entenderem que o "interesse nacional" e razões de constitucionalidade justificam a declaração do estado de emergência devido ao surto epidémico.

"Se o Governo entende que as medidas que pretende tomar são inconstitucionais se não tiver o estado de emergência, se o senhor Presidente da República também entende assim, então obviamente que eu dou o meu apoio", sublinhou Rui Rio, à margem de uma reunião com a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), no Porto.

André Ventura, líder e deputado do Chega, recusou apoiar qualquer estado de emergência que implique um "confinamento geral", como aconteceu em março, e defendeu medidas de apoio para evitar uma "verdadeira tragédia" na economia.

Já o líder parlamentar do PEV, José Luís Ferreira, manifestou "reservas e fundadas dúvidas" sobre a necessidade de estado de emergência, mas reservou a posição final para quando for conhecido o decreto, dizendo que "ainda não vislumbrou as vantagens" da decisão de março e que as medidas mais relevantes - o encerramento das escolas ou o confinamento voluntário dos portugueses - aconteceram "antes ou à margem" desse período.

Depois da pausa para o almoço, o porta-voz do PAN disse acompanhar "genericamente" as preocupações expressas pelo Governo quanto ao estado de emergência, pedindo que se clarifique que "não se pode coartar ou restringir" a campanha para as eleições presidenciais.

O deputado não quis, contudo, comprometer-se com o sentido de voto do partido, dizendo querer esperar pelo conteúdo concreto do decreto que Marcelo Rebelo de Sousa - se entender decretar o estado de emergência - enviará à Assembleia da República.

Já o presidente do CDS-PP manifestou a disponibilidade do partido para votar a favor de um estado de emergência "minimalista" e que acautele dúvidas jurídicas, mas acusou o Governo de "transformar a pandemia num pandemónio".

Francisco Rodrigues dos Santos acusou o executivo de ter "uma gestão desastrosa" da pandemia e que deveria ter agido mais cedo em áreas como a contratualização com os setores privado e social da saúde ou o reforço do rastreamento, não é "negacionista" e participará "no esforço nacional de salvar vidas".

Pelo PCP, o secretário-geral dos comunistas afirmou-se contra uma eventual declaração do estado de emergência, que classificou como desnecessário, defendendo que o importante é reforçar os meios no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"Obviamente, não acompanhamos por sentir que é desnecessário. Se alguém pensa que criando o estado de emergência os problemas vão ser resolvidos estão enganados, a questão não se resolve pela repressão, é pela proteção", disse.

Penúltimo a ser recebido por Marcelo, o vice-presidente do PSD Nuno Morais Sarmento reiterou que o partido "nada tem a opor" à declaração do estado de emergência, mas avisou que o aval não compromete os sociais-democratas com medidas concretas nem com a sua duração.

Por fim, o PS foi o último a reunir-se com o Presidente da República e o secretário-geral adjunto dos socialistas, José Luís Carneiro, afirmou que o partido "é favorável" a uma declaração do estado de emergência, com medidas "limitadas no tempo", "adequadas e proporcionais", e disse esperar uma "maioria confortável" no parlamento.

O primeiro-ministro propôs hoje ao Presidente da República que seja decretado o estado de emergência - que pretende ver renovado por um período alargado - "com natureza preventiva" para "eliminar dúvidas" sobre a ação do Governo para a proteção dos cidadãos em relação à pandemia da Covid-19 em quatro áreas.

O estado de emergência vigorou em Portugal no início desta epidemia, entre 19 de março e 2 de maio.

De acordo com a Constituição, a declaração do estado de emergência pode determinar a suspensão de alguns dos direitos, liberdades e garantias, por um prazo máximo de 15 dias, sem prejuízo de eventuais renovações com o mesmo limite temporal.

Em Portugal, os primeiros casos de infeção com o novo coronavírus foram detetados no dia 2 de março e até agora já morreram 2.590 pessoas dos 146.847 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

 

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela