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Aconteceu o que já se previa: o juiz implodiu a Operação Marquês. Reduziu a cinzas uma investigação de anos. No fim fica a pergunta: e todo o dinheiro suspeito que andou por aí?
E pronto. É assim que se implode um processo, uma investigação de anos arrasada durante pouco mais de 3 horas. Ainda sob a forma de resumo jurídico, conforme Ivo Rosa destacou perante a plateia que tinha à frente e toda a outra que acompanhava em direto pelas televisões e algumas rádios. Porque os argumentos do juiz, os argumentos completos, estão fisicamente em 21 volumes. Eram 18h 01 quando o juiz de instrução da Operação Marquês disse: "Terminou aqui a decisão do tribunal".
E a decisão foi arrasadora para o Ministério Público, volto a frisar. O juiz não se limitou a destruir praticamente toda a acusação, que apontava largas dezenas de crimes a José Sócrates, ao amigo Carlos Santos Silva, a Armando Vara, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e muitos outros. Fez mais. Viu indícios de crimes na distribuição inicial da Operação Marquês no próprio Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), criticou fortemente os investigadores pela forma como fizeram a investigação, pela leitura que fizeram de factos, pela forma como recolheram e interpretaram alguns testemunhos e até pelo tipo de crimes com que indiciaram vários suspeitos como Bava e Granadeiro.
Durante longos minutos, Ivo Rosa foi qualificando a acusação com epítetos fortes: "falta de rigor", "sem conteúdo; "sem provas", "total incoerência", "completamente inócua", "nenhuma prova direta", "fantasia", "pura especulação". Ivo partiu dos factos relatos pelo MP e associados às transferências de dinheiro encontradas, os investigadores fizeram o contrário. Andaram a seguir o dinheiro e arranjaram factos para o explicar. No fim, as duas versões que agora temos à frente, uma espécie de 8 e 80, são certamente difíceis de perceber pela generalidade dos portugueses.
Num caso, não há crimes ou então já prescreveram, noutros, o que não faltam são crimes e comportamentos criminosos e aviltantes. Depois de sete anos a ouvir falar da Operação Marquês, o périplo vai continuar. O Ministério Público vai recorrer para que seja a Relação de Lisboa dirimir quem tem razão, qual destes 8 ou 80 são verdadeiros para ir a julgamento, qual destas versões tem sentido. Ou se alguma delas tem. E, já agora, para que se perceba de vez porque é que declarações de ministros, assessores e amigos de Sócrates são valoradas por uns (o juiz) e não por outros (investigadores do MP) e outros testemunhos como os de Hélder Bataglia, do gestor de fortunas Michel Canals e do empresário Paulo Azevedo também entram no jogo das interpretações consoante os olhos que as avaliam.
É imperioso que se perceba o que aconteceu, que explicação existe para tantos milhões de euros encontrados a cirandar em envelopes, de conta em conta, de offshore em offhore. É necessário que se perceba, que percebamos todos, aquilo que aconteceu realmente. Que o resultado disto tudo não seja apenas uma ilusão de censura sobre a "manipulação do aparelho de Estado" ou o "mercandejar com o cargo", expressões do juiz dirigidas a Sócrates para qualificar as evidências de códigos ao telefone, esquemas com envelopes, pagamentos de despesas próprias e de outros durante anos a fio.
Para Ivo Rosa, o mais importante processo crime da justiça portuguesa deve acabar em quatro julgamentos individuais de cinco acusados. E em meia dúzia de alegados crimes de branqueamento de capitais (subsequentes a um crime de corrupção que o juiz diz já estar prescrito para Sócrates) e de falsificação do antigo primeiro ministro e do amigo Santos Silva. E pouco mais do que isso. Aguardam-se os novos capítulos desta novela da vida real.
André Ventura mostrou que não é a opinião publicada - aquela que vê imaginárias derrotas em debates eleitorais - que manda em quem vai às urnas votar. Sim, o mundo é outro.
António Costa é culpado de muita coisa, mas não é José Sócrates. Nunca foi. Por isso, alguém tem de lembrar que deve parar de atacar a justiça portuguesa e a separação de poderes. Para quem ainda tem tanto poder e está na situação em que está, isso é difícil de encaixar. Só falta saber se a justiça também sabe o que está em causa.
Há quem não goste da independência das magistraturas e das polícias e lhe chame justicialismo. Há quem não veja que o País está farto de quem pulula em novelas com robalos e envelopes, entregas de dinheiro no WC e infantilidades na varanda.
Com os bancos portugueses a faturarem como não acontecia há anos, são cada vez mais as vozes que exigem que o Governo vá além dos alertas públicos sobre o comportamento da banca e tome medidas concretas para disciplinar o mercado.
Que futuro tem um País em que sistematicamente se rasgam os contratos sociais, mas há dinheiro para tudo o resto, da banca à TAP e à Efacec, sem que nos digam qual é o preço, as condições ou as implicações para os credores que somos todos nós?
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Chamar a este projeto de “corredor da paz” enquanto se inscreve o nome de Trump é uma jogada de comunicação que consolida a sua imagem como mediador global da paz.
Cuidarmos de nós não é um luxo ou um capricho. Nem é um assunto que serve apenas para uma próxima publicação numa rede social. É um compromisso com a própria saúde, com a qualidade das nossas relações e com o nosso papel na comunidade.
Prepara-se o Governo para aprovar uma verdadeira contra-reforma, como têm denunciado alguns especialistas e o próprio Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, num parecer arrasador.