No FC do Porto, mesmo sob a veste de um fato de gala não pode, nunca, deixar de haver o espírito humilde e de trabalho de quem enverga um fato de macaco.
1. Não acompanho muitas das críticas que foram tecidas a respeito da exibição do FC do Porto no último jogo no Dragão contra o SC de Braga.
O FC do Porto teve 27 minutos iniciais de muito bom nível, com velocidade, intensidade e agressividade sem bola, pressão alta e bons posicionamentos em campo, recuperando rapidamente a bola e ligando muito bem o jogo, atraindo por dentro e procurando atacar a profundidade por fora face aos espaços que a linha defensiva de seis homens do Braga deixava nas costas (e fazia-o sobretudo através de João Mário), criando bons lances, oportunidades e desperdiçando, praticamente, dois penalties em andamento.
Depois desse período, é verdade que o FC do Porto deixou de pressionar alto, baixou a intensidade, teve decisões menos boas com bola (precipitando-se, muitas vezes, em busca da profundidade) e o SC de Braga, equipa recheada de bons valores e que é sempre um adversário complicado para qualquer um dos grandes, equilibrou.
Não obstante esse período menos fulgurante, o FC do Porto, fruto da sua boa organização defensiva, pouco ou nada permitiu ao Braga.
Na segunda parte e contrariamente ao que fui lendo, o Porto entrou bem, a controlar o jogo com bola e com as suas linhas bem posicionadas e subidas em campo, até que aos 54 minutos o Braga chega ao empate num fantástico remate fora da área após um alívio de cabeça infeliz de Nehuen Pérez que colocou a bola na zona central da grande área.
Não obstante o enorme mérito no remate do jogador do Braga, houve duas falhas do FC do Porto naquele lance: 1 – o alívio de Pérez não pode ser feito para a zona frontal da sua grande área; 2 – Eustáquio ou Varela têm de aparecer naquele espaço à frente dos centrais (momentos antes do golo, o Braga havia criado um lance perigoso num cruzamento da direita feito em diagonal para trás, onde Eustáquio afunda demasiado e cola-se aos centrais quando tem de estar mais subido para interceptar qualquer cruzamento feito para aquela zona da área).
O FC do Porto reagiu bem e colocou-se novamente em vantagem 5 minutos depois numa boa finalização de Pepê após uma assistência maravilhosa de Nico Gonzalez.
Após o golo, mesmo entre alguns chutões para a frente sem nexo dos centrais, o FC do Porto controlou e pausou mais o jogo com bola, procurando acelerar quando descobria espaços na zona defensiva do Braga.
Até que minutos depois da saída de Eustáquio, o cariz de jogo mudou.
O Porto passou a ser menos agressivo sem bola, recuou demasiado as suas linhas – presumo devido ao cansaço (havia tido um jogo muito intenso 3 dias antes) e ao facto de não se querer expor a um qualquer erro defensivo que fizesse perigar o resultado – e não soube respirar com bola, não conseguindo ligar dois passes seguidos.
Ainda assim, manteve-se organizado defensivamente, procurando ajustar sempre que o Braga circulava a bola de um lado ao outro do terreno, e nunca permitiu que o Braga construísse lances de perigo (curioso que muitos falam no número de remates feitos pelo SC de Braga para acentuar uma pretensa fragilidade defensiva do FC do Porto mas ninguém foi capaz de dizer que a esmagadora maioria dos remates do SC Braga à baliza do FCP foram feitos fora da área e sem qualquer direcção ou perigo).
Contudo, vários adeptos do FCP, ao verem a equipa encolher-se demasiado nos últimos 5 minutos de jogo, o que já havia feito no jogo anterior com os resultados que se conhecem, e ao não revelar capacidade para ter e assumir a bola, manifestaram o seu desagrado, assobiando a equipa.
Mesmo que não o faça por entender que isso tem o efeito contrário como seja o de intranquilizar (ainda mais) a equipa e servir como estímulo adicional para o adversário, respeito aquela manifestação legítima de desagrado dos sócios do FC do Porto.
Em boa verdade, o FC do Porto que eu conheço sempre foi assim.
