DGS recomenda vacina da AstraZeneca a maiores de 60 anos
Após confirmação da ligação entre a vacina da AstraZeneca e a ocorrência de coágulos sanguíneos invulgares, Portugal opta por administrar a vacina apenas a pessoas com mais de 60 anos "até estar disponível informação adicional". Vacinação de docentes e não docentes será adiada por uma semana.
Portugal vai recomendar a administração da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 a maiores de 60 anos, após ligações da vacina a episódios de tromboembolismo, limitando a toma de doses apenas aos grupos etários mais velhos.
Em conferência de imprensa, o presidente do Infarmed, Rui Ivo, ao lado da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e do coordenador do plano de vacinação, o almirante Gouveia e Melo, comunicou inicialmente que os "benefícios da vacina superam os seus riscos".
Graça Freitas apontou depois que o objetivo é "salvar vidas" e que, por isso, até estar disponível informação adicional, a vacinação da vacina da AstraZeneca só continuará para pessoas com mais de 60 anos.
A diretora-geral da Saúde apelou ainda que aqueles que tomaram a primeira dose da vacina devem continuar "calmos e confiantes". Graça Freitas avançou ainda que será oferecida uma segunda dose da vacina da AstraZeneca a quem já tomou a primeira, cabendo às pessoas vacinadas se devem tomar esta segunda dose ou não.
Como consequência desta decisão, avança o almirante Gouveia e Melo, a vacinação de docentes e não docentes será adiada por uma semana. Em vez de decorrer neste fim de semana, será feita no próximo fim de semana, com outras vacinas mais adequadas. Ainda assim, garante o coordenador do plano de vacinação, não haverá impacto significativo na campanha de vacinação contra a Covid-19.
"Temos uma população acima dos 60 anos superior a dois milhões de habitantes, portanto, a vacina da AstraZeneca, sendo útil na vacinação dessa população, o plano não vai sofrer grandes alterações e será útil para conseguir dar proteção a uma população mais idosa. Vai ser usada precisamente para isso", explicou, sem deixar de manifestar a expectativa de que "no fim de maio a maior parte da população com mais de 60 anos esteja praticamente toda vacinada com a primeira dose".
O presidente do Infarmed, Rui Ivo, acrescentou ainda que só foram registados dois casos de eventos tromboembólicos após a administração da vacina contra a covid-19, um deles após a dose da vacina da AstraZeneca e outro com outra vacina, entre cerca de 400 mil doses administradas em Portugal. Nenhum deles resultou na morte dos doentes.
Vários países já decidiram, entretanto, traçar limites e não administrar a vacina da AstraZeneca abaixo de certas idades por uma questão de segurança: 30 anos no Reino Unido, 55 anos em França, Bélgica e Canadá, 60 anos na Alemanha, Itália e nos Países Baixos ou 65 anos na Suécia e na Finlândia.
Já hoje, a Austrália e as Filipinas juntaram-se à lista de países que estão a suspender a administração da vacina contra a doença covid-19 da AstraZeneca à população mais jovem, devido a preocupações relativamente à formação de coágulos sanguíneos.
Esta quarta-feira, o Comité de Avaliação de Risco em Farmacovigilância (PRAC) da Agência Europeia do Medicamento (EMA), determinou que existe uma "possível ligação entre a administração da vacina e a ocorrência de coágulos sanguíneos invulgares combinado com nível baixo de plaquetas" e que este efeito secundário "deve ser incluído no resumo das características do medicamento (RCM) e folheto informativo (FI) na informação da vacina Vaxzevria".
O mesmo PRAC avançou que, em cerca de 25 milhões de pessoas vacinadas com a vacina da AstraZeneca na União Europeia e Reino Unido até 22 de março, foram identificados 62 casos de trombose dos seios venosos cerebrais e 24 casos de trombose venosa esplâncnica, dos quais 18 resultaram na morte de vacinados.
A EMA reconhece que a explicação para estas reações adversas é uma "resposta imunológica similar à ocasionalmente observada em doentes tratados com heparina, designada trombocitopenia induzida por heparina (HIT, em inglês)". No entanto, reconhece, é ainda necessária "mais informação que permita clarificar este mecanismo, pelo que foi solicitada a condução de novos estudos e alteração dos já em curso".
Os casos ocorreram maioritariamente em mulheres com menos de 60 anos, nas duas semanas seguintes à vacinação, desconhecendo-se ainda fatores de risco associados a este efeito secundário da vacina. Estes tipos raros de eventos tromboembólicos ocorreram em veias do cérebro (trombose dos seios venosos cerebrais, CVST), do abdómen (trombose venosa esplâncnica) e trombose arterial, acompanhados por níveis baixos de plaquetas, alguns deles com hemorragia.
O Infarmed alertou que, embora a possibilidade de aparecimento destes tipos de coágulos seja muito baixa, as pessoas vacinadas devem procurar imediatamente assistência médica se detetarem algum destes sintomas: falta de ar, dor no peito, inchaço nas pernas, dor abdominal persistente, sintomas neurológicos, como dores de cabeça intensas e persistentes ou visão turva ou pequenas manchas de sangue sob a pele, em locais distintos do local da injeção.
Portugal já tinha interrompido temporariamente a administração da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 a 15 de março, por ligações da vacina a episódios de coagulação do sangue, apenas para retomar a vacinação uma semana depois, a 22 de março, depois da Agência Europeia do Medicamento ter determinado que a vacina era "segura e eficaz" contra o novo coronavírus.
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