Exigente, muito exigente, intolerante, até, com quem se encolhe e revela medo ou não se assume dentro do campo mas que também premeia e valoriza como ninguém o esforço, a abnegação, a coragem e o arrojo.
Por isso é que para nós, um carrinho, por vezes, é festejado como se de um golo se tratasse.
No FC do Porto, mesmo sob a veste de um fato de gala não pode, nunca, deixar de haver o espírito humilde e de trabalho de quem enverga um fato de macaco.
Isto é o FC do Porto.
Não foram viúvas, casados ou solteiros, a assobiar a equipa do FC do Porto nos últimos minutos do jogo, foram sócios do FC do Porto que o fizeram de uma forma espontânea e não organizada.
Se é um facto que nos últimos 7 anos essa intolerância vinda das bancadas foi menos expressiva e sentida, tal, creio, deve-se ao facto de se ter conquistado um enorme capital de crédito com a prestação e os resultados naquele ano atípico inicial e com os campeonatos que vieram depois a ser conquistados ano sim, ano não.
Claro que Vítor Bruno também podia vender melhor a sua imagem junto da massa adepta do FC do Porto, assumindo um discurso mais galvanizador para fora, batendo algumas vezes no peito ou festejando, eufórico, uma vitória do FCP junto dos adeptos, como fez Bruno Lage recentemente ao chegar ao Benfica, mas são estilos e cada um tem o seu.
A massa adepta do FC do Porto deve estar, incondicionalmente, com a equipa e o seu treinador pois, não obstante estarmos a lutar com armas desiguais face aos principais rivais e termos perdido muitos jogadores com enorme peso no campo e no balneário, o trajecto que a equipa tem feito no campeonato é, praticamente, irrepreensível e está à altura dos pergaminhos do clube.
Para além disso, o FC do Porto está a construir uma equipa com muita gente nova e a procurar crescer em cima dos erros que comete, tendo sido já visível no último jogo uma maior consistência defensiva e uma correção de erros de posicionamento que tanto nos penalizaram em jogos anteriores (ainda assim urge ser mais agressivo a atacar a bola nos lances de bola parada e procurar ter, como já sucedeu há algum tempo atrás, mais paciência com bola ao invés de se procurar a profundidade sem qualquer critério).
Os assobios são legítimos e os sócios do FC do Porto têm total liberdade para se manifestarem como entenderem mas fará sentido acrescentar entropias e dificuldades àquilo que já se afigura como uma tarefa hercúlea?
2. André Villas Boas cometeu um erro esta semana ao passar cartão às inscrições de protesto feitas nas paredes das imediações do Dragão por alguém que ainda não se conformou com os resultados eleitorais de 27 de Abril.
O caso não o justificava e a sua importância ainda menos tanto mais que se cada um que se revê no trabalho da actual Direção tivesse que inscrever uma mensagem de apoio, teríamos de construir um muro em torno da cidade do Porto.
Há quem ainda não consiga encarar um FC Porto sem Pinto da Costa, tal era o culto da personalidade que cultivavam, e mostre resistência em estar de corpo e alma com o clube, aproveitando qualquer momento menos bom para apoucar quem dirige os destinos do FC Porto.
É inegável que o FC Porto ficou mais fraco com o fim do mercado de Janeiro e que a luta pelo título parece ser cada vez mais uma miragem, mas aproveitemos os próximos meses pela frente para trabalhar as novas ideias do treinador, fazer crescer os jovens jogadores do plantel e lutar pelo acesso à tão importante Champions League.
Se no FC Porto não há anos zero, este será o ano zero de Martin Anselmi que deverá lançar as bases para termos um FC Porto competente e muito melhor preparado no futuro.
O tempo que avaliará Anselmi não é o tempo dos adeptos que exigem respostas imediatas em campo e resultados desportivos à altura dos pergaminhos do FC Porto.
Perante este cenário grotesco, que permite perceber melhor como é que uns iam enriquecendo enquanto o clube ficava cada vez mais perto do abismo financeiro, não é possível nem aceitável que não se extraiam consequências desta auditoria. Só assim estaremos a ser implacáveis com quem tiver lesado o FC Porto.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Queria identificar estes textos por aquilo que, nos dias hoje, é uma mistura de radicalização à direita e muita, muita, muita ignorância que acha que tudo é "comunista